Capítulo 14

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Quando Adolfo partiu, Mauro ficou em silêncio, pensando longe. Precisávamos resolver aquilo e o cérebro dele era rápido nessas horas.

— Rômulo, vem comigo ao terreiro. Tenho que te falar uma coisa.

Eu acompanhei Mauro até nos afastarmos bastante do rancho. Paramos ao lado de um pé de carambolas que gotejava a chuva do dia anterior em nossas cabeças.

— Escuta. — Cochichou ele — Se a gente não ajudar o Adolfo, acha que ele pode dar problema?

— A história de que somos os assassinos da menina pode começar a fazer sentido se a filha dele não aparecer. — Me pareceu óbvio. Não havia saída.

— Tá certo. — Ele olhou para o longe, com a mandíbula tensionada. Dava para sentir seus pensamentos se alinhando — É um dinheiro que entra também. O Adolfo tem dinheiro?

— Claro que tem. A gente recebe pra matar e ele é a ponte. Mas como vamos saber o que fizeram com a Martinha?

— Acho que podemos começar a usar a Rosa. — Ele se virou para mim — Lembra do que eu disse quando a conhecemos? Ela pode ser útil e acho que já confia bastante em você.

— Como? — Perguntei, desejando que a resposta fosse diferente da que eu imaginava.

— Você conhece meu plano desde o início.

De fato eu conhecia. Desde o primeiro momento Mauro ficou obcecado com a ideia de usar Rosa como uma "rata", que era como ele chamava as mulheres que trabalhavam nas casas grandes. Elas nos passavam informações sobre tudo que descobriam. Era assim que praticávamos alguns crimes mais difíceis sem deixar pistas.

— Mas seria diferente. — Disse ele, entusiasmado — Colocar a Rosa naquela fazenda não seria apenas para trazer informações.

— Também seria para implantar uma bomba. — Completei, preocupado com o destino de Rosa.

Mauro ainda pensava longe.

— A gente pode dar um jeito de colocar ela na casa do Juca como empregada nos fins de semana. — Disse ele — É quando o lugar fica mais movimentado.

— Ela já trabalhou lá. — Comentei, olhando para o rancho silencioso e imaginando se alguém nos espionava — Descobri no dia que fui com ela falar com o Juca Moreira.

— Então vai ser mais fácil do que pensei! — Ele comemorou — Já trabalhou uma vez, pode trabalhar duas.

— Não acredito que a Rosa queira.

— Claro que não. — Mauro já esperava isso — Ela vai ter que pensar que está fazendo algo para encontrar a Martinha e salvar a sua pele, Rômulo. Parece que ela gosta de você.

— Deixa de idiotice.

Ele riu, mas estava distraído demais para iniciar o deboche.

— Precisamos pensar um jeito de colocar a Rosa na fazenda do Juca Moreira. Ela lá dentro pode descobrir muita coisa.

— Duvido que o velho aceite. — Falei.

— E não ia aceitar por qual razão?

Tive de contar a Mauro como o fazendeiro ficou furioso e chamou Rosa de bruxa no dia em que ela o desarmou no truque de cartas.

— Você disse que ela trabalhou pra mulher do Juca, certo? — Meu irmão não pareceu menos animado.

— É. Parece que tem tempo.

— A gente pode dar um jeito de fazer a velha querer a Rosa de volta, irmão. Se a mulher quiser, duvido que o Juca vai falar alguma coisa. Ele faz tudo pra não aborrecer ela.

a Flor e o VentoOnde histórias criam vida. Descubra agora