Cap. 19 - Terrores do Passado - Parte 1

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Tall Oaks - EUA
26 de Junho de 2013

"- Eu encontrei dois pontos cegos nos fundos da Universidade, três no estacionamento e mais dois no auditório. É assim que vocês pretendem garantir a segurança do Presidente?". - Hunnigan sempre fora paciente, mas instalar todo o equipamento de segurança da Casa Branca naquela velha Universidade, era um atentado ao bom humor de qualquer um. Tudo tinha que estar perfeito, o posicionamento das câmeras de vigilância, assim como os pontos de captação para monitoração via satélite.
Não muito longe dali, Leon lutava contra a velha máquina de refrigerantes. Depois de dois socos e um chute, finalmente conseguiu o seu bem açucarado refrigerante de cola. Cuidar da segurança do Presidente não era mais a sua função, contudo, o próprio fez questão mais do que absoluta da sua presença naquele evento. Para completar, tinha uma pequena missão, a de avaliar mais dois agentes para a D.S.O., Matias Arquette e Helena Harper, ambos não sabiam que em breve seriam recrutados, muito menos que ele estava lá.
Bebia o refrigerante tranquilamente, enquanto caminhava em direção a bagunça provocada pela aglomeração de agentes federais, analisando o perímetro, combinando táticas, testando pontos eletrônicos, ensaiando procedimentos de evacuação e outros tipos de emergência, de longe, já podia identificar seus dois alvos. Um homem ruivo, na casa dos trinta anos e que parecia ter um jeito descontraído, até mesmo, um pouco arrogante. Ao lado dele, uma jovem muito bonita, mas em trajes simples e sóbrios, expressão séria, impaciente com seus sapatos quase, masculinos... Uma típica ex-agente do FBI.
"- Agente Harper!". - Chamou o supervisor geral da Agência de Segurança, um senhor não muito alta, grisalho e que Leon sempre achou uma cópia fidedigna do Charles Bronson.
"- Sim, Senhor.". - A moça caminhou até ele em passos firmes.
"- Já está a par do seu posicionamento?".
"- Sim, senhor.".
"- Também as ordens e a movimentação de seus parceiros?".
"- Sim, senhor.".
"- Pois bem, então está liberada, te aguardo aqui amanhã durante a tarde para uma reunião privada com o guarda costa do Senhor Presidente. Pode ir para seu hotel, Agente Harper.".
"- Sim, senhor.".
Leon viu a moça desaparecendo no meio da multidão enquanto atendia o celular, ela tinha uma expressão péssima e parecia estar discutindo severamente com alguém. Do outro lado estava Matias, ele sim, era o que parecia mais sociável, e familiarizado com todos ali, como se tivesse certeza que muito em breve, teria posição de destaque no meio de todos os presentes, e não era somente, um cumpridor de ordens.

(...)

"- Você o que?!". - Helena não acreditava no que estava ouvindo.
"- Helena... Eu sei o que você esta pensando, mas... Você nunca vai entender, nós dois temos uma história juntos, e agora ele precisa de mim, eu não estou voltando com ele, eu só vou cuidar dele durante um tempo, ele chegou do hospital e não tem mais ninguém.".
"- Eu sei muito bem que história vocês dois tem juntos. Deborah! Eu vi as marcas dessa história no seu corpo quando te levei para o hospital. Eu cuidei de cada ferida por meses depois! Eu fui te visitar durante todos os meses em que você estava internada se limpando de tudo o que aquele filho da puta te viciou!".
"- Ele não é uma pessoa má. Só teve uma vida muito difícil... E... O que você fez com ele... Eu me sinto responsável..."
"- Cala a boca!". - Por fim, Helena gritou. Estava cansada, cansada de escutar essa mesma conversa de vida difícil para justificar desvios de caráter. Deborah e ela sim, tiveram uma vida difícil. Não se considerava uma santa, e nos seus poucos anos de vida, já fez o suficiente para se envergonhar... Mas "ele"... Aquele canalha que lhe apareceu como cunhado, desempregado, viciado, que viciou e espancava sua irmã... Não, não era igual a ele.
"- Deborah... Você não tem vergonha! Não tem vergonha nessa sua cara! Eu não sei porque eu ainda perco o meu tempo com você, cuidando de você, tentando te livrar das roubadas em que você se mete! Você não passa de uma vadia de malandro exatamente como a nossa mãe!".
Não se escutava mais ninguém do outro lado da linha. As lágrimas rolavam livres pelas bochechas agora vermelhas. Tudo o que queria, desde pequena era fugir de casa, fugir daquela família completamente disfuncional, onde uma mãe passiva e omissa deixava que um pai alcoólatra e violento fizesse o que bem entendesse com ela e a suas duas filhas. Aos treze anos criou coragem para fazer uma denúncia e com isso, ela e Deborah foram mandadas para instituições diferentes. Tudo o que Helena queria era ser forte, forte o bastante para se proteger, para proteger a irmã. Estudou muito, batalhou muito e começou uma carreira ainda bem jovem no FBI. Sentia remorso pela irmã, ela era tão ingênua e frágil, nunca disse como fora sua vida durante o tempo em que estiveram separadas, e já não sabia se foi responsável pelo que Deborah se tornou na vida que levavam com os pais, ou a vida que ela própria, Helena, apresentou quando os denunciou. Queria resgatar o tempo perdido... Queria começar uma vida nova, longe do inferno de suas infâncias... Mas não... Deborah começou o ciclo outra vez, o ciclo que ela, Helena, mesmo ainda tão jovem, tirou forças "nem o Diabo sabe da onde", para romper.
Abandonou seus pais. Talvez, fosse a hora de abandonar Deborah também. Enxugou as lágrimas ainda com as mãos. Detestava ser assim, chorona. Sempre se esforçou muito para ser durona, e ainda se esforça... Porém nunca conseguiu evitar suas explosões de sensibilidade, fosse para o bem, com lágrimas fáceis, ou para o mal, como quando foi suspensa do FBI por surrar um suspeito... Ou quando atirou no cunhado...
Entrou no carro e partiu rumo ao hotel.

Leon and Ada Side Story (Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora