Capítulo 26 Tempo Fechado

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Eu chego pertinho do Denis e chamo, ele não acorda, isso me deixa preocupada, então Madalena pega uma garrafinha de agua mineral, se aproxima dele e derrama agua sobre o seu rosto, ele desperta imediatamente, está confuso e assustado.

−Há, o que houve, cadê aquele cigano grandão?

−Está tudo bem meu querido, ele já foi, conseguimos nos livrar dele e dos amigos. –Eu amei a sua atitude, mesmo sabendo que não tinha chance de derrota-lo no mano a mano você o enfrentou.

−Eu não fiz nada, nem vi como ele me acertou, se dependesse de minha estava tudo lascado.

−Não, você foi valente, isso me deu mais coragem e tempo para pensar numa forma de o afastar da gente, a Madalena foi genial e fez acreditar. Bem, não vamos desperdiçar tempo contando isso.

−Você quer ir a um médico?

−Não, eu estou bem, acho que não quebrou nenhum dente, o cara sabe bater como profissional, mas estou pronto para outra, só me ajuda levantar.

Eu e Roberto o ajudamos a levantar, ele bebe um pouco de agua e me diz.

−Me desculpe Thiessa, acho que é assim que devo te chamar por enquanto. Naquele dia eu disse coisas que não deveria ter falado, nem naquela forma. Eu não sou preconceituoso, mas é que tudo me pareceu loucura, algo impossível de acontecer, eu queria te dar um voto de confiança, mas não conseguia acreditar, até que ontem por acaso encontrei o Roberto e ele contou todos os detalhes, disse que desconfiou haver algo de estranho com a namorada, desde aquele soco que tomou de você naquele dia, por isso acreditou na palavra da Aline, eu pude sentir convicção e sinceridade nele, então cheguei à conclusão que deveria ser verdade. Ele também falou da cerimônia com a cigana, então pedi para ser incluído, pois desejo ajudar vocês de alguma forma.

Eu fiquei comovida e feliz com as palavras dele, provou que era uma pessoa sensata e sentia algo por mim.

−Denis obrigada por entender, isso era tudo que eu sempre esperei de você, se realmente sente-se recuperado após aquela porrada, eu aceito a sua ajuda sim, precisamos ser rápidos, não temos muito tempo, vamos colocar as coisas no carro e partir para o pico do Jaraguá, não vamos, mas nos prolongar nas conversas.

Então ele se aproxima de mim e me abraça com ternura, senti vontade de beija-lo e acho que ele também queria, mas ficamos no abraço. Nos separamos e vamos para o interior de nossa casa. Madalena tinha tudo organizado em caixas, levamos as coisas para o carro do Roberto e partimos os cinco, vamos pegar a estrada.

    O percurso deveria durar pouco mais de uma hora de nossa residência até o Parque do Pico do Jaraguá, passava-se um pouco das cinco da tarde, e segundo a Madalena, teríamos até a meia noite para realizar o ritual e por fim naquela inversão de n...

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O percurso deveria durar pouco mais de uma hora de nossa residência até o Parque do Pico do Jaraguá, passava-se um pouco das cinco da tarde, e segundo a Madalena, teríamos até a meia noite para realizar o ritual e por fim naquela inversão de nossas vidas.

Já no veículo passamos pela avenida Sapopemba tudo estava correndo bem, porém quando nos aproximamos da estrada do Iguatemi, o tempo fecha. Repentinamente o céu se escurece e começa a ventar forte, as pessoas na rua correm para buscar abrigo e logo um diluvio se precipita sobre São Paulo.

Aline fica aflita e passa a se lamentar com medo da gente não conseguir chegar a tempo no local.

−Madalena, será que não existe um outro local mais próximo para a gente fazer isso?

−Existem vários lugares, porém o mais próximo, pelos meus cálculos fica na cidade de São Tomé das Letras.

−Não, isso fica longe demais!

−Precisamos enfrentar esse maldito temporal, aconteça seja lá o que for.

−Deve ocorrer um outro alinhamento favorável daqui a dez anos. Diz Madalena a ela. –Aline fica ainda mais aflita e parece surtar.

−Não! Eu não posso passar mais dez anos dessa forma, eu sempre fui mulher e amava isso, não é justo. Isso tudo aconteceu por sua culpa. –Diz ela a Madalena demonstrando raiva e desespero.

