Cap. 06 - Sem Perguntas!

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Ada e Leon chegaram á delegacia bem cedo, o agente folheava o laudo técnico do acidente, e a espiã lia o laudo médico do casal Kennedy.
"- Nenhuma substância psicotrópica no sangue, e não há qualquer outro sinal de causa mortis a não ser o poli trauma devido a batida.".
"- Deixe-me ver.". - Ele pediu.
"- Tem certeza?". - Ada olhou surpresa, não eram só resultados de exames de sangue e lâminas de tecidos... Ali continham fotos detalhadas dos corpos. Leon hesitou. E após um longo suspiro...
"- Tudo bem, não se preocupe. Em situações normais eu recusaria, mas há muito tempo a minha vida não é mais normal, eu quero ver pessoalmente.".
Trocaram os papéis. Agora Ada tinha acesso ao laudo técnico do acidente. Fotos do carro, vistoria das peças, fotos das câmeras de segurança do local... E lá estava, um animal cruzando a pista. Uma raposa de porte médio o motorista ao tentar desviar acaba perdendo o controle do carro e caindo ladeira a baixo.
De tempos em tempos a espiã olhava disfarçadamente para o agente que estava compenetrado com a papelada do laudo médico. Não parecia chocado ou enjoado. Apenas ultra-concentrado, como quem não pudesse perder um único detalhe.
"- Não parece ter nenhum tipo de sabotagem no carro, e a gravação daquela raposa...".
"- Eu vou checar isso pessoalmente.". - Disse ele pegando a jaqueta de couro que estava em cima da mesa. - "- Você vem?".
Por um momento, Ada quis pedir que ele parasse. Ela era uma espiã experiente, e com um faro sem igual para identificar algo suspeito, ele precisava acreditar, ela sabe de longe quando um acidente foi apenas um acidente. Mas por outro lado entendia que provavelmente no fundo, lá no fundo, ele sabia disso, mas precisava esmiuçar até o último grão de areia de toda essa história, como uma maneira de se perdoar, de dizer a si mesmo que nada disso foi sua culpa, que não foi o trabalho dele que provocou a morte de seus pais.
"- Claro.".

(...)

Debaixo da destruída armação de ferro, Leon se contorcia para tentar enxergar cada peça inteira ou destroçada.
"- Ada, me dá uma mão, aqui...".
"- Sim?".
"- Eu preciso de uma lanterna, ou algo do tipo...".
A espiã tinha uma pequena caneta com uma lanterna na ponta que a primeira vista, ninguém acreditaria que possui uma luz tão forte. Ela a entregou para o agente, e esperou.
"- Ada... Você pode me puxar daqui, por favor?".
O skate rolou para fora da armação de ferro carregando o corpo de Leon consigo.
"- Achou alguma coisa?".
"- Não.". - Leon já percebeu que Ada estava fazendo um esforço sobre humano para parecer paciente, era mais do que óbvio que ela acreditava que não encontraria nada ali. - "- Mas eu vou dar uma olhada no local do acidente, e então, tudo estará acabado... Eu prometo.".
"- Não se preocupe comigo. Eu confio na sua perícia, Leon. Você pode ir e eu fico aqui arrumando tudo e devolvendo os papéis para os arquivos.".
Agora sim Leon teve uma confirmação. Ela definitivamente não acredita que há algo estranho ou sombrio por trás da morte de seus pais... Ada Wong já encerrou seu caso e não verificaria mais nada. Teria sorte se quando voltasse, ela ainda não tenha ido embora.
"- Esta bem.". - Ele respondeu um pouco desapontado.
Ada já caminhava em direção a porta oposta a de Leon, quando o loiro a chamou.
"- Por favor... Eu estou sem carro.".
"- Claro, Bonitão. Pega!". - Jogou-lhe as chaves.
Porém foi agora, ao vê-lo sair sozinho, que pensou melhor... Para quem ficou até agora, o que custava acompanha-lo mais um pouco? Além do mais, teve uma sensação, uma sensação muito estranha e repentina, um aperto no coração dizendo que ela simplesmente deveria estar lá.
Ela correu para fora da delegacia, e ele já estava dentro do carro quando ela gritou. "- Leon! Espera!".

(...)

