Capítulo 05 - O último fim de semana com o diabo

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― Eu sou gay! ― consegui dizer finalmente em voz alta.

Não sabia o que poderiam pensar. As pessoas têm a mania de nos surpreender, às vezes de uma forma positiva, outras de forma negativa, mas não deixava de aterrar-nos sempre. Queria obviamente que a reação fosse positiva, mas sabia que nem todos agiriam conforme eu queria, afinal a vontade não era minha e uma coisa aprendi, a terra não gira ao meu redor, senão me chamaria sol.

Meu coração batia forte. Meu medo sempre se sobressaía nessas ocasiões e ali não era diferente. O que esperar da completa imprevisibilidade. O coração chega a errar os compassos da batida.

Era a primeira vez que eu dizia em voz alta. Eu finalmente admitira aquilo para mim mesmo. Finalmente já não me importava em se assim. No entanto era uma pena que repetia aquilo em frente ao espelho no banheiro de minha casa. Eu queria um surto de coragem como a de dias anteriores quando gritei com Geórgia. Queria confrontar meus pais. Provar-lhes que não há nada de errado em mim. De que sou igual. De que sou humano.

Talvez ainda houvesse muito a trilhar. Nem sempre se acerta o caminho da primeira vez. Ainda mais estando sozinho, como eu estava. Seria apenas eu contra o mundo? Roy deixara bem claro que não queria lutar aquela batalha agora. Acho que eu deveria me contentar com a escuridão por algum tempo até finalmente me debandar para a luz e mostrar quem realmente sou. Era apenas uma questão de tempo.

Na vida de um garoto gay às vezes desejamos a liberdade de ser quem realmente somos, no entanto lembramos o quão doloroso pode ser ao se revelar. Bem, poderia me contentar enquanto estivesse tudo certo entre mim e Roy com às escondidas. Talvez achasse a coragem que faltava algum dia.

A pior parte de não ser assumido é esse grito vazio no peito que se carrega. Como se lá dentro gritássemos para que nos escutassem, mas fosse totalmente abafado pelas paredes da indecisão. Isso te faz ficar mais fechado e de uma certa forma, mais temperamental. A pior sensação já sentida. É como estar tapando sua própria respiração, se sufocando dentro do próprio oceano de emoções.

Era finalmente sábado. Eu deveria estar feliz, