Capítulo 36

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Valéria me puxou pela mão e entramos no quarto rapidamente. Ela foi logo tirando a roupa, revelando sua pele clara, coberta de sardas. Fiquei louco por ela na mesma hora, observando sua bunda, suas pernas e seus seios enquanto estava de costas. No entanto, não consegui me mover. Me senti mal, ainda que a desejasse.

"Rosa. Rosa. Rosa." O nome se repetia como um eco em meu pensamento, como uma chicotada cada vez mais violenta.

Valéria tentou me beijar, mas me afastei. Ela não notou nada, então beijou meu pescoço e tentou tirar minha roupa, desabotoando com pressa.

— Para. — Segurei sua mão esquerda quando quis que eu colocasse a mão entre suas pernas. Estava arrependido do que estava fazendo.

— Deixa de ser difícil. — Ela sorriu e passou a mão direita na frente da minha calça, sussurrando em meu ouvido — Tá duro que nem pedra. Vai me negar ele, vai?

Fechei os olhos com força e joguei Valéria na cama, montando em cima dela. Tirei minha camisa e o primeiro contato da minha pele com a dela me causou extrema angústia e me afastei, como se tocasse em um espinheiro. Comecei a me odiar por não conseguir. Era tão fácil. Sempre havia sido. Mas eu estava me sentindo sujo apenas de estar naquele quarto. Sabia que me sentiria ainda mais se dormisse com ela enquanto Rosa estava sozinha em nossa casa.

— Não dá. — Me levantei e vesti a camisa de volta. — Eu vou embora.

— Cê tá doido? O que foi? — Ela se sentou na cama, completamente nua, abrindo e fechando as pernas em minha direção.

— Se veste! — Virei o rosto — Agora!

Valéria ficou muito irritada quando a rejeitei de forma tão inesperada e sem lhe dar nenhuma explicação. Vestiu as roupas de qualquer jeito e veio correndo atrás de mim quando saí do quarto às pressas e avancei pelo terreiro. Ela gritava a plenos pulmões:

— Ele broxou! Por isso tá saindo correndo. — Ria ela, falando para os garotos ao redor — Rômulo num é homem! É um viado! Deve gostar é de dar a bunda, não é? Quem sabe um desses homem te quer!

Parei no meio do terreiro e me virei devagar. Vi o medo em seus olhos quando fiz isso, o que era confirmado pela palidez repentina de seu rosto. Valéria me desafiava sempre, como se não tivesse medo da morte e talvez não tivesse mesmo.

— Vai pra sua casa. — Falei entredentes — A minha paciência é curta, Valéria. Eu não sou de matar mulher, mas posso abrir uma exceção se continuar me atentando!

Ela ficou calada, assim como os garotos que ali estavam. Me virei para eles e avisei:

— Digam ao meu irmão que eu estive aqui e peguei uma arma que tinha no meu quarto e algumas roupas. Não quero que ele pense que roubei alguma coisa. Só peguei o que é meu. Ouviram?

Eles balançaram a cabeça e falaram um "Sim, dotor." bastante angustiado.

Subi outra vez o pasto com o embornal nas costas, furioso de todas as formas possíveis. Meu corpo ainda estava tenso e excitado, mesmo que eu negasse. Era frustrante não poder ser simplesmente o homem vadio que sempre havia sido.

Assim que cheguei, vi Rosa brincando com a menina na entrada da casa, ao lado dos cães que as protegiam. Ela estava rindo com a criança em seus joelhos, mas se assustou ao me ver.

— Já terminou seu serviço? — Perguntei com voz rude ao parar à frente delas.

Rosa apenas fez que não com a cabeça, diminuindo o sorriso.

— Então termina!

Entrei em casa, deixando-a do lado de fora e sei que seus olhos me seguiram enquanto eu passava. Precisava esfriar a cabeça longe dela. Estava com raiva de Rosa, jogando nela a culpa por não poder estar com outras mulheres e de estar preso àquele casamento. Não conseguia entender naquela hora que não era ela que me impedia de nada, nem mesmo aquele casamento. Todas eram cordas invisíveis. O que me prendia era eu mesmo, era o que eu sentia.

a Flor e o VentoOnde histórias criam vida. Descubra agora