Capítulo 5 - O que é normal afinal?

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Mamãe e tia Annita voltam quando já estamos todos sentados à mesa.

A esse ponto, todo o resto da família já está aqui também. Leta, Anna e Siggy se sentaram perto de mim, talvez para me fazer sentir menos deslocada, já que eles são os primos com a idade mais próxima da minha.

A sala inteira fica em silêncio enquanto esperamos que a troca de olhares intensos entre vovó e minha mãe chegue a alguma resolução.

Vovó odeia atrasos. Ela os considera desrespeitosos e acredita que contribuem para o desgaste familiar. Quantas vezes não presenciei discussões entre essas duas nos almoços de natal quando nós chegávamos um tiquinho atrasados porque tínhamos vindo direto das comemorações na família do meu pai?

Mas vovó nunca gostou do meu pai, e acho que talvez sua irritação tenha sido mais com a presença dele do que com o atraso em si, porque agora ela abre um grande sorriso e se levanta para abraçar minha mãe.

— Querida, olha só você. Está linda!

Minha mãe a abraça de volta sem falar nada. Então, as duas se sentam à mesa e começam a se servir de pão de queijo, geleia, presunto, frutas, queijo e tudo o que têm direito.

A conversa volta ao normal.

Eu consigo respirar de novo.

Tomo um gole do chocolate cremoso que o vovô fez e me distraio por um instante com o quanto isso tem gosto de natal. Quando olho para o lado, Leta, Siggy e Anna estão me observando.

Eu arregalo os olhos, surpresa, e todos menos Leta desviam o olhar. Acho que Siggy cutuca ela embaixo da mesa, porque ela murmura um "ai" do nada e para de me olhar.

O fato é que eu e meus primos nunca fomos muito próximos. Leta tem praticamente minha idade e mesmo assim nós nunca nem conversamos direito. Acho que sempre me senti deslocada na família, a "ovelha negra", e meio que bloqueei a aproximação com qualquer uma dessas pessoas. Eu sempre preferi a família do meu pai, de qualquer forma.

Mas também não é como se eu detestasse Siggy, Anna e Leta. Eles sempre foram muito gentis comigo e nunca me trataram especificamente mal. É só que de vez em quando eles agem como se eu fosse uma forasteira, um elemento novo a ser estudado por seus cerebrozinhos de psicólogos mirins.

Eu me encolho na cadeira e termino o meu chocolate-quente em silêncio, torcendo para que o resto da família esqueça que eu estou aqui.

Tia Annita teve que ir embora com as crianças, porque a Silvia e a Carol cantam no coral da igreja no culto noturno, então minha avó me mandou ir ficar com meus primos para eu não ficar sozinha.

Odeio quando me mandam ficar com alguém para não ficar sozinha.

Odeio essa forçação de amizade, essa coisa anti-natural e mecânica de pegar pessoas que, essencialmente, não têm nada em comum e juntar no mesmo bolinho social só para evitar a solidão.

Mas minha mãe está conversando com os outros adultos agora, e a sugestão de vovó deixa claro que não sou bem-vinda. Então, mesmo contrariada, marcho para o quintal, onde Siggy, Leta e Anna se reúnem embaixo de uma das árvores.

Siggy está contando algo engraçado o suficiente para fazer as outras duas precisarem implorar por fôlego entre as risadas.

A minha chegada parece interromper todo o clima descontraído, então por alguns segundos ficamos os quatro nos olhando sem saber como prosseguir.

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