Capítulo 10 A mascara cai

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Alguns dias se passaram, Aline permanecia de cara virada para mim, sempre emburrada. Nossos pais cogitaram aceitar a ideia leva-la para um psicólogo ou psiquiatra, mas percebi a burrada que ia fazendo e disse a eles que Alan estava apenas passando por um momento difícil que em breve tudo voltaria ao normal. –Lógico, disse tudo de boca para fora, de forma alguma que voltasse ao normal, eu desejava cada vez mais curtir as delicias do gênero feminino. Aline tinha razão eu era sisgênero, por isso não deu certo com as meninas, mas com Dênis foi demais! Agora minha vida era aquela, eu estava feliz no meu novo corpo já remodelado e turbinado com meses de malhação. Não lembrava nem de longe a nerdzinha sem graça, estava com curvas acentuadas, bumbum arrebitado. Quanto me olhava no espelho me achava a tal, me perguntava: −para que ela quer esse corpo de volta? Para destruí-lo com chocolate e massas?

Minhas transas estavam cada vez mais calientes, o Dênis era ótimo de cama, ele sempre, me pegava com jeito e muito carinho, quando ia na casa dele, era só eu entrar no quarto, ele me agarrava, me dava um banho de língua e me comia quase a noite toda, era uma loucura, as vezes me arrependo de não ter dado para o Roberto, talvez ele fosse bom de cama também, Aline deve ter algum motivo para ser gamada no cara assim, mas deixa este pensamento pra lá sou safada mas não sou galinha, um amor gostoso tá bom pra mim.

Porem um dia o Roberto me procura novamente, eu achei que seria mais uma daquelas choradeiras, ele implorando para reatar a relação dizendo que, me amava, porém não foi por isto dessa vez. Ele me encosta contra a parede e diz: −Eu sei quem você é. –Sei o que aconteceu.

−Como assim Roberto, de que você está falando?

−Você não é Aline. Está usurpando do corpo dela. −Ela me contou tudo.

−Você é o Alan, que teve sua alma trocada de lugar com a dela e está se recusando a ajudá-la a voltar a ser como era.

Ai, ai, ai, o que fazer agora? Tentei enrolar o Roberto para mais uma vez desacreditar Aline.

Você está louco Roberto, essa é a história mais maluca que já ouvi! Alan está com problemas psicológicos e você está indo na dele.

−Não, ela me contou e eu acredito nela, somos almas gêmeas e eu sinto que ela diz a verdade.

−Me poupe! Você está louco em acreditar que uma simples cigana tenha um poder destes.

−Quem falou em cigana? Acabou de me dá certeza.

Eu dei bobeira, a minha mascara caiu, Roberto não era tão estúpido quanto eu imaginava, ele conseguiu me induzir a confissão de minha deslealdade com a minha irmã.

−Eu confesso Roberto, foi isso mesmo que aconteceu, porem eu não tive culpa nem tenho como desfazer a troca, nunca mais tivemos noticia alguma da cigana, eu apenas fiz me conformar com a situação, não sei como devolver a vida de Aline, ela também vai ter que se conformar e se adaptar.

−Nunca, eu vou lutar pela felicidade da minha amada, ajudarei ela a voltar para o corpo.

−Você tá viajando!

−Mas o que você acha que eu poderia fazer?

−Você poderia ficar do lado dela, não ter destruído nossa relação e se envolvido com o primeiro que apareceu. Ela está mal por tua causa.

−Eu reconheço, mas por favor não conte nada a ninguém principalmente para o Denis, eu prometo não atrapalhar a busca de vocês por essa cigana.

−Não precisamos encontrar a cigana eu conheço alguém que pode desfazer esse feitiço, mas você vai ter que colaborar.

O meu mundo caiu, ele dizia poder desfazer tudo, eu não podia acreditar, Aline tentara de tudo sem o menor sucesso, agora esse maluco dizia poder reverter, mas como? Ele só poderia estar blefando, mas por que blefaria? Não teria nada a ganhar, eu tinha que admitir que Roberto falava a verdade e a minha vida no corpo da Aline e minha relação com o Dênis chegaria ao fim.

−Eu conheço um homem de grande fé e poder, o Pastor Abdias, contei-lhe o fato e ele me explicou como isso acontece e como reverter, faremos uma cerimônia para espantar o demônio dos ciganos que mantém vocês nessa situação, aí tudo se acaba, você volta ao teu corpo e se Denis te aceitar assim fica com ele, mas Aline é dona deste corpo e o terá de volta, ou acabo com a tua raça.

Ainda teve a petulância de me ameaçar. Eu poderia lhe dar outro golpe de boxe tailandês, mas não tinha animo para isso, sabia que Aline tinha o direito de reivindicar o corpo dela de volta, então aceitei me submeter a ao ritual, apenas pedi um tempo para me despedir do Dênis.

−Quer dar uma última vez para o seu macho?

−Pode ser Roberto, eu quero estar uma última vez com ele, depois não terei, mas coragem, de encarar o Denis, meus pais nem Aline, após voltar a meu antigo corpo vou partir para bem longe daqui, e tentar esquecer tudo que aconteceu nesses meses.

Ele encarou por alguns minutos sem dizer nada, ficou pensativo, fez caretas, mas acabou aceitando.

−Tudo bem, o ritual tem que ser feito numa sexta feira, estamos na terça, então pode ficar esse tempo com seu macho, apenas use preservativo, não quero ter que criar um filho de outro. –Nem pense em fugir, eu você atrás de você até no inferno.

Não havia mais o que fazer, Aline encontrara uma saída ajudada pelo namorado que ao contrário que eu imaginava acreditou na história absurda e foi atrás de alguém para dar fim ao drama de sua amada, não tive como deixar de reconhecer nisso uma incontestável prova de amor e passei a ter certa admiração por Roberto, apenas alguém apaixonado agiria dessa forma, talvez seu tivesse me aproximado dele, tudo teria terminado de maneira diferente com Aline ficado isolada e tendo que aceitar a nova vida. Agora quem teria de aceitar uma nova velha vida seria eu, retornar ao antigo corpo não era o problema, o problema era esquecer esses meses todos vivendo como mulher e me afastar da pessoa por quem me apaixonei.

No início foi horrível, tudo foi difícil, nada fazia sentindo, o mundo feminino me parecia extremamente idiota, chato, desconfortável, mas foi uma questão de tempo de perceber o lado bom, as coisas boas, uma vida com mais emoção, mas sensibilidade, e também a grande variedade da indumentária feminina e dos produtos de beleza. Eu sempre fui um admirador da beleza das mulheres, sempre desejei ter uma namorada que se vestisse para mim de tal forma, sem nunca encontrar, aí eu mesmo pude fazer isso me produzido, me sentindo atraente, era como uma mágica. Para terminar a amizade entre mim e Dênis se transformou numa tórrida paixão, eu lamentava Aline ter rejeitado a outra vida, mas ela tinha direito a sua antiga vida e a felicidade no amor.

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