— Rápido — João fala, tirando de repente a própria camiseta do uniforme. — Tira a roupa.
Eu com certeza devo ter escutado errado.
— Quê?!
— Não precisa ser a roupa toda — ele diz, afobado. — Só a blusa já serve.
— O que você...? — tento perguntar.
— Ele não pode desconfiar que estamos investigando! Da última vez que ele chegou perto de descobrir, não foi... — Ele se interrompe no meio da frase porque o pai dele chama de novo os nomes de Verônica e Paulo. — Quer saber? Não precisa tirar a blusa, não. Só confia em mim.
Eu assinto e, antes que eu possa perceber, ele me puxa pela cintura e me deita na cama, por baixo dele. Com a outra mão, encaixa os dedos nos meus cabelos na base da nuca e aproxima o rosto.
— Com licença — ele sussurra. Contenho um arrepio delicioso que se forma na base da minha coluna quando o ar que escapa de seus lábios acaricia meu rosto. — Juro que isso é extremamente necessário.
Meu coração está batendo ainda mais forte agora, só que por razões completamente diferentes.
João encosta os lábios quentes e macios nos meus, e eu perco o fôlego. É só um toque leve, lábio com lábio, mas minha pulsação acelerada poderia fazer alguém pensar que estamos transpassando todas as barreiras da intimidade.
É só quando o pai de João abre a porta do quarto em um movimento brusco que eu me lembro que havia um propósito maior para aquele beijo.
João afasta meu corpo como se estivesse realmente envergonhado de ter sido pego no flagra pelo próprio pai. Daí salta da cama e pega o travesseiro para esconder uma suposta ereção. Claro que não tem ereção nenhuma, mas ele quer que o pai acredite que sim.
— P-pai — ele diz, se fazendo de atrapalhado. — Você chegou cedo.
— Desculpa — o pai dele fala, se afastando um passo. — Não sabia que você estava com visita. Devia ter batido antes.
— Você nunca bate antes de entrar — João diz. Ele molha os lábios e caminha até a porta, indicando para o pai que é melhor os dois conversarem lá fora, longe de mim. Antes de sair completamente, ele olha para trás e faz um sinal com os olhos esbugalhados na direção do "painel de descobertas", como se quisesse que eu desse um jeito naquilo antes que o pai tenha a chance de botar os olhos no que o garoto anda aprontando nas horas vagas. Daí ele sai e fecha a porta atrás de si. — Oi, pai. Sinto muito por isso
Eu aproveito esse momento para me levantar e saltitar na ponta dos pés até a porta. Arranco com cuidado a cartolina e a enrolo, escondendo de volta embaixo da cama. Daí me sento no colchão e penteio meu cabelo com os dedos.
As vozes de João e seu pai não são particularmente altas, mas consigo escutar uma coisa ou outra mesmo do outro lado da porta.
— Aquela não era a menina que estava com o Paulo no outro dia? — o pai dele está perguntando.
— E o que que tem? — João diz, forçando casualidade à sua voz. — Não nos importamos em dividir.
Eu solto uma risada baixa, meio horrorizada. Claro que ele está brincando, ou eu espero que sim, mas quem é que fala esse tipo de coisa para o próprio pai?
— Ela é bonita mesmo — o pai de João concorda. Eu estremeço, fazendo careta. — Mas estão se cuidando, né?
— Meu Deus, pai. Claro. Claro que estamos. Tudo bem se eu voltar lá? A coitada deve estar apavorada.
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Psicologia Reversa
JugendliteraturVovó Henriqueta acha que houve uma falha monumental na criação de sua neta. Tio Ivan, por outro lado, acredita que a teimosia de Isabel esteja diretamente relacionada aos três Touros em seu mapa astral. A opinião profissional de Tia Anni...