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— Eu estou tão ansiosa Jana. — Anita enquanto conversa com Janaína, prova o vestido de casamento. — Nunca me imaginei assim, nervosa e ansiosa por que vou casar.

Janaína está sentada passando as páginas de uma revista de moda, enquanto escuta a amiga.

— Obrigado por mostrar tanto interesse na minha conversa. — A costureira mostra um sorrisinho pelo lado da boca.

— Miga sabe o que é? É a décima centésima da milésima vez que você fala isso. — Janaína passa mais uma página. — E se tivesse saco, os dois já estariam cheios.

— Como você é horrível! Eu aqui, nervosa... Logo mais estarei me casando, e você sem paciência nenhuma comigo.

— Anita, você parece que engordou mais um pouco ou é impressão? — Pergunta a costureira.

— Dona Maria, eu engordei mais um pouco sim. Acho que Sérgio acertou na veia.

— E ela vai engordar ainda mais! — Janaína faz o sinal de uma barriga cheia, e joga a revista para o lado.

— Eu estou grávida. Dois meses.

— Parabéns!

— Obrigada! Eu estou tão feliz! — Anita passa suas duas mãos pela barriga.

Janaína sorrir com os olhos, ao presenciar a felicidade estampada no rosto da amiga.

Passadas algumas horas, e as duas já sentadas num Bistrô Café, esperando o chá da tarde, Janaína pergunta:

— Anita eu estou muito, mas muito feliz por você. — Janaína segura nas mãos da amiga. — Porém, você ainda não contou nada para Sérgio.

— É verdade, eu sei. — Anita suspira. — Jana e o pior é que não sei por onde começar.

— Comece pelo início. Conte tudo, mas não se case sem ele saber... Eu tenho certeza que Sérgio vai entender.

— Será Jana? Eu tenho minhas dúvidas.

— Ele te ama. Eu tenho certeza disso!

— Eu não tenho dúvidas disso!

— O que falta então? Coragem?

Anita abaixa seu rosto e suspira. Janaína olha para os lados e continua.

— Ele vai se sentir traído, se algum dia descobrir que você usou drogas ou quando bebe, perde o rumo da vida!

A garçonete chega na mesa, e deixa para Anita uma torta de limão com um café expresso "Vibrante" e para Janaína um bolo de tapioca com um café expresso "Moderado".

— Janaína você sabe da minha história. Conhece todos os pontos e vírgulas da minha vida.

— Sim, e o Sérgio também precisa saber que você ficou hospitalizada. Ele precisa saber que você surtou depois de ter uma crise de ansiedade devido a abstinência do álcool!

— Eu passei quase dois anos internada.

— Sim, é verdade. Mas hoje você está bem. Terminou sua faculdade, vai se casar e ter uma criança linda.

— Jana um filme acaba de passar na minha frente.

— Mas o importante é que você parou!

Janaína não gosta do silêncio que a amiga acaba de fazer, e nem da expressão apática nos olhos.

— Anita, não me olhe assim. Não, não e não. Quando você voltou a usar as porras das drogas?

— Shhhh! Se vai contar para todo mundo, joga no Instagram.

— Eu não acredito! Você estava limpa há três anos! Além do que está grávida de dois meses!

— Eu estava ansiosa! Término de curso, casamento e a gravidez!

— Não venha justificar sua recaída! — Janaína fala com a voz travada e perto de ter um colapso. — Você mais do que ninguém sabe que vibro com suas conquistas, e estava lá com você, todo o tempo. Então não venha joga suas palavras achando que vou ter pena, porque isso não vai acontecer!

Anita afasta o prato com a torta de limão. Janaína suspira forte e deixa os ombros caírem e pergunta:

— Quando você recaiu?

— Quando soube que estava grávida.

— O que você usou?

— Eu quando cheguei em casa, estava tão eufórica... Feliz. Foi aí que pensei que como já estava mais de três anos limpa, não teria problemas em beber um pouco. Fui até a venda que fica na frente do meu prédio e bebi umas seis cervejas na latinha.

É a vez de Janaína afastar o prato que está com o bolo de tapioca. A comida trava na garganta, embora esteja saborosa.

— E o que mais?

— Eu não conseguir ficar somente na cerveja. Meu Deus, como me odeio! Sou muito fraca! Jana eu não posso contar para o Sérgio que sou dependente química! Ele não vai querer mais nada comigo!

— Se ele te ama, como eu sei que ama, ele não vai te deixar. Lógico que filho não segura ninguém, mas não creio que Sérgio seja esse tipo de cara.

Anita segura nas mãos de Janaína.

— Eu preciso que você esteja comigo quando for falar com ele.

Janaína abraça a amiga e as duas choram juntas.

Anita fecha os olhos sentindo o abraço forte e reconfortante da amiga.

Elas não se largam.

Janaína a afasta delicadamente pelo ombro e diz:

— Eu estou com você para o que der e vier. Não se preocupe vamos estar juntas quando formos falar com Sérgio.

— Obrigada. Muito obrigada mesmo.

— Não me agradeça! Não somos irmãs fisicamente, mas somos no plano espiritual.

Anita volta sua atenção para a torta de limão. Janaína afasta-se, enxuga as lágrimas da amiga com o guardanapo de pano e logo em seguida enxuga as suas lágrimas.

O telefone toca.

— É Sérgio quem está me ligando.

Janaína pousa sua mão esquerda no ombro de Anita.

— Não tenha medo, vamos conseguir contar tudo.

BORBOLETA PRETA - COMPLETO - Lançado 14/02/2019Onde histórias criam vida. Descubra agora