−Eu lamento Alan, estou tentando reparar meu erro, eu não deveria ter feito aquilo e gostaria muito que para desfazer o feitiço fosse tão simples como foi o lançar sobre vocês, embora eu não achasse que funcionaria dessa forma. Nunca mais farei nada parecido contra ninguém por maior que seja a ofensa.

−Não me chame de Alan, você sabe quem eu sou na verdade, eu sou Aline, assim que sempre gostei de ser chamada, não quero ser Alan nem inventar um nome qualquer como Thiessa. Olha só quanto mau gosto. Não poderia ser mais cafona.

−Aline pare com isso. Não é hora de ter um piti, já basta estarmos presos no trânsito, bem no meio de um dilúvio, precisamos conservar a calma. Tudo vai terminar bem, diz Roberto interferindo na conversa.

A chuva não cessava os carros a nossa frente estavam todos parados diante vias inundadas, os que tentaram enfrentar as aguas foram arrastados pela enxurrada. Aline implora para Roberto avançar, porém ele responde.

−Meu bem não dá. Se fizer isso nosso carro será arrastado pela força das aguas como os outros que tentaram passar. A gente está em um local seguro, não vale apena arriscar, se ficarmos na enchente tudo acaba por aqui mesmo e perderemos a chance de lhe trazer sua vida de volta.

O carro de Roberto até que era confortável, uma Ecosport, com ar condicionado e um bom som, mas o cenário fora era desolador, a chuva caia forte, um céu escurecido, vento forte e pessoas gritando, carros buzinando por todo o lado. A energia elétrica também apagou na rua e tudo ficou escuro, por sorte paramos em um ponto que não permitiria o carro ser levado pela enchente como tantos, outros, incrível como essa situação sempre se repete a cada verão na maior cidade da América do sul. Incrível também como Madalena encontrou tranquilidade para cochilar depois que Aline se acalmou. Mas a gente não tinha escolha, era esperar a chuva passar e as aguas baixarem o suficiente para permitir o transito fluir.

Eu e o Denis estamos no banco de trás, eu no meio ele na janela esquerda, ficamos bem próximos um do outro como a muito tempo, eu sinto a mão dele deslizando por minha coxa, isso me excita mesmo naquela situação, nossos rostos se aproximam e rola um início de beijo, mas somos interrompidos por Aline.

−Olha a safadeza meu irmão! Está esquecendo que esse corpo é meu e sou namorada do Roberto, tenham respeito conosco. Parem já com essa esfregação, hora, vocês devem é estar torcendo para que essa chuva não acabe nunca e a gente não consiga desfazer essa maldição.

−Não Aline, foi sem querer; digo a ela. –A gente não fez por mal, é que rola uma química muito grande entre a nós como existe entre você e Roberto.

−Ah claro! Mas infelizmente Roberto e eu não podemos ficar nos pegando porque ambos estamos em corpos masculinos e nenhum de nós é gay.

−Já vocês, não sei. Sabem que Alan ou Thiessa não é uma garota de verdade, mas não estão nem aí. Achei que você Denis era hetero, mas agora...

−Eu sou hétero. Thiessa para mim é uma mulher, eu a amo, e estou com ela para ajudar ela a te ajudar, pois ela só está indo nesse lugar desfazer o feitiço porque te ama.

−Eu acredito, mas como vai ser quando ela estiver aqui nesse corpo peludo que você está vendo, vai ficar com esse bonitão aqui?

Aline demonstra que ainda guardava ressentimentos, e nos coloca em uma situação difícil, eu peço para o Denis se calar e não responder, mas ele indignado começa a falar.

−Não importa mais, eu Amo Thiessa, eu consegui uma bolsa para ir para os Estados Unidos e vou chamara-la para ir comigo e vivermos felizes lá, em uma cultura menos preconceituosa, se ela quiser eu ajudarei modificar o seu corpo para se tornar mulher por meio da medicina, se não ficamos juntos de qualquer maneira.

Eu fico sem palavras com aquela declaração. Aline se cala, Roberto apenas olha e Madalena ainda cochila, então eu e Denis olhamos um para o outro e finalmente trocamos um beijo. Gostoso como nunca!

Depois de mais de uma hora a chuva finalmente passa, o tempo vai limpando e percebemos que era apenas questão de esperar as aguas baixarem e o transito voltar a fluir.


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