Decido ir a uma lanchonete próxima do hotel em que o Antônio está hospedado enquanto ele dorme, estou morta de fome. Enquanto atravesso a rua vejo duas pessoas abraçadas, parece um casal, a saudade do Josh bate cada vez mais forte a cada minuto. Entro na lanchonete e pego o meu pedido, por sorte tinha um folheto com o número da mesma e já fiz o pedido do hotel, o que pouparia tempo e eu não queria estar na rua quando Antônio acordasse. Assim que saio, vejo que o casal ainda está conversando e se abraçam novamente, me aproximo mais pois terei que passar por eles para atravessar a rua e vejo uma bandana branca. A bandana dele. O cabelo vermelho dela. Mia. Ao perceber isso deixo o meu refrigerante cair no chão e infelizmente faz uma zoada grande o que possibilita eles ouvirem, Josh rapidamente levanta o rosto e nossos olhos se encontram o dele transparece susto e o meu decepção. Ele não esperou muito para voltar pros braços da namoradinha perseguidora.
- Any - ele fala
Tento me recompor rapidamente e saio sem dizer nenhum palavra, mas ele me grita.
- Any, para!
Não tive outra reação a não ser parar, me virei lentamente para eles e ambos vieram em minha direção.
- Não é isso que você está pensando - ele adianta
- Eu não estou pensando em nada
- Que bom, porque não tem nada pra pensar
- Ok, eu posso ir embora agora ou você vai me gritar de novo?
Estava sendo áspera com ele pois não queria demonstrar meus sentimentos, ainda mais que tínhamos uma convidada especial como plateia.
- Não precisa ser grossa com ele Any
- Então agora a stalker tá defendendo o mocinho?
- É Josh, ela merece tudo pelo que está passando. Retiro tudo o que eu te disse sobre reconsiderar a sua raiva e ir atrás dessa daí - ela fala e faz questão de esfregar na minha cara que estava me defendendo pra ele, o que fez meu estômago embrulhar - Você merece coisa melhor, sinto muito não poder te ajudar com isso, agora eu realmente tenho que ir - Mia fala e se despede do Josh com outro abraço, quantos abraços eu vou ter que dar nela até quebrar todos aqueles ossos que ela tem no corpo?
- Qual é o seu problema Any? - ele me pergunta
- Não tenho nenhum e você?
- Tenho vários e você é um deles. Que porra você está fazendo com aquele psicopata?
Tento não transmitir nenhuma reação e nem sentimento, mas a minha vontade agora era de pular em seus braços e enchê-lo de beijos.
- Eu percebi que ele é o melhor pra mim
- Enquanto estava na minha cama? Depois de eu te fazer sentir todo aquele prazer, ou antes quando eu estava declarando o meu amor por você?
Josh está cada vez mais perto de mim e eu não consigo mais disfarçar o desejo que sinto por ele, o calor que percorre as minhas veias.
- Josh, por favor... Eu não posso
- Não pode o que?
Ele estava perto o bastante para eu sentir sua respiração pesada contra o meu rosto, fazendo-me arrepiar cada centímetro do meu corpo. E ele continuava se aproximando, nossas bocas estavam a centímetros e o desejo iminente em nossos olhos denunciavam qualquer tipo de ação. O estacionamento estava vazio, era o lugar perfeito para dois amantes secretos desfrutarem do amor que sentem um pelo outro.
- QUE PORRA ESTÁ ACONTECENDO AQUI?
Sinto o meu cabelo sendo puxado com tanta força que era capaz do meu cérebro sair de dentro da minha cabeça, fui arremessada no chão tão bravamente que agora estou com leves arranhões pelo corpo. Antônio caiu como um feroz em cima do Josh e tenta se defender em vão, seu rosto já está todo ensaguentado e eu não encontro forças para gritar ajuda, felizmente Mia ainda estava no estacionamento, viu tudo acontecer e chamou por ajuda. Dois caras tentam tirar o Antônio de cima do pobre garoto que deu um tom de vermelho para a neve que o rodeava.
- Para, por favor - consigo formar algumas palavras em minha boca, mas sinto minha cabeça doer mais ainda. Assim que termino a mini sentença vejo Antônio vir em minha direção, ele puxa meu braço com tanta força que eu não tenho como lutar contra agora ele me leva para algum lugar, quem sabe o meu fim seja hoje. Olho mais uma vez para o Josh que está sendo amparado pela Mia e os outros dois caras resolveram não se intrometer mais, o que fez a garota de cabelos vermelhos esbravejar sobre eles com vários xingamentos, meu olhar encontra os olhos azuis do Josh e por alguns segundos sinto pena de nós dois - Desculpa - balbucio na tentativa de fazer ele entender que aquilo não é culpa minha e recebo um aceno como resposta. Até que dobramos a esquina e sou arremessada novamente na calçada.
- Anda logo, entra pro hotel AGORA!
Lutar contra o Antônio sempre foi em vão, não é a primeira vez que isso acontece a única vez que eu tentei revidar algo, as coisas não ficaram muito bem.
- Pare de chorar, você não acha que já chamou atenção demais não, vagabunda?
E ele deposita mais um chute sobre a minha barriga, tento me levantar sem fazer alarde, porém a dor que eu estou sentindo não me permite isso. Sigo em direção ao hotel, caminhando contra a minha própria vida, alguns passos para minha liberdade. Eu penso na minha mãe, na minha irmã, meus amigos do Now United e no Josh. Pobre Josh. Penso em como ele deve está agora, a caminho do hospital, toda a sua família indo ver ele, os nossos amigos tentando entender o que aconteceu e a única porta voz disso tudo é a garota dos cabelos vermelhos. E eu aqui, cercada por hematomas e dores, caminhando até o quarto do hotel, pedindo a Deus que nada de ruim aconteça com quem eu amo. Nada do que acontece comigo.
- O que foi aquilo no estacionamento, Any? Você é minha namorada e estava quase beijando outro cara - Recebo um tapa na cara - Você não pensa em mim, não? - Mais um tapa - Eu também tenho sentimentos nesse caralho - E outro. Uma sequência, tapas na cara e chutes na perna. Quanta maquiagem eu terei que comprar para tapar tudo isso.
- Não foi culpa minha - falo em vão
- Não foi culpa sua? Quem mandou você sair de casa?
- Eu estava com fome
- Tem comida na porra da geladeira. Você acha que me engana? Eu sei que você marcou de se encontrar com ele, você é uma puta que não se respeita!
Ele deposita mais um tapa em meu rosto, eu já estava sem forças para lutar, e agora está claro que eu estou destruída. Vejo ele virar as costas e ir para o quarto enquanto eu deito no sofá, deixando minha marca de sangue por ali, outros cantos da casa também está marcado e ficará pra sempre. Lembranças de uma jovem moça que tinha tudo para ser bem sucedida e no final acabou namorando um psicopata. É a vida escolhe quem merece ser feliz ou não. Talvez essa seja a minha forma de ser feliz. Talvez eu seja feliz.