Capítulo 33

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Era estranho ouvir um chamado àquela hora. Deixei Eva brincando no chão e fui para a janela ver quem era. Assim que abri e espiei lá fora, vi o rosto abusado e malicioso de Mauro. Sua magreza não denunciava o quão forte poderia ser. Seu rosto queimado de sol e seu sorriso de lado mostravam um jeito traiçoeiro que ele não conseguia disfarçar.

— Bom dia, Rômulo. Vou dar umas voltas pela cidade. Quer vir?

— Tá louco? — Lancei um olhar para ele, pensando que assim entenderia que aquela não era uma boa ideia — Eu acabei de casar. Você nem tinha que estar aqui.

No mesmo instante que disse isso, me pus a pensar no quanto aquilo me importava. Será que realmente me importava? Era um casamento de mentira ou não? A confusão tomava conta da minha mente.

— Vamos, aí a gente conversa um pouco e distrai. — Ele parecia curioso para saber da minha noite. Tinha certeza que era por isso. — A não ser que a mulher já tá te prendendo. Um dia de casado e já tá assim?

— Vai sozinho.

— Vai me fazer essa desfeita, irmão? Já tá assim? — Mauro suspirou e ficou mais sério — Anda, preciso falar com você. Não estou aqui atoa.

O rosto dele tomou uma expressão mais grave e comecei a pensar se realmente havia uma razão para tal pedido. Não conseguir deixar de pensar no dia em que o vi arrastando alguém pelo mato e assassinando, como se fosse um porco que o dono abate. Mauro não era nem de longe a melhor pessoa para se ter por perto. No entanto, estar longe dele também poderia ser arriscado.

— Já estou indo. — Respondi — Mas que seja rápido.

Quando me voltei para olhar para Rosa, ela estava com o rosto carregado de decepção, mas logo baixou a cabeça e foi cuidar de preparar o almoço, não me deixando ver o que havia em seus olhos. Enquanto colocava lenha no fogão, fui até ela, me senti culpado de repente. Parei atrás de seu corpo e segurei sua cintura, falando em sua nuca.

— Eu volto logo. — Sussurrei — Não vai ficar sozinha por muito tempo.

Ela fez que sim, sem me olhar. Deslizei minhas mãos de cima a baixo em sua cintura, como um carinho sem jeito. Me posicionei atrás dela, sentindo seu aroma e ouvindo sua respiração. Senti vontade de abraçá-la, mas parecia tão estranho fazer isso.

— Quer que eu traga alguma coisa da venda? A menina precisa de algo?

Ela fez que não, outra vez sem me olhar. Observei a pele lisa em seu pescoço, estava levemente vermelha dos beijos e mordidas da noite anterior. Senti vontade de lhe dar mais um beijo ali. Aquela pele morena pedia por carinho, por toque e por dedos carinhosos. No entanto, não consegui me mover. Lutava bravamente contra mim mesmo.

"Não sinto nada por ela. Foi só desejo de momento." Pensei, me afastando "Ela me dá pena e me desperta a vontade de proteger. É isso. Não sinto nada por ela além disso."

Soltei sua cintura, indo para longe, sentindo uma tontura repentina. Era como se ela me afetasse mais do que eu poderia entender. Rosa continuou ali, ajeitando a lenha enquanto eu ia até o chão e pegava Eva no colo.

— Tudo bem, minha menina? Quer um doce? Vou trazer pra você um pirulito.

Pilito! — Ela tentava falar.

— Gosta?

Ela balançou a cabeça que sim.

— Vou trazer então. — Lhe dei um beijo na testa e a coloquei de volta no chão.

As deixei ali na cozinha, depois lavei meu rosto do lado de fora da casa. Quando estava pronto, segui para até onde Mauro me esperava ao lado de seu cavalo. Peguei a imperatriz no pasto ali por perto, a selei e fui com ele até a estrada que ficava logo abaixo.

a Flor e o VentoOnde histórias criam vida. Descubra agora