Bem como comentei com Rubi que precisava fazer, tento manter o resto da minha semana o mais tranquila possível.
Não me envolvo em encrencas. Não arrumo confusões. Não mato aula.
Rio na hora de rir. Falo quando alguém me pergunta algo. Até mesmo arrisco prestar atenção em algumas das coisas que os professores estão dizendo.
Quando chego em casa, tento não focar em coisas que me deixam apreensiva e triste. Tento ignorar minha mãe e sua estranha amizade com tia Cátia e o filho dela. Tento ignorar a ausência de Roberto, meu pai. Tento ignorar meus avós e o fluxo inconstante de tios e primos psicólogos e aprendizes querendo decifrar todos os meus enigmas. Mergulho em livros, filmes, seriados, música.
E tento viver assim.
Por quanto tempo dá.
Até que eu fico absurdamente e invariavelmente entediada.
É sábado, e está todo mundo na casa dos meus avós. Tia Mamie, Tio Ivan, Tia Regina, Tia Annita, Tio Fabrício, Tia Eleanor, Tio Arthur, Tio Jean e todas as crianças: Nise, Jung, Sílvia, Carol, o Siggy, que voltou de Prata Fina para passar o final de semana, a Anna, que deu um tempo nos estudos e, é claro, Leta e eu.
Enquanto os adultos conversam na mesa da sala, o resto de nós está largado no sofá (ou no chão ao redor do sofá). Jung usa meu braço como tela de pintura de canetinha enquanto Nise tenta fazer trancinhas (já que acabou de aprender a fazer na escolinha com suas amigas) nos meus cabelos. Eu permito as duas coisas porque o toque deles é suave, infantil e quase terapêutico. Leta, Anna e Siggy estão conversando sobre algo engraçado e interessante, mas definitivamente não estou prestando atenção, apesar de diversas vezes eles se virarem para mim, me incluindo no assunto.
Daí, como se estivesse na mesma vibe caótica e desesperadamente precisando de diversão que eu, Paulo manda uma mensagem no meu celular.
"Ei, vem aqui pra casa!!!!!"
Eu tiro meu braço do alcance do meu primo por um segundo para poder responder.
"Nossa, que direto. Adorei."
Eu literalmente demoro só uns cinco segundos para responder, mas é o suficiente para Jung protestar, à beira de lágrimas, dizendo que ele estava fazendo uma borboleta e eu estraguei tudo. Acho que alguém não teve a soneca da tarde.
"Tá vindo então?" Paulo manda. "Tamo esperando."
Isso me faz sorrir, imaginando ele e João me esperando para alguma sessão divertida de amasso a três. Uma garota pode sonhar.
"Você e mais quem?" pergunto.
"Eu e a Toni, ué. Sua prima chaaaaaata disse que não quer vir. E pelo visto nem repassou nosso convite pra você."
Olho para Leta. Ela está distraída rindo de algo que Siggy disse, completamente alheia à minha conversa digital com seu melhor amigo.
"Que vocês estão fazendo?" quero saber.
"Bebendo, conversando. Coisas de adolescente e tal," é a resposta que eu tenho.
Estico a perna para chutar o pé de Leta, chamando sua atenção.
— Ei, por que você não quer ir lá no Paulo? — questiono quando ela olha para mim finalmente.
Leta me encara como se eu fosse maluca de sequer perguntar.
— O Siggy e a Anna estão aqui!!! — ela diz.
Não entendo o ponto dela.
— E?
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Psicologia Reversa
Teen FictionVovó Henriqueta acha que houve uma falha monumental na criação de sua neta. Tio Ivan, por outro lado, acredita que a teimosia de Isabel esteja diretamente relacionada aos três Touros em seu mapa astral. A opinião profissional de Tia Anni...