Capítulo 22 - Só pra você

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Dessa vez, eu nem tento ser discreta. Marcho diretamente até a porta da sala 203 e falo para o professor que preciso conversar com o aluno João Ignacio Loyola Neto.

João olha para mim, parte surpreso, parte intrigado, parte irritado. Mas ele espera até que a porta esteja fechada e que estejamos longe dos ouvidos curiosos para dizer qualquer coisa.

— Você não pode ficar me tirando de sala assim, Isabel.

— Por que não? — eu rebato. — A escola é uma perda de tempo.

Ele troca um olhar compreensivo comigo, sabendo imediatamente que agora sei sua história.

Ou parte dela.

— O que você quer dessa vez?

— Por que você abriu um boletim de ocorrência contra a minha prima? — pergunto logo.

João solta o ar por entre as frestas dos dentes e revira os olhos.

— Eu já te disse. Sua prima é maluca. Ela tava me perseguindo e tal. Não queria ter precisado fazer isso, mas... Nada mais parou ela. Então fui obrigado a tomar medidas drásticas.

Eu cruzo os braços, não convencida.

— Então você estava, o quê? Temendo pela própria vida? — Solto uma risada meio debochada. — Você acha que a Leta realmente faria algo terrível contra você?

— Ela estava invadindo meu espaço pessoal — João se mantém firme, me olhando de seus três metros de altura como se eu fosse um pequeno inseto. — Eu só fiz o que era meu direito.

— Será? — eu provoco. — Ou será que ela estava chegando perto demais de solucionar seu enigma?

— Meu enigma? — João ri. Ele molha os lábios e decide entreter minhas teorias malucas. — Qual enigma seria esse?

— O enigma do Sanatório misterioso e abandonado — falo com obviedade.

Ele dá outra risada, mas dessa vez parece um barulho antinatural e quase forçado.

— Vou voltar pra sala — diz, se desencostando da parede e começando a andar de volta na direção da porta.

— Espera! — eu toco o braço dele.

Ele olha para minha mão, para o contato entre nossas peles, e em seguida olha nos meus olhos.

— Por que você não conta pra ninguém o que tá acontecendo? — eu murmuro. — Você levou a Toni até lá no sábado. A Leta já te viu lá por perto e parece convencida de que há algo por trás de tudo. E eu sei que você leu livros sobre o lugar. — Ele fica em silêncio, deixando que eu despeje as palavras. — Alguma coisa tem. Por que você tem que ser tão misterioso sobre isso?

Ele morde os lábios e pensa por um momento.

— Talvez seja perigoso — ele fala.

— Perigoso? — pergunto. — Perigoso a ponto de ser sensato envolver a polícia?

— Não podemos envolver a polícia — João fala rapidamente. Rapidamente demais. Como se já tivesse considerado aquilo mil vezes antes. Isso me arrepia, mas também causa um friozinho bom na minha barriga. Estamos chegando a algum lugar. Talvez ele realmente esteja começando a confiar em mim.

Eu decido me mostrar ainda mais teimosa para ele entender que não há nada que me faça ceder nesse cenário. É melhor parar de ficar contra mim e se juntar a mim logo. Ou, no caso, deixar que eu me junte a ele.

— Você não me conhece, mas vou te dizer: com ou sem você, vou descobrir o que está acontecendo.

Ele fica me considerando por alguns segundos. Por fim, abaixa os olhos e franze a testa.

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