Sigo descendo com os olhos fechados. Não consigo abri-los. A água morna que cobria meu corpo, agora leva-me para um lugar que não sei aonde fica. Apenas sinto seu sabor! É água doce! Igual a água de rio.
Meu corpo move-se como se estivesse seguindo por uma cordilheira, mexendo-se de um lado para outro.
Como quem sai de dentro de um cano, sou ejetado para longe e continuo caindo ainda mais.
Meu coração acelera, porque uma queda da altura que acho que estou caindo, não vai sobrar nada de mim.
Porém, será que estou sonhando? Morto? Ou nenhum e nem outro?
Sou parado por uma corrente de ar quente e vou descendo, porém não consigo enxergar mais nada em volta.
Abro os olhos e estou numa sala escura. Não tenho como dimensionar o lugar. Sinto que é um quarto. Pelo menos é essa a impressão. Penso assim, porque minha mente sugere que seja isso, embora não sei onde estou ou que lugar é este.
Um calafrio percorre meu corpo. Estou nu. Agora sinto uma presença maligna me cercando... Embora não apareça, eu sinto sua respiração de hálito podre.
Movo-me para trás procurando topar em alguma coisa. Talvez numa parede. Nada! As trevas são densas e me sufocam.Grito!
Nada!
Não sai um único som da minha boca para reverberar!
Não existe eco.
Não há luz.
Só essa presença que sufoca e que cada vez cerca-me mais. Agora posso sentir o cheiro podre que exala dela.
A verdade é que não sei se estou com os olhos abertos ou fechados. O breu é total!
A presença está mais perto.
O hálito dela, ouriça meus pelos deixando-me confuso e sinto uma leve tontura.
Não posso desmaiar!
— Rioston! Atento! — Grito tentando me escutar, mas a minha voz é sufocada pelas trevas. Na verdade, a minha voz se perde pelos pesados corredores da escuridão.
Eu tropeço e caio.
Não há nada no chão, mas a pungência da maledicência que me cerca, faz com que sente no chão gelado. Fico parado. Quieto. Silêncio.
Jogo-me para o lado esquerdo. Sentir algo roçar na minha perna, e entalado pelas trevas, não consigo gritar! A dor da queimadura também me sufoca! A presença me queimou!
Pensamentos de morte me cercam. Sim... Sinto que vou morrer. Mas como pode ser isso? Se estou morto, como posso pensar que vou morrer? Não há outra explicação plausível para o local que estou vivendo.
Eu desci ao inferno? Ele existe? O inferno é isso? A nulidade total do ser humano, onde não sinto a presença de nada ou de ninguém? Apenas esse sentimento de total abandono, e que a qualquer momento serei devorado por uma presença maligna e de hálito podre causando-me dores intermináveis?
Não há mais esperança para minha vida!
Eu morri e vou perecer para sempre nesse local nefasto, podre e cercado das mais densas trevas.
Eu escuto a criatura maligna chamar meu nome. Ele está brincando comigo. Eu sinto-me igual a um rato de laboratório preso num ninho com cobras.
Não há luz.
Não há vida.
Não há escapatória...
Não existe esperança aqui!
Mas, aconteceu alguma coisa... A fera parou de cerca-me!
Há mais alguém aqui... E está ao meu lado. Não o vejo, mas ele está ao meu lado!
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BORBOLETA PRETA - COMPLETO - Lançado 14/02/2019
SpiritualRioston sofre um grave acidente de carro, onde ele morre por mais de 2 minutos. Nesse período de EQM (Experiência Quase Morte) ele volta à vida diferente de como saiu dela. É nesse mundo conturbado, cheio de remorso e culpa que Rioston encon...