Era uma linda paisagem, de um lado, um enorme rochedo, do outro um penhasco. Lá em baixo um vale com um maravilhoso lago. Havia muitas placas sinalizando o perigo das curvas sinuosas.
"- É lindo não é?". - Ele começou. - "- Eu cresci pescando naquele lago. Meu pai me ensinou a atirar ali naquele vale. Eram muitos coelhos, patos e cervos...".
"- Estou chocada! Você caçava animaizinhos fofos e inocentes, bom mocinho?". - Disse irônica.
"- Claro! Todo feriado a minha mãe preparava a nossa caçada. Era coelho, pato, cervo, porco do mato... Ensopado ou assado com geleia de hortelã. Nós podemos tentar algum dia se você quiser.". - Ele riu.
"- Eu sei que isso soa estranho para você, principalmente porque você sabe o meu trabalho. Mas eu passo a oferta. Eu não me imagino escalpelando e desviscerando um porco ou um cervo muito embora a parte de abatê-lo com um tiro me pareça divertido.".
"- Não se preocupe. Isso é serviço de homem. Eu mato e te entrego ele limpinho. A sua parte é esperar na cozinha e fazer o meu jantar.". - Leon segurou forte sua enorme vontade de gargalhar.
Os olhinhos bem puxados e esverdeados de Ada se abriram bem mais do que o normal, seu queixo caiu em sinal de protesto por alguns segundos. Depois ela apenas suspirou e revirou os olhos.
"- Senhor Kennedy, quando nós descermos desse carro, é cada um com a sua pistola, lá fora, você e eu. E quando eu estourar os seus dois joelhos antes de você terminar de contar o "três", eu vou te mostrar o que é um serviço de homem.". - Disse calmamente.
"- Ui, que medo, ela tá brava!". - Leon se divertia e gargalhava com o fato de ter conseguido divertir a antes entediada Ada Wong, foi uma fração de segundos em que ele deixou de olhar a pista para focar no belo rosto da mulher ao seu lado, e foi nessa fração de segundos que do nada, algo ou alguém cruzou o seu caminho.
"- LEON!".
Os reflexos de Ada eram bons o suficiente para ver que Leon foi descuidado o suficiente para desviar de uma raposa, mesmo no meio de uma curva e em alta velocidade, o carro sairia da pista diretamente para o penhasco. Não é o politicamente correto, porém foi sua sorte estar sem cinto de segurança, foi o que a possibilitou pular contra o volante e puxá-lo para o lado oposto com toda a força.
Leon sentiu o corpo de Ada bater violentamente contra o seu à medida que o carro girava em sentido anti-horário, teve algum reflexo para tentar pisar no freio, o que parece ter sido outra atitude não muito inteligente agora... A dupla ouviu os pneus cantarem alto enquanto eles não tinham controle sobre os próprios corpos que eram fortemente afetados pela inércia.
"- VAI CAPOTAR!". - Ele gritou antes de ter seu corpo bruscamente puxado para fora do carro e depois chocado violentamente contra o chão. O vapor quente e o barulho de uma explosão que veio após o deixou atordoado por alguns segundos. Conforme foi voltando a si percebeu que havia caído sobre o corpo de Ada. Ela tinha sua Grapple Gun empunhada e ela os puxou para fora a tempo.
"- Ada... Ada... Você está bem?". - Leon não teve tempo de ver se ele mesmo estava bem ou não, seu corpo tremia de medo por que não viu qualquer reação do corpo por baixo do seu. - "- Ada!".
"- Uhgh... Leon...".
"- Ada me responde!".
"- Sai... De cima... De mim.".
Ele saiu imediatamente e então à espiã inspirou e expirou longamente. Alguns minutos se passaram em silêncio, conforme eles se levantavam do chão e percebiam melhor o que acabou de acontecer ali. Não demorou muito até que finalmente, Leon viu, pela primeira vez, depois de anos, Ada Wong sair do sério.
"- Você perdeu completamente a cabeça?". - Ela repreendeu severamente. - "- O que você pensa que está fazendo? Onde aprendeu a dirigir assim? Caçar um animal a tiros, okay, e depois quase nos matar por causa de uma raposa estúpida, você tem a lógica de um molusco! Comeu merda hoje? Foi isso?".
Leon estava apavorado, a manga da blusa de seda de Ada estava rasgada, ele quis chegar perto para ver se ela estava machucada.
"- Não chega perto de mim!". - Deu um tapa forte na mão do loiro. - "- Seu pirado! Deviam apreender a sua carteira! Olha o que você fez com o meu carro, você acha que espiões tem seguro? Seu idiota! Não sei como te colocaram como agente secreto, você não passaria num psicotécnico para chimpanzés! Um chimpanzé já conseguiu ir ao espaço, você explodiria a nave antes de decolar!".
"- Dá para você calar a boca!". - Ele berrou em plenos pulmões e puxou o braço da mulher. - "- Você está sangrando.".
"- E de quem é a culpa?".
"- Psss...". - Ele não prestava atenção na raiva de Ada, que na verdade era mais susto do que outra coisa, ele quase podia escutar o coração dela galopar. Identificou um pequeno corte no cotovelo da chinesa, mas queria olhar cada pedaço do corpo dela, tocar, ter certeza de que estava tudo bem.
Ada sentia a mão do agente ainda tremer em seu corpo, tocando-a, procurando algo, a respiração oscilante dele, o olhar de pânico. Ela também estava apavorado...
"- Se eu não estivesse aqui...". - Ela começou. - "- O que teria acontecido com você se eu não estivesse aqui?".
Os dois mal perceberam quando já estavam abraçados juntos, tentando recuperar o fôlego. E Leon então entendeu tudo o que houve exatamente ali naquela estrada há poucos dias atrás. Algo que lhe trouxe paz de espírito, e forças para continuar.
"Foi um acidente. E eu tenho por quem puxar.".

Leon and Ada Side Story (Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora