Cap. 16 - Moscou

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Era só mais uma manhã de trabalho na D.S.O., Leon não gostava dos dias entediantes nessa profissão, pensava que talvez tenha se tornado algum tipo de viciado em adrenalina, pois quando estava em missões de campo, amaldiçoava seu emprego e sua sorte, porém, além de nunca pensar em fazer outra coisa da vida, quando se vê em dias como esse, acaba por sentir falta da emoção e da aventura. Leon se espreguiçava na cadeira, tentando se livrar da maldita tensão nos ombros que o incomodava há meses.
Talvez seja apenas o mau humor de costume, que o assola em seu ambiente de trabalho como uma pessoa tranqüila e de fácil trato. Apesar de nunca ter sido grosseiro com ninguém e sempre manter a mesma postura calma, para aqueles que realmente o conheciam, ou que chegavam muito perto. Não podiam deixar de perceber o humor seco e sarcástico, as respostas irônicas em vários momentos importunos, um olhar distante como se sua alma estivesse a quilômetros dali, nunca mais freqüentando as happy hours com os colegas e evitando perguntas de fóco íntimo.
Leon não sabia dizer se seu abandono dessa vez, sem Ada como sua amante, era melhor ou pior do que quando ainda estavam juntos, mas temendo que ela estivesse morta, agora. Por um lado agora é melhor, pois Wesker estava morto, e ela, ao que tudo indica - segundo as últimas notícias - estava viva. Por outro lado suas noites solitárias não eram tão melhores ou menos assustadoras. As suas miseráveis noites de bebedeira, na tentativa de dormir tão profundamente a ponto de não conseguir mais sonhar.
Os pesadelos não eram mais tão constantes, mas ainda vinham. E eram repetitivos, extremamente reais, desde lembranças vividas com seus momentos junto a ela em Raccon City, quando ele não era nada além de um jovem e ingênuo, que acabou de conhecer a mulher mais incrível que um dia poderia sonhar em conhecer, revivendo sentimentos como paixão, interesse, traição, horror... Desde ser novamente um policial tentando protegê-la, completamente inocente de quem ela realmente era. Até o de tê-la novamente "morta" em seus braços depois de confessar que se apaixonou por ele. De reviver em cada pesadelo assim, o primeiro beijo que trocaram e o mesmo desespero de tê-la perdido. Fora os inúmeros outros pesadelos, em que apenas recebia a notícia de que Ada Wong foi morta em missão, foi capturada, foi presa e condenada à morte...
O agente nunca entendeu esse sentimento, sempre se perguntou e por muitas vezes logo após Raccon City, até pensou em procurar ajuda profissional. Por que a morte de uma mulher que havia conhecido por algumas horas, doeu tanto? Como uma paixão pôde ter crescido de maneira desgovernada num espaço tão curto de tempo? Leon sempre buscou ser uma pessoa racional e contida, nunca acreditaria que um dia seria vítima de um sentimento assim, tão inexplicável. Não chegaram a ser amantes, trocaram um único beijo... E ele já estava traumatizado como um viúvo. E o que é pior, ele não foi o único. A mesma armadilha também pegou a toda poderosa Ada Wong, que segundo ela própria, nunca se importou com ninguém até então. Uma espiã treinada para ser uma assassina e ladra, fria e calculista. E até mesmo ela, no final "morreu" para salvá-lo, com direito a declaração de amor, lágrimas e beijo de despedida.
Contudo, agora havia outros sonhos, que o assustavam e o destruíam por dentro, tanto quanto os pesadelos, os sonhos que supostamente deveriam ser bons. Quando sonhava que estavam juntos outra vez, ou que acordava com o salto dela em sua varanda, ou que abria os olhos e tinha ela novamente deitada em sua cama. Sonhos em que chega em casa e a escuta cantando no chuveiro, dela abrindo os armários da cozinha e reclamando que não tinha nada para comer, de pedir que ele pare de espalhar as coisas pela casa, de bagunçar a parte dela do armário e que não foi isso que ela pensou para a vida dela. Sonhos em que estavam vivendo juntos, lendo o jornal juntos, de estarem usando alianças de casamento, de abraçá-la por trás enquanto acariciava sua barriga estufada, grávida de uns seis meses. Sonhos quentes em que faziam sexo, ou em que ele chega ao quarto e a vê se arrumando para sair, com seu vestido vermelho, se maquiando, colocando o salto alto, então ele a olha e por algum motivo se sente o miserável mais sortudo do mundo.
Eram sonhos, eram pesadelos, cujo final era sempre o mesmo, acordar sozinho, emplastado em suor, sem ar e segurando o choro. Chegou à conclusão que já chorou demais, o suficiente para aprender como evitar que as lágrimas surjam, ou simplesmente, porque elas já secaram. Hoje, elas não brotam mais, mas o sentimento ainda era o mesmo.
Leon estava perdido em seus pensamentos quando recebeu uma chamada direta de Hunnigan ao telefone.
