Capítulo 16 - Amparo

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Eu não volto para minha própria sala de aula.

Em vez disso, me tranco no banheiro e fico esperando acabar o último horário. Mando uma mensagem para Rubi explicando mais ou menos o que houve, o que a deixa preocupada. Daí ela me liga e me obriga a contar exatamente o que houve.

— Um ataque de pânico? — minha irmã pergunta, meio incrédula.

— Foi o que o João disse — suspiro. — Só sei que parecia que eu tava morrendo, Bibi. Sério.

— Credo! — Rubi diz do outro lado da linha, mas como estou com os olhos fechados quase parece que ela está aqui do meu lado no cubículo do banheiro da escola. — Mas você tá melhor agora, né?

— Tô sim... — Minha voz ainda tá meio trêmula e falhada, mas acho que é mais por conta do grande tempo que fiquei em silêncio antes de ligar para ela do que pelo susto do ataque de pânico em si. — Mas foi bem esquisito.

— Hm... O que você acha que houve? O que desencadeou esse ataque? Você nunca teve isso antes, teve?

— Foi muito do nada. — Dobro as pernas e apoio o celular, que está no viva-voz, sobre os joelhos. — Eu tava meio pirada, acho. Meio focada demais na coisa do Sanatório. Daí descobri que o João tava com livro e de repente simplesmente tive que ir buscar o tal livro. Daí eu surtei. Na frente dele. Foi ridículo, Rubi. — Para o meu total abismamento, escuto a risada da minha irmã preencher o banheiro. — Nossa, pior pessoa você. Eu aqui passando mal e você dando gargalhada.

— É que, pra variar, você tá sendo dramática, Isabel — Rubi diz, sem perder a pose ou o tom. — Não foi "ridículo". Foi um ataque de pânico. É super normal. Você teve sorte de o João estar por perto pra ajudar. Aliás, você teve sorte de ele ser uma pessoa minimante decente pra ajudar. E pelo que você contou ele parecia ter experiência em lidar com pessoas em pânico, o que é sempre bom.

Eu mencionei nas mensagens antes da ligação sobre como João havia me levado para uma sala vazia e escura até que eu me acalmasse.

Não tinha pensado pelo lado que a Rubi está dizendo. João realmente pareceu experiente. Como se tivesse lidado com pessoas loucas milhares de vezes. O que será que isso significa? Esse garoto não cansa de me impressionar? Ele é tipo o Shrek, cheio das camadas. Tipo uma cebola.

— E ele é bonitinho, é? — Rubi pergunta.

Eu bufo.

— Tava demorando pra perguntar, hein? — digo, revirando os olhos. — Quase achei que alguém tinha te sequestrado e substituído. — Deslizo as pernas de volta para o chão e pego o celular na mão, tirando do viva-voz e pondo no ouvido. Não sei quem poderia estar ouvindo, mas é o tipo de conversa que não dá para compartilhar com o mundo; só com minha irmã. Até abaixo meu tom de voz, mesmo tendo certeza de que estou sozinha no banheiro. — Ele não é de se jogar fora. Mas é que você não viu o Paulo.

— Quem é Paulo mesmo?

— O irmão dele. Amigo da Leta. — Faço uma pausa. — Nossa. Rubi. Pensa numa mistura do Avan Jogia com o Ezra Miller.

— Uau.

— Pois é. Até você adoraria tirar uma casquinha, admite.

— Primeiro. "Tirar uma casquinha"? Quem é você, a vó Irma? — Rubi debocha. Eu rio junto, porque preciso admitir que desenterrei a expressão da época que os portugueses vieram colonizar o Brasil. — Em segundo lugar, não. Infelizmente, seja como for a beleza desse tal de Paulo, ele provavelmente tem aquilo que eu não gosto.

Daí eu gargalho, porque minha irmã é a pessoa mais engraçada de toda a face do universo. Piadas sobre nossa sexualidade são muito boas quando feitas do jeito certo.

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