Capítulo 15 Um novo rumo

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Acertei o que devia na pensão e me dirigi a rodoviária, comprei uma passagem para a capital paulista, ainda me sobrou uma grana que daria para comer um lanche e pagar um taxi da rodoviária em São Paulo até minha casa.

Eu fiquei perambulando pelas redondezas da rodoviária de Rio Preto, até chegar o horário da partida, quando ia entrando no ônibus vi o motorista conferindo a identidade das pessoas, fiquei aflita, com medo de ser barrada e perder a passagem, então abri alguns botões da blusa que estava usando deixando meus seios quase a mostra, quando chegou a minha vez finge estar procurando na bolsa e fiz uma carinha de triste para o motorista, dizendo: Posso te mostrar depois querido? Ele responde: −Claro meu anjo! Com os olhos centrados nos meus peitos. – Incrível, como certos homens se deixam serem feitos de trouxa por uma mulher atraente!

Entro e me acomodo. Um senhor que estava sentado ao meu lado fica me olhando inquieto, aí lembro de fechar a blusa, ele parece se aclamar, eu passo a apreciar a paisagem, quando o ônibus para em um semáforo pouco antes de entrar na rodovia washington Luís, eu avisto.

−Ciganos! Não pode ser! Uma das ciganas me lembrava aquela que me lançou o feitiço, eu nunca esquecera a fisionomia dela.

Se não fosse ela eu perderia a passagem e estaria fodida, mas não tinha como não me arriscar, gritei ao motorista que parasse o ônibus, ele ficou desconfiado, mas disse que era uma emergência, tinha esquecido algo importante e precisava descer. Ele parou e desci correndo e fui como uma louca até os ciganos e chegando perto não tive dúvidas, era ela!

Chego nela e falo: −Foi você!

−Fui eu o que? Diz ela assustada.

−Você é da polícia?

−Não. Eu sou uma daquelas pessoas que você enfeitiçou em São Paulo, me fazendo trocar de corpo com a minha irmã.

−Você é doida! Acha mesmo que isso pode acontecer?

−Aconteceu, lembra o casal de irmão numa praça saindo de uma Empresa, você brigou com o rapaz e depois brigou com a moça e lançou uma maldição.

−Na nossa luta pela sobrevivência conhecemos muitas pessoas, as vezes algumas nos ofendem gratuitamente, aí digo algumas palavras para assustar, mas essa estória que você está me contando não tem pé nem cabeça.

Então eu imploro que ela tente se lembrar, conto todos os detalhes que estavam vivos em minha memória. Ela fica pensativa por alguns instantes então pega na minha mão e diz.

−Deixa eu ler o seu destino.

Seus olhos se arregalam e ela fica toda arrepiada

−Meu deus! O que foi que eu fiz! Usei o feitiço secreto de minha família, mas não acreditava que pudesse fazer efeito, precisa de uma combinação de circunstancias para funcionar.

−Como exemplo?

−Tipo as pessoas terem a mesma data de nascimento, mesmo signo ascendente, e estar numa época de alinhamento planetário.

−Somos gêmeos não idênticos.

−Aí me desculpa tica!

−Por favor, você pode desfazer isso?

−Poder eu posso, porém é muito mais complicado para desfazer o feitiço, você tem dinheiro?

−Mudou a minha vida e a de minha irmã e ainda pede dinheiro para desfazer?

−Bem, é preciso realizar um ritual, um local adequado, e uma série de coisas, tudo isso custa dinheiro, além de ter que esperar uma fase adequada dos planetas.

−Eu não tenho dinheiro algum, estou fugida de casa e minha irmã presa em meu corpo está puta da vida comigo.

−Tudo bem, só será possível realizar o ritual daqui a uns quatro meses mesmo. Até lá quero que seja hospede em nosso acampamento, eu te ensino alguns truques e você poderá ganhar um dinheirinho para custear as despesas, mas na data vai precisa da presença de sua irmã, ou irmão.

−Por que faz isso com as pessoas?

− Já disse, eu não pensei que iria funcionar, aliás essa é a primeira vez que alguém vem até mim reclamar de algum feitiço.

−Como sabe que o ritual vai funcionar.

−Bem eu fiz o feitiço como aprendi com os meus antepassados, se funcionou, creio eu que o ritual para desfazer também funcione.

Eu estava nas mãos dela, seu nome era Madalena, uma mulher de uns cinquenta anos com uma bonita pele de oliva e olhos negros penetrantes, era hora de devolver o corpo para Aline e deixar de querer viver a vida dela, enquanto não sabíamos como reverter a situação era aceitável curtir as alegrias da vida de mulher, mas agora que o destino me colocou de frente com a cigana, seria um egoísmo estremo não desfazer a situação, eu não poderia conviver com o peso do sofrimento de minha irmã.

O convívio com Zé Maria, sabendo do seu drama de estar em um corpo sem se reconhecer e Aline deveria estar passando por tudo aquilo. Não, eu não poderia me omitir, então dize que iria com ela.

Madalena me chamou para conversar com ele longe dos outros e então pediu que eu a abraçasse e fingisse estar contente em vê-la. Eu quis saber por que.

−Eu preciso de autorização de nosso líder para te levar para o acampamento. –Vou dizer que você minha sobrinha que não via a muito tempo, e deseja conhecer a vida como cigana.

−Faça isso se não ele não te recebera conosco, também não conta nada sobre o feitiço, ele ficaria furioso comigo se soubesse.

−Quer que eu minta para o seu líder, ciganos não veem o futuro e sabem quando as pessoas estão mentindo?

−Queridinha não é bem assim, nem tudo que dizem dos ciganos acontece como na televisão ou na literatura, não temos tanto poder.

−Como se chama menina?

−Aline. Não, Alan, ou melhor chamava Alan, passei a usar nome de minha irmã Aline antes de fugir de um exorcista maluco, aqui nesta cidade me apresentei para as pessoas como Thiessa.

−Gostei deste, pois bem vai ser Thiessa entre nós, bonito cai bem para uma cigana.

Eu me deixei convencer e ser levada por Madalena até o acampamento deles, estava instalado em um lugar que lembrava um campo de futebol, deveriam haver umas cinquenta ou sessenta pessoas.

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