Capítulo 6

352 68 96
                                    

Os pensamentos sobre o caso do assassinato de Mudoca prosseguiram nos dias seguintes. Comecei a pensar muito no tal fazendeiro que o teria matado.

Perguntei ao meu irmão o que achava enquanto cavalgávamos pelos arredores, por estradas esburacadas e lamacentas. Estávamos com nossas armas na cintura e os chapéus largos na cabeça, já nos sentindo em casa.

— Se ele não mexer com a gente, não vamos mexer com ele. Ele mata de um lado e nós, do outro.

— E a família Rodrigues? — Perguntei — Vamos deixar de lado o que houve?

Mauro balançou a cabeça.

— De novo, Rômulo, se não começar a incomodar, vamos ficar assim, cada um no seu canto. Só tem uma coisa, temos que ficar de olho no Juca. Então, vê se continua perto da Rosa. Ela sabe de muita coisa que acontece na casa daquele homem.

— Ela é só uma menina boba.

— Não é mesmo. — Ele riu com malícia — Ouvi algumas coisas sobre ela.

— Ouviu o quê?

— Nada. Preciso confirmar antes de te dizer. — Ele me olhou pelo canto do olho — Agora vê se faz a menina gostar de você já que o resto da família não gosta.

— Tá certo. — Concordei. Era um fato que todos eles, talvez exceto o senhor Antônio e Rosa, gostavam muito mais de Mauro do que de mim. Meu irmão era dado à brincadeiras, era alegre e adorava estar no meio das pessoas, enquanto eu vivia fechado em mim mesmo e perdia a paciência muito fácil.

— O seu problema vai ser a Valéria. — Comentou ele — Ela tá vendo você muito com a Rosa. Isso vai dar encrenca.

— Vai nada, Valéria é só uma puta.

— Ela tá mais pra sua mulher! — Ele riu.

Mauro e eu quase nunca estávamos no rancho. Vivíamos circulando pela região procurando mulher. A oferta nunca foi pouca para nenhum de nós dois, já que as moças tinham esperanças de se casar bem e nós dois vivíamos realmente muito bem para os padrões da época.

Valéria foi encontrada em uma dessas minhas voltas e cometi o erro de levá-la para o rancho em vez de ficar com ela em qualquer paiol. Depois disso, a mulher passou a nutrir esperanças que eu covardemente não destruí.

— Vai acabar se casando. — Mauro continuou a provocação enquanto passávamos ao lado de um pomar, com jabuticabeiras repletas de frutos — Espera mais um pouco e ela aparece de barriga cobrando casamento.

— Se aparecer, eu pego meu filho e mando ela embora. Não me interessa ter mulher, mas um filho eu não nego.

Mauro notou meu tom acusador.

— Tá sabendo que peixe morre pela boca, irmão? — Ele fixou os olhos desaforados em mim, pois sabia que eu o julgava pelo que fez com Josefa e o bebê — Só espero então que Valéria esteja mesmo cuidando pra não embarrigar.

— Ela me disse que sim.

— Mulher diz muita coisa, Rômulo. O que não é mentira, é delírio. Fica esperto.

Me irritava que ele ficasse me alertando como se fosse meu pai. No entanto, meu irmão fazia esse papel na minha vida há tempo demais para que eu conseguisse tirar dele.

De qualquer maneira, meu irmão tinha certa razão. Valéria estava a todo momento comigo. Ela me acompanhava à cavalo por todos os lugares e estava quase todos os dias na minha cama. Não havia nenhum papel assinado que nos ligasse, mas ela já fazia as vezes de minha mulher.

a Flor e o VentoOnde histórias criam vida. Descubra agora