Capítulo 4

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Durante as semanas seguintes, Mauro tentou persuadir os membros da família Rodrigues a falar sob suas suspeitas. Ainda estava curioso, sedento por uma história de assassinato em que não era ele o assassino.

A família inteira já estava trabalhando no rancho e os víamos quase todos os dias. Cada um parecia saber quem era o responsável pela morte de Mudoca, porém, naquela época, e mesmo agora, Divino não é um lugar em que as pessoas abram a boca para denunciar um crime. Mauro falou com cada um dos irmãos, mas eles desconversaram, então ele pensou logo na menina.

— Fala com a Rosa, vai, Rômulo. Descobre se ela sabe quem foi.

— Por que não fala você?

— A caipirinha feia foge de mim. Sempre que eu tento me aproximar, ela dá um jeito de arrumar outra coisa pra fazer.

— Queria o quê? Depois do deboche que você fez dela!

O demônio riu e me deu o ultimato:

— Vai ter que ser você, irmão. Vai ter que falar com a formosa.

— Pra quê te interessa saber quem matou aquele homem?

— Ué, temos que saber quem são os assassinos da região. — Disse ele — Já disse pra você que essa é uma terra perigosa, Rômulo. E essa menina, pode acreditar, ela tem algum segredo. Temos que ganhar ela, você tem que fazer ela gostar de você.

— Não vou namorar com ela!

— Não tô falando disso, homem, tô falando de ser amigo dela. Mas se quiser outra coisa, aí com você.

Olhei feio para ele. Nunca gostei desse tipo de jogo, mas Mauro estava acostumado a se envolver com mulheres das regiões em que passávamos para conseguir informações sobre o que acontecia nas cidades. Aquele era ele, não eu.

Depois de uma longa conversa com meu irmão, no entanto, acabei convencido a ir falar com a menina. Por mais que não fosse do meu feitio, me senti inclinado a fazer isso, como se uma estranha força me empurrasse para ela. Ainda me sentia incomodado demais por Rosa.

Era fim da tarde quando ela entrou na cozinha e não disfarçou a surpresa ao me ver sentado à mesa. Desde que a família dela havia começado a trabalhar ali, eu quase não a via. Eu não era de ficar muito em casa.

Observei seus braços magros e me espantei com a força deles. Ela vinha trazendo um fecho de lenha do terreiro para acender o fogo e pareceu bastante incomodada ao me ver ali, olhando para ela. Durante todos aqueles dias ela e a mãe revezavam no trabalho no rancho enquanto os homens iam para os pastos consertar as cercas. Cada um tinha o seu lugar.

— Acabei de coar o café, dotor. Aceita?

— Um cafezinho é sempre bom. - Respondi.

Ela estava mais corada naquele dia, mas seguia abatida e estranha. Não consegui deixar de reparar nela enquanto começava a fazer o jantar.

— Deve ser ruim ser só uma filha em casa, não é? — Perguntei quando ela colocou a caneca de café preto à minha frente. Precisava puxar algum assunto, mesmo sendo péssimo nisso.

Rosa pareceu surpresa por eu lhe dirigir a palavra. Eu mesmo estava. Não achava nem um pouco estimulante a conversa com mulheres.

— Não, dotor, num fico triste, não. Eu fico alegre quando vejo pouca menina nas família.

Estranhei aquela resposta.

— Os homens são melhores na sua opinião?

Pude ver seu perfil à frente do fogo enquanto ajeitava os pedaços de madeira pelo buraco do fogão à lenha. Ela estava sorrindo discretamente.

a Flor e o VentoOnde histórias criam vida. Descubra agora