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— Anita como vocês se conheceram? — Rioston pergunta enquanto dirige até a empresa que Sérgio trabalha.

— Na Universidade. — Ela olha para fora do carro.

— Só isso? Não tem mais nada?

— Não gostei da brincadeira do policial. — A moça fala cruzando os braços e puxando as duas pernas para baixo do quadril, ficando na posição de meditação.

— Não acredito que você está chateada com a brincadeira do guarda de trânsito... Ele apenas falou o que viu! E o pior que só sei falar gesticulando.

— Então Rioston, diga-me o que foi que ele viu? — Anita olha-o seriamente.

— Anita ele nos viu discutindo. Nós estávamos brigando, falando alto, e isso chamou sua atenção. E discutíamos por que você não se lembra de nada.

— Eu não curti o comentário machista dele. — Rioston volta a olhar para ela, deixando de prestar atenção à estrada. Depois de um leve sorriso pergunta:

— E você é formada em que? — Rioston tenta puxar outro assunto. Sua paciência está no limite.

— Eu sou formada em Administração e o Sérgio em Economia. A primeira vez que o vi, foi chegando atrasado na sala de aula.

— Amor à primeira vista? — Ele desacelera o carro para entrar à esquerda.

— Não. Quando o conheci, ele era muito pernóstico. Com o tempo mudou. Mas no início, Sérgio pensava que ele tava certo e todo mundo errado.

— Como ele é?

— Ele é loiro. Olhos verdes. Corpo atlético. Trabalhador. Ciumento. — Anita vai misturando a aparência do marido com suas qualidades.

— E seu filho?

— Jordan é lindo. Os cabelos pretos iguais ao meus. Um doce de criança. Inteligente! Começou a andar com menos de um ano. Ele deve está grande, quase um adolescente.

— Com quantos anos ele estava, quando você... — Rioston quase diz "abandonou", mas muda a palavra no último instante. — saiu de casa?

— Jordan estava com cinco anos. Será que ele vai lembrar-se de mim?

— Lógico! Você é a mãe dele!

— Mas, fui embora. — A voz fica menos agressiva, tornando-se mais reflexiva.

— Ele está com o pai.

— Mas foi abandonado pela mãe. Você, no seu interior deve está se perguntando: "Que raios de mãe abandona o filho?"

— Não vai por esse caminho. Você não sabe o que estou pensando.

— Sim, — Anita abaixa a cabeça e uma lágrima desce pelo rosto. — E desculpa ter sido rude com você que é a única pessoa que vê a minha dor e está me ajudando. Estamos indo para onde mesmo? — As sobrancelhas de Rioston saltam para cima.

— Para fábrica da Coca-Cola. Sérgio trabalha lá, acho eu. Qual a profissão dele?

— Administrador. Mas, começou como propagandista dirigindo moto... Acho que o nome da função é essa.

Rioston presta atenção na resposta de Anita, e lembra-se que ela havia dito que os dois são cariocas que moram em Pernambuco.

Esses descompassos na lembrança dela, o deixa com mais certeza que ela sofre de algum distúrbio psicológico, nada grave porém que deve ter impacto direto na sua memória recente.

— Ele se formou em Administração? — Rioston faz a pergunta para ter certeza que está ouvindo bem.

— Foi estudando e sendo promovido. Hoje está como Gerente de Marketing. — Anita não percebe Rioston olhando-a com desconfiança. Ele, joga a seta para direita e corta um carro branco da marca Ford.

— Anita, então quando vocês vieram para Recife, ele já estava formado e trabalhando na Coca-Cola?

— Acho que sim. — Ela responde devagar... Não tendo certeza. Rioston aproveita para uma nova pergunta:

— Mas, você me disse que ele veio para trabalhar na SUAPE, e como foi parar na Coca-Cola.

— Por que não vai direto ao assunto e pergunta com objetividade. Todas essas perguntas só deixam-me mais angustiada.

Silêncio dentro do carro.

— Rioston, há muita confusão na minha cabeça. Eu lembro de certas coisas e outras não... E as que lembro podem ser lapso do que não existe.

— Anita, depois que passarmos por tudo isso, sugiro você ir a um médico... Eu tenho um amigo neurologista muito bom. É o que vem me ajudando. Logo após o acidente eu fiquei vivendo numa realidade alternativa, vamos dizer assim.

— Continua? — Anita pergunta prendendo o cabelo por trás das orelhas.

— Continua o que?

— Se você continua tendo alucinações?

— Ah, sim. Digo não! Ele receitou uma medicação, a tomo todas as manhãs quando acordo. Graças a Deus não tenho mais.

Novamente um silêncio dentro do carro incomoda aos dois.

— O que mais está te incomodando, além do fato de achar que sou louca? E estou sendo sincera quando digo que não gostei da sua brincadeira com o policiai.

Rioston olha surpreso para Anita... balança a cabeça negativamente e sorrir.

— Anita vamos voltar para esse assunto novamente? Se vai te ajudar a esquecer esse assunto um pedido de desculpas, então aí vai: desculpa.

— A culpa sempre é da mulher numa discussão? — Rioston estava desacostumado com essas idas e vindas de uma conversa... faz mais de dois ano que não discute nada com ninguém.

Ele suspira e fica calado.

— Vocês homens são todos iguais! A qualquer circunstância de atrito, vocês se fecham iguais uma concha.

— Anita, eu estou nessa para te ajudar e não para ajudá-la a ver algo de bom nos homens. O problema é seu se pensa assim.

— Grosso.

— Obrigado. E não fico incomodado ou chateado com suas observações, na verdade não ligo. Não dou a mínima.

— Obrigado pela sua sinceridade. — Anita cruza os braços. Fecha os olhos e faz uma oração pedindo calma. Rioston balança negativamente a cabeça.

— Estamos chegando na Coca Cola. — Avisa o rapaz.

Rioston estaciona, vai até a portaria da fábrica.

O portão abre e ele entra.

Anita fica dentro do carro. Rioston e o vigilante conversam por mais de vinte minutos.

BORBOLETA PRETA - COMPLETO - Lançado 14/02/2019Onde histórias criam vida. Descubra agora