Capítulo 29 Tudo volta a ser como antes

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Madalena chama todos nós para a beirada da bica d'agua. Como ela havia dito era uma fonte de água rasa, não tinha como ninguém correr qualquer risco. Ela então começa a desembrulhar o material que havia trazido para a realização da cerimônia, vai tirando cada peça e enfileirando, tem velas, alguns castiçais, ela vai acendo as velas e me chama.

−Thiessa olha aqui o mapa astral que fiz para você e para sua irmã, tudo está perfeitamente alinhado, será uma cerimonia simples e bem rápida, finalmente vocês serão libertados deste karma que eu os coloquei.

−Mas Madá, eu não estou entendendo patavina deste mapa astral.

−Como não! −Aqui está desenhada a Terra, mais o sol, a lua, as estrelas e todos os outros que giram em torno da Terra.

Eu fiquei estupefata com os desenhos, eu não posso acreditar que ela achava que a Terra era o centro do sistema solar, Aline e o Pajé arregalaram os olhos espantados e então indaguei:

−Ah, Madalena! −Onde aprendeu a fazer mapas astrais, foi com a tradição cigana?

−Claro que não Thiessa, foi com o meu grande mestre! – O professor Olavo de carvalho.

−Olha só −Grita Aline já começando a dar chilique.

O pajé então nos acalma dizendo que o mapa não teria muita importância desde que fizéssemos a cerimônia a tempo, ele e Cacamo ajudam Madalena a distribui todos os objetos formando um círculo. Então ele pede que eu e Aline caminhássemos para o centro destes e dizem que está tudo pronto pra fazer o ritual.

Nesse momento o guarda Amélio chama seus colegas e diz:

−Pessoal a gente já fez o que poderia fazer por vocês, agora precisamos retornar a nossos postos, sabe como é essa atividade de segurança.

−Não Amélio, vamos ficar até o final, eu quero ver se eles conseguiram, sabe como eu sou curiosa – Diz Jennifer.

−Não querida, precisamos nos afastar vai que essa coisa faz efeito na gente, eu não quero correr o risco de  ter de passar por aquelas cólicas novamente. −Pessoal boa sorte, estamos indo, qualquer coisa fala com o pajé. 

Os três se afastam e Madalena e o Pajé tiram alguns ramos de arvores e começa, a cantar numa língua incompreensível, enquanto o Cacamo e os outros apenas observam, eu Aline damos as mãos e ficamos esperando para ver no que vai dar, o tempo vai passando e já são quase meia noite e nada está acontecendo de novo, eu sinto o desespero nos olhos de Aline, ela está começando a chorar quando a lua surge entre as nuvens, tenho a impressão de que uma chuva de prata esta descendo sobre a gente, começo a ficar zonza, tudo escurece e de repente perco os sentidos.

Não sei quanto tempo depois, sinto um cheiro de um produto alcoólico em minhas narinas, abro meus olhos e vejo Denis me encarando, então viro os olhos para o lado e vejo Roberto e eu. −Não, Roberto e Aline, eles estão abraçados, de fato o ritual tinha dado certo e minha irmã finalmente retornava ao seu corpo e eu ao meu.

−Denis, eu estou de volta a minha verdadeira identidade −Thiessa não existe mais.

−Calma Thiessa meu... −Digo fica calmo Alan, a gente não tinha outra coisa a fazer,  agora tudo esta de volta ao normal e você conseguiu ajudar a sua irmã. −Esse foi um gesto lindo de sua parte, só fez aumentar a admiração que sempre senti por você −Aline e Roberto estão muito felizes.

−Mas e a gente?

Antes que ele respondesse, Madalena me abraça e me pede desculpas.

−Querido eu sinto muito, sei o quanto você se apegou ao corpo de sua irmã, mas ele não te pertencia, agora a natureza deve tomar o seu rumo e também cada um de nos deve tomar o seu, vamos desmontar as coisas e voltar para sua casa, vocês precisam descansar. −Logo você irá se reacostumar a ser o que foi durante a maior parte da sua vida.

Ela tinha razão, eu precisava descansar e me conformar, era mais que justo que Aline tivesse sua vida de volta, ela larga um pouco do Roberto vem ate mim e me abraça ternamente, depois de alguns minutos passamos a recolher tudo que tínhamos espalhado pelo local, agradecemos e nos despedimos de Cacamo e do Pajé Juracy.

Minha mãe costuma dizer que para descer todo santo ajuda. Caminhamos rápido até onde estava o carro, o céu agora estava límpido e a lua resplandecia iluminando o amor de Aline e Roberto, eu e Denis ficamos calados enquanto eles se desmanchavam em caricias. Roberto deixou Denis em casa, depois levou eu Aline e Madalena, para a nossa residência, entramos conversamos um pouco com nossos pais que a essa altura já preocupados com a ausência dos filhos. Aline os abraçou muito ternamente demonstrando a felicidade que sentia, eu fui para o meu antigo quarto, tomei uma ducha e vesti meu antigo pijama ainda nos guarda roupas. Era novamente uma sensação estranha, estar de volta no corpo masculino depois de tantos meses vivendo com uma mulher, em fim achei que tudo não passara mesmo de um sonho, que durou mais tempo que o normal, agora era me readaptar.

Eu acordei por volta do meio dia, levantei fui até o espelho e vi que precisava me barbear, era engraçado fazer aquilo de novo, porem era mais fácil que cuidar da cabeleira ruiva da Thiessa. Desci as escadas, na sala meus pais e Aline almoçavam com Madalena. Mamãe me chama para comer porem eu não sentia fome ainda, depois de terminar a refeição Madalena veio até mim, me abraçou e disse que era hora de se despedir.

−Thiessa, ou melhor Alan −Não fique triste assim, você é um rapaz lindo, com certeza terá muitos amores a viver.

Eu balancei a cabeça concordando, ela me abraçou novamente, me beijo no rosto depois pegou o celular e chamou um Uber, as suas malas já estavam prontas, apenas aguardou que eu acordasse para se despedir.

−Você tem meu número, meu face, qualquer coisa que precisar entre em contato. −Eu agora preciso retornar para junto de minha gente, desejo toda a felicidade para você e sua irmã.

Eu lhe retribuo os gestos de solidariedade, em alguns minutos o Uber chegou e Madalena partiu. Aline radiante, se enfeitou toda e disse que passaria o final de semana na casa do Roberto.

−Ué filha vocês voltaram? −Perguntou papai

−A gente nunca terminou de verdade, mas essa história não importa mais para a gente, tchau  mami e papi, volto na segunda. 

O carro do Roberto já a esperava no portão, eu pude ver eles se abraçando e se beijando loucamente, como um casal apaixonado que a muito tempo não se via. Fiquei a imaginar como seria agora a minha relação com Denis depois de todas as loucuras que rolaram entre a gente, enquanto estive ocupando o corpo da Aline. Ele me ligou e combinamos para nos encontrarmos a tarde, era preciso resolver aquilo também.

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