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— Eu sei amigo. A paz que excede todo conhecimento, é essa que você está sentindo.

— Alegre, como você chegou aqui?

— Da mesma forma que você, pela travessia. — Os dois sentam embaixo do pé de cajú.

— Eu me sinto muito feliz aqui... pode ser a natureza e coisa e tal, mas a verdade é que nunca me senti assim: realizado. — Rioston fecha os olhos sentindo uma leve brisa. Alegre o acompanha fechando os olhos.

— Rioston, — Alegre abre os olhos e sorri para o rapaz. — Não é somente por causa da natureza. O que lhe traz essa felicidade é o sentir-se amado. Respeitado pelo que você é.

— Eu estou vendo pessoas mais adiante... Não posso ir ao encontro delas? — Rioston pergunta sem deixar de olhá-las.

— Isso mesmo não pode... Somente quando chegar seu momento de ficar aqui.

— E esse som. As árvores estão realmente cantando.

— E por que não cantariam? Aqui todo ser vivo é livre da maldade do ser humano. A natureza é feliz. Os animais andam junto e coabitam conosco.

— E por que estou me sentindo tão bem? É o ar puro? Sei que pareço repetir, mas é assim que me sinto: Um com o todo.

— Olhe para toda essa imensidão verde. — Rioston acompanha até onde alcança sua visão. — A natureza não te julga.

— Não entendi.

— Qual o cheiro que você está sentido?

Rioston olha desconfiado para Alegre.

— Eu estou sentindo cheiro de terra molhada, do orvalho e do Caju.

Alegre fecha os olhos e pede para Rioston fazer o mesmo.

— Você consegue sentir a brisa... Não abra os olhos ainda. — Adverte o homem de cabelos escuros e longos.

— Sim... E sinto perfeitamente, parecendo um bálsamo.

— Rioston, a natureza tem em si mesma, agentes que trazem bem-estar ao homem. — Alegre abre os olhos ao terminar a frase.

— É, esse sempre foi meu motivo de sair da cidade grande e procurar morar o mais próximo possível a natureza.

— Verdade, e qual a primeira palavra que vem à sua cabeça?

— Liberdade.

— Você sabe o porquê da liberdade ser a primeira palavra que vem à sua cabeça?

Rioston sem responder, se lembra da sensação de "pegar uma onda", sentir o cheiro do mar e a brisa salgada lhe enchendo de felicidade. Depois, voltar a olhar para Alegre.

— Vejo que as lembranças do surf vieram com força total, — Rioston balança positivamente a cabeça sorrindo. — e produzindo uma sensação única de bem-estar.

— É verdade. Mas isso é normal?

— Por que não seria normal? Rioston responda-me com sinceridade: Quantos impostores diferentes você viveu enquanto morava na cidade de pedras?

Alegre abaixa-se e pega com a mão um punhado de areia e gramas.

— Nós sentimos a liberdade diante da natureza, por que ela não nos julga. Diante dela, nós somos nós mesmo. Não precisamos ser varias pessoas a cada instante, agradando a um e a outro.

— Sim, verdade. Quantas vezes eu fui uma pessoa que não era. Eu me incomodo com o que pensam sobre mim. Porém, quando chego na minha casa de praia, pego minha prancha e sigo para o mar, um mundo novo e cheio de felicidade toma conta de minha vida.

— A natureza tem o poder de  colocar-nos no centro de nós mesmos, sem jogar o dedo áspero da acusação. Ela nos deixa livre. Não precisamos está bem vestidos, ou bem perfumados para ser aceito. Não somos impostores diante dela.

Rioston começa a pensar na quantidade de vezes que usou máscaras e mentiu para agradar as pessoas. Porém a pior de todas as mentiras foi a que mentiu para si mesmo! Alegre interrompe o devaneio do rapaz:

— A natureza nos recebe do jeito que somos. É por isso que o mestre, quando precisava pensar ele escolhia está entre a natureza.

— Mestre? De qual mestre estamos falando? — Rioston pergunta como quem acorda de um sonho.

— Jesus Cristo.

BORBOLETA PRETA - COMPLETO - Lançado 14/02/2019Onde histórias criam vida. Descubra agora