Capítulo 30 - A astúcia do cupido

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A promessa de ver Rubi me deixou bem melhor, mas ainda estou consideravelmente abalada com a situação toda com Roberto. Portanto, ganho um segundo dia de folga da escola "para colocar meus pensamentos nos eixos". Ter uma família de psicólogos tem lá suas vantagens de vez em quando, embora ficar em casa sem fazer nada seja surpreendentemente entediante.

A minha sorte é que, depois de um grande sermão de tio Jean sobre como adolescentes como eu não podem viver em sociedade sem estarem bem conectados, meus avós decidiram finalmente instalar um Wi-fi de qualidade na casa. Eles entraram em contato com o serviço digital e no dia seguinte, quando acordo, já está tudo pronto e funcionando.

É por isso que a primeira coisa que vejo ao abrir os olhos é a mensagem de João.

"Isabel. Paulo me contou que você não foi pra aula de novo. Tá tudo bem?"

Eu respiro fundo e digito a resposta.

"Sabe aquela coisa que anda acontecendo na minha vida que me faz precisar desesperadamente da distração do seu mistério?"

"Sei..." João responde quase imediatamente, embora, pela hora, ele esteja no meio de uma aula.

"Quer dizer," ele manda outra mensagem, "sei do que você está falando, mas você nunca me explicou isso direito."

"Bem," eu respondo, ignorando o pedido de explicações dele. "Eu meio que estou imersa nesse rio de angústia infinita. Sem condições de ir à escola. Aliás, foi bom você ter mandado mensagem, porque eu preciso da sua distração mais do que nunca neste momento."

"Sabe que não podemos falar disso por aqui," João me alerta. Eu bufo. Por que ele tem que ser tão paranoico? Não é possível que o pai dele esteja mesmo rastreando toda conversa que o garoto tem! "Além do mais," João continua, "você acha mesmo que é saudável ficar sempre contando com essa distração em vez de lidar logo com... qualquer que seja o problema?"

Preciso refrear minha vontade de mandá-lo ir tomar banho na soda. Não é como se eu já tivesse uma família inteira de psicólogos me dando conselhos parecidos, né? É um saco não poder ser uma adolescente comum e lidar com meus sentimentos do jeito mais básico de todos: ignorando-os.

No fundo, sei que João tem boas intenções, e não é como se eu própria não já estivesse mesmo considerando a terapia.

Então, em vez de xingá-lo, mando apenas um monte de emojis revirando os olhos.

Ele manda emojis rindo.

Em seguida, fala "Paulo perguntou de você."

Eu suspiro. Paulo também perguntou de mim diretamente para mim, no formato de várias mensagens preocupadas ontem e hoje, mas eu escolhi ignorá-lo, assim como ignorei todas as mensagens de Leta e Toni. Assim como Roberto me ignorou quando liguei.

"Vou mandar mensagem pra ele já já," prometo para João, embora não saiba realmente quando vou ser capaz de cumprir o que estou dizendo.

João me envia um emoji de sorrisinho com os olhos fechados e as bochechas vermelhas. Ele diz: "Boa garota."

"Você já decidiu se podemos confiar neles?" pergunto então. "Em Leta, Toni e Paulo?"

João visualiza minha mensagem, mas não responde por vários minutos.

"Ainda estou pensando no assunto," ele fala por fim. "Mas prometo que estou pensando com muito carinho."

Eu envio o mesmo emoji de sorrisinho com os olhos fechados e as bochechas vermelhas. "Bom garoto."

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