Capítulo 2 Depois da entrevista

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Chega a segunda feira, Eu levanto todo sonolento, meu pai me chama para me dar mais um sermão, me diz o quanto fui irresponsável de falar da intimidade da minha irmã na frente estranhos, e falou que eu tinha que proteger ela, por ela ser  uma garota e eu... –Pera aí pai, ela é uma feminista.− Feministas não precisam de proteção de homem ou pelo menos dizem que não. Ele me diz.

– Filho entenda, os homens e mulheres tem visões diferentes sobre o mundo e sobre a vida. Precisamos saber ou pelo menos tentar compreende-las, e devemos respeitar o ponto de vista delas.− Sua irmã e sua mãe não pensam como eu, ou como você, para elas sexo precisa de amor, sentimento, companheirismo, e não pode ser tratado como uma simples diversão para aliviar o tesão.

−Mas pai, as garotas que eu pego não pensam assim.

−Todas?

−Bem, nem todas, algumas, eu...

− Algumas você tem que enganar né? Dizer que está apaixonado, que está a fim de namorar ou coisa assim. Eu já tive a tua idade, fiz muito isso, mas hoje compreendo que não é honesto da nossa parte, mentir apenas para levar uma garota para cama, já é hora de você amadurecer, pensar um pouco no sofrimento que esse comportamento pode provocar na outra pessoa.

Eu não gostei desta conversa, mas prometi respeitar a minha irmã e sua chatice, ou melhor a maneira dela de ver o mundo. Acho que isso satisfez meu, pai, ele então disse o quanto nos amava da mesma intensidade e eu finge acreditar para deixá-lo feliz.

Passada a muvuca tínhamos que continuar nossas vidas. Na segunda feira Aline tinha uma entrevista de emprego agendada, meu pai exigiu que eu a acompanhasse. Então fui eu no coletivo, sentado ao lado de minha querida irmã, com aquela cara "linda e sorridente" para mim. Ela entra no escritório da empresa, eu permaneço do lado de fora, sentando em um banco, uma mulher se aproxima de mim. Ela usava um vestido todo colorido, tinha tranças no cabelo e brincos enormes. Era uma cigana, daquelas que a gente costuma ver nos filmes e nas novelas e as vezes encontra pelas ruas se oferecendo para lera a sorte, fazer pequenos feitiços entre outros trambiques.

−Posso ler a sua mão moço?

−Não obrigado.

−Não vai custar nada, posso ver o seu futuro?

Eu não caio na lábia dessa gente, fechei a cara e a mandei passear – Vai procurar o que fazer tia, não acredito em adivinhações. Ela me olhou furiosa, mas afastou-se.

Eu fui então saciar minha fome numa barraquinha de cachorro quente. Hum... estava uma delícia! Comi um e pedi outro. Enquanto isso Aline termina a entrevista e na saída é abordada pela mesma cigana, que pede para ler a sua mão. Seu eu não gosto dessas pessoas, a minha irmã muito menos. Aline começa a discutir com a cigana, que a puxa pelo braço, isso me irritou, como disse, eu e minha irmã somos unidos quando vemos um dos dois sobe algum tipo de ameaça.

Aline dá um tapa na mão da cigana e a empurra, ela se põe em posição altiva começa a falar.

−Moça grosseira, não precisa me empurrar, eu só queria ler a sua sorte.

Eu tomo a frente e peito a cigana. – Caia fora tia, você é mesmo inoportuna. Ela me ameaça pôr o dedo no meu nariz, então a empurro e jogo meu cachorro quente na cara dela. A cigana parece ficar transtornada, pega um tipo de amuleto e aponta para a gente, começa a pronunciar palavras indecifráveis, eu não entendia, nada, mas julguei que era algum tipo de feitiço, aí debochei mesmo dela, mostrei a língua. Aline me puxou pelo braço, mandou a cigana pedalar, ela ficou mais furiosa, e disse, amanhã vocês irão se arrepender e vão me procurar para me pedir perdão. – Caímos em gargalhadas por alguns minutos, depois fomos para casa.

De um ponto foi bom a discussão com a cigana. Esquecemos a briga do fim de semana e voltamos a conversar, Aline parecia estar contente e confiante que a entrevista do emprego tinha sido satisfatória. –Vou fazer um currículo para você, já está na hora da gente começar a batalhar nossa independência. Disse ela. Respondo prontamente:

−E sou um atleta. − Semana que vem irei passar por uma peneira, vou ser um grande jogador de futebol.

− Alan, você já passou por várias peneiras, acho que você não dá para futebol profissional, jogar no time da vila é uma coisa, ir para um clube da liga principal é outra, é diferente. Melhor prestar vestibular ou fazer um curso técnico.

Isso doeu na minha alma, minha irmã sabe mesmo desanimar alguém. Isso não se diz, sendo ou não verdade.

−Eu não quero viver num escritório. −Eu quero ser jogador de futebol, sempre fui atleta, jogo muita bola. nado bem e luto boxe tailandês.

Ela fez cara de desdém e foi para o seu quarto, enquanto eu fiquei a me remoer de raiva, fui assistir televisão para me acalmar. Depois de assistir dois episódios de Game of Thrones, eu adormeci e tive um sonho esquisito com aquela cigana. Ela me dizia palavras sem nexo e ria de mim e da Aline. Que sonho chato!

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