Antes que as coisas saiam muito do meu controle, eu insisto para Paulo que temos que terminar o trabalho de biologia. Surpreendentemente, ele não me contraria.
Enquanto eu uso meu laptop para pesquisar mais sobre cada tipo de planta, ele abre no celular as fotos que tiramos aquele dia na escola. A tarefa não é tão difícil e, com o Google ao nosso favor, terminamos rapidinho. Foi bem menos dolorido do que eu estava esperando. Paulo faz tudo parecer menos entediante.
Quando salvamos o arquivo e colocamos no Drive por segurança, Paulo se levanta da ponta da minha cama e diz, com um sorriso animado:
— Vamos dar uma volta!
Eu o olho, confusa.
— Agora?
— E por que não? A gente terminou toda a tarefa de casa. Nos comportamos direitinho. Acho que merecemos uma recompensa, né? — ele sorri de lado, sapeca.
— Mas... — tento argumentar. — Não tá meio tarde?
— Qual é, Bel?! Cadê seu senso de aventura?
Reviro os olhos, mas não consigo evitar a risada. Paulo se aproveita dessa pequena falha na minha muralha de defesa para me puxar pela mão. Ele me guia descendo as escadas e nós dois paramos na frente da minha mãe, que está na cozinha conversando com vovó.
— Oi! — Paulo diz para as duas. — Tudo bem se eu e a Bel formos dar uma voltinha lá fora rapidinho? Eu prometo que trago ela de volta sã e salva.
Minha avó arregala os olhos, surpresa, mas mamãe apenas sorri.
— Não demorem! — ela adverte. Paulo, também sorridente, me puxa em direção à saída. — E leva um casaco! — minha mãe grita.
A última demanda da minha mãe foi proferida tarde demais, porque a esse ponto Paulo e eu já estamos com a porta da frente aberta e os pés começando sair da casa.
— Não vou voltar lá em cima só pra pegar um casaco — falo, meio emburrada.
— Aqui, fica com o meu — Paulo fala, tirando seu moletom e colocando-o sobre meus ombros antes que eu proteste.
— E você vai ficar passando frio?
— Eu não passo frio, Bel. Eu sou muito quente.
Eu gargalho alto, mas fecho a porta de casa atrás de nós, esperando que ninguém da minha família tenha testemunhado essa frase do Paulo se fazendo de gostosão.
Enfio meus braços nos buracos do moletom, me sentindo quentinha e acolhida com o cheiro de Paulo me rodeando.
Caramba. Pra você ver, né? Como uma simples paixão deixa a gente agindo feito uma bela IDIOTA. Eu não consigo nem mais controlar meus pensamentos ridículos.
Paulo caminha na minha frente. Ele se abaixa e recolhe a bicicleta, que havia deixado jogada no jardim da frente.
Nós subimos na bicicleta dele daquele mesmo jeito de antes, com ele na parte de trás do banco e eu na frente. Nem precisarmos combinar em voz alta, pois, de alguma forma, nossos corpos estão sincronizados e decidem sozinhos em que momentos passar as pernas por cima da bicicleta e em que posição devem ficar nossos braços para que não nos trombemos, apenas nos rocemos de leve, de um jeito natural e confortável. Eu mordo meu sorriso, sentindo um frio no estômago. Paulo não fala nada, mas sei que está sorrindo também.
Assim que estamos acomodados, Paulo parte com a bicicleta montanha abaixo, em direção ao centro turístico da cidade. São quase onze da noite numa quinta-feira, o que significa que as ruas de Hortência estão vazias e silenciosas. Os últimos restaurantes da cidade fecham as portas antes das dez nos dias de semana, pois a movimentação de turistas fora da época só é maior às sextas e aos sábados. As luzes noturnas iluminam nosso caminho, e o único ruído que se dá para ouvir é o das rodas da bicicleta deslizando sobre a estrada.
![](https://img.wattpad.com/cover/116604766-288-k479728.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
Psicologia Reversa
Teen FictionVovó Henriqueta acha que houve uma falha monumental na criação de sua neta. Tio Ivan, por outro lado, acredita que a teimosia de Isabel esteja diretamente relacionada aos três Touros em seu mapa astral. A opinião profissional de Tia Anni...