Capítulo 27 - Segredos

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Sem surpresas, não consigo dormir muito bem.

No dia seguinte, faço minha mãe me deixar na escola mais cedo, e fico plantada na frente da sala de João até ele aparecer. Felizmente, nessa história de manter a fama de bom moço, ele costuma chegar mais cedo também.

Quando me vê, João arregala os olhos, mas disfarça bem o pânico e o transforma em um adorável sorriso.

— Isabel! — diz em voz alta, como se querendo que seus colegas escutem. — A que devo a honra da sua presença nesse lindo dia de hoje?

Não estou com paciência para teatro, então apenas faço um gesto com a sobrancelha e digo:

— É importante.

Então viro de costas e espero que ele me siga.

Nós caminhamos até o pátio da escola e nos sentamos em um banco afastado, longe dos alunos que confraternizam antes do sino tocar.

— Eu sei que despejei um monte de informação tensa em você ontem, mas você precisa ao menos tentar manter as aparências — é a primeira coisa que ele me diz, em tom quase irritado.

— Seu pai me ameaçou — eu falo rápido.

A notícia quebra João.

— O quê?! — ele exclama alto.

— Quer dizer, não ameaçou-ameaçoooou — eu tento amenizar. — Ele não usou palavras literais na ameaça, sabe? Mas acho que foi uma ameaça.

— E-eu... — Ainda claramente atordoado, o garoto gagueja e sacode a cabeça. Seu rosto se contorce em preocupação. — Você tá bem?

— Eu tô, é só que...

— P-por que não me falou disso antes? Por que não mandou mensagem?

— Você disse que não era seguro — digo, encolhendo os ombros.

Ele suspira fundo e cobre o rosto com as mãos.

— Merda, eu sabia que não devia ter metido você nisso.

— João! — digo em um tom mais alto, tentando chamar a atenção dele. Ele destampa o rosto e me encara. — Eu tô bem. Juro.

A preocupação em seu rosto se intensifica até se transformar em irritação.

— Por que é que você tem que ser tão curiosa, também?

— Ei! — Eu exclamo, me irritando de volta. — Pode parar com isso. Eu tô viva, não tô? Isso que importa. E eu não vou deixar você enfrentar tudo isso sozinho.

Ele revira os olhos e bufa.

— Você é impossível! — diz, sacudindo a cabeça.

— Muito obrigada. — Eu cruzo os braços e ficamos em silêncio por uns segundos. — Eu não te contei isso pra te preocupar, sabe? Te contei para ficarmos mais espertos. Seu pai talvez saiba que estamos tramando alguma coisa, por isso precisamos tomar mais cuidado. E agir mais rápido.

Ele morde os lábios e respira fundo. Eu toco o braço dele de leve.

— E para isso precisamos de ajuda — resolvo chegar direto ao ponto.

— Não podemos confiar...

— Em ninguém, eu sei — me antecipo. — Eu sei que você pensa assim. Mas você também pensava que não podia confiar em mim e... Bem. Você confia agora, não confia?

João sorri de lado e mostra um pequeno espaço entre seu polegar e indicador. Eu rolo os olhos e aproveito minha mão que está encostando nele para dar um tapa em seu braço.

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