Acaba que sair da escola é a parte mais fácil da nossa missão.
Nosso novo obstáculo é chegar até o topo do morro onde fica a casa dos meus avós sem um carro e, para piorar, embaixo de uma chuvinha chata que quase lembra uma garoa tradicional de São Paulo, mas muito mais fria.
— Podemos passar lá em casa e pegar as bicicletas — Paulo sugere.
A casa dele é, de fato, bem mais perto. Dá para ir a pé da escola sem problemas.
É o que fazemos, nós quatro, espremidos embaixo da minúscula sombrinha de bolinhas coloridas que a Antonella (Deus a abençoe!) carrega sempre na mochila, porque é uma garota precavida e esperta, ao contrário do resto de nós.
Paulo está com um braço ao redor de mim e outro ao redor de Leta, provavelmente para cabermos todos melhor na proteção da sombrinha, mas eu me sinto especial mesmo assim, aquecida por seu corpo, eletrizada pelo calor de sua pele tão perto da minha. Toni, que é mais baixinha, caminha meio que abraçada por nós três, na nossa frente.
Quando chegamos na rua de Paulo, as coisas complicam.
Aparentemente o pai de João está em casa. É o que o carro chique na garagem indica, pelo menos. Paulo não sabe nos dizer quais são os horários de trabalho desse homem, só que ele ainda atua na empresa em Ribeirão Preto, e vive viajando. Paulo relata para nós agora que frequentemente se assusta com as idas e vindas de João Ignacio Loyola Filho, e eu me lembro da minha própria experiência com isso, quando João (o Neto) me beijou para despistar o pai.
Sinto meu rosto esquentar com essa memória e fico com vergonha de Paulo, porque NÉ? E, como ele não pode ler minha mente nesse momento, está completamente alheio ao que se passa dentro dela. Numa tentativa de me esquentar, esfrega a mão pelo meu braço e sorri quando olho para ele. Eu escondo meu nervosismo e tento apenas ficar feliz por vê-lo sorrindo depois de tantos minutos parecendo emburrado.
— Super dá pra pegar as bicicletas sem ele ver, claro — Paulo diz. — Só que a gente vai ter que ser muito discreto.
A chuva já deu uma trégua por agora. Leta e Antonella ficam nos esperando no final da rua, uma delas segurando sua sombrinha prestativa e a outra parecendo elétrica e empolgada, enquanto Paulo e eu vamos resgatar as bicicletas o mais discretamente possível.
Ele começa a cantarolar a melodia-tema de Missão Impossível, o que me faz rir baixinho.
— Shhh! — Paulo me repreende, me segurando pela cintura, como se para controlar o nível de barulho que estou fazendo.
— Para de fazer graça então — eu sussurro para ele, mas não afasto suas mãos. Em vez disso, deixo-o me guiar até as bicicletas.
A janela principal da casa fica bem na frente de onde as bicicletas estão. Elas repousam tranquilas sob a proteção de um toldo, sem nem fazerem ideia de que estão prestes a atuar como ferramentas essenciais em uma investigação de alto nível.
Paulo pega uma das bicicletas e, devagar, tentando não atrair atenção para si caso o pai de João resolva espiar pela janela bem agora, a guia para longe da casa. Então, quando está distante o suficiente da janela, faz um sinal para que eu pegue a bicicleta e a pilote até onde Leta e Toni estão. Em seguida, ele trilha a outra bicicleta também pelo caminho seguro, para depois montar sobre ela e surgir como um herói onde nós três estamos esperando.
— Vamos! — declara, parecendo animado de novo. Isso me deixa ainda mais relaxada. A tensão que estava em Paulo quando João terminou de contar a história parece ter sido finalmente deixada para trás. — Quem vem comigo?
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Psicologia Reversa
Teen FictionVovó Henriqueta acha que houve uma falha monumental na criação de sua neta. Tio Ivan, por outro lado, acredita que a teimosia de Isabel esteja diretamente relacionada aos três Touros em seu mapa astral. A opinião profissional de Tia Anni...