"- Hunnigan, hoje a sua voz é música para meus ouvidos.".
"- Achei que já era hora de acrescentar algum trabalho nessa sua reputação monótona.".
"- Sim senhora. Em que posso ser útil?".
"- Você lembra daquela jovem agente federal de quem eu te falei?".
"- Hn... Honestamente?".
"- Leon!".
"- Tá... Não precisa ficar nervosa. Eu estou de frente para o computador, me refresque a memória.". - O loiro acessava os arquivos conforme a coordenada de Hunnigan. - "- Oh sim! Agente Harper.". - Leon lembrava vagamente sobre Hunnigan estar monitorando os passos da moça a distância, acreditando ser ela uma jovem talento, com grande potencial e estudando a possibilidade dela ser uma nova recruta do serviço secreto. - "- O que há de novo?".
"- Tivemos alguns problemas... A senhorita Harper não passou em alguns testes, foi considerada com personalidade imprópria para o serviço secreto. E atualmente foi afastada do FBI por tempo indeterminado.".
"- Ah, mas o que essa menina aprontou?". - O loiro verificou novamente seus arquivos e encontrou relatórios. - "- Agente Helena Harper, suspensa por agressão e insubordinação. Inapta ao serviço secreto devido a personalidade rebelde e histórico de violência. Puxa Ingrid, onde você foi encontrar essa flor de pessoa?".
"- Leon, é mais complicado que isso. Você se lembra da prisão do Brian Green?".
"- O psicopata?".
"- Ele mesmo, foi a Agente Harper, mesmo tão jovem, quem conduziu toda a investigação, perseguição e por fim, efetuou a prisão. Contudo ele não ficou nem um ano preso, acabou saindo em liberdade condicional devido a um acordo onde ele entregou alguns nomes de traficantes importantes de armas, drogas e pessoas. Alguns dias mais tarde, dois policiais que a ajudaram na investigação apareceram mortos, Helena perseguiu Brian sem um mandato de busca e o espancou... Graças a Deus ela foi detida antes de matar o sujeito.".
Leon podia entender, também já foi jovem, também já teve o sangue quente e uma cabeça cheia de ideias sem nenhuma prática. Contudo os anos trabalhando diretamente para o governo o tornaram uma pessoa mais fria, mais ponderada, teve que aprender a se calar, a se fazer de cego de vez em quando, a deixar as emoções de lado quando estava a trabalho, provavelmente tudo o que essa moça ainda não sabe.
"- Eu não entendo, Hunnigan. Onde você quer chegar? Você sabe que esse tipo de comportamento não é aceito, e ao que tudo indica, ela realmente não tem o perfil para esse tipo de trabalho.".
"- Você sabe que está difícil recrutar novos agentes, de bom caráter e que não deixem se corromper. Se nós não começarmos a aceitar um delito ou outro... Muito em breve seremos só você e eu.".
"- Hmmm...".
"- Leon... É sério!".
"- Certo, se você acha que essa menina vale a pena, então eu confio em você. Nem vou checar, é por sua conta. Se vira. Até porque eu ainda tenho que ir para casa e fazer as minhas malas, eu devo estar em Moscou amanhã.".
"- De qualquer maneira eu preciso de um relatório seu dizendo que concorda comigo e que ela seja recrutada para o serviço secreto. Por favor não me faça telefonar para Moscou só para te lembrar.".
Leon sorriu antes de desligar. Pobre Hunnigan, já o agüentava há muito tempo... Talvez fosse à hora de pedir algo que nunca ousou pedir, há mais de dez anos a serviço do governo: Férias.
Há rumores sobre o uso de armas bio-orgânicas na Europa Ocidental, com o fim do comunismo e a emancipação de vários pequenos países antes pertencentes à União Soviética, uma onda de conflitos entre classes surgiu na região, e ao que tudo indica, a coisa saiu do controle. B.O.W's sendo vendidas no mercado negro, e agora usadas por rebeldes em guerra civis. O governo dos Estados Unidos, agora aliado ao governo Russo, estudam uma maneira de conter os rebeldes, provavelmente será necessário uma invasão, contudo, toda a ação deve ser negociada com outros lideres mundiais, chefes de segurança e membros da ONU. De qualquer maneira, isso é trabalho para a B.S.A.A.. Não para a D.S.O.. Poderia ter o seu merecido descanso.
Sentia falta de se encontrar com Sherry, e fazerem alguma coisa juntos. Era sua única programação rotineira. Mas o que tudo indica, parece que ela realmente cresceu, e agora com Albert Wesker morto, ela não para mais quieta em casa. Novos horizontes, novos amigos... E pelo visto, perdeu todo o interesse nele também. Claire tinha razão, era só uma paixonite adolescente que se prolongou um pouco, nada mais.
Sendo assim, só restava ir para casa e arrumar suas coisas para a viagem.

Leon and Ada Side Story (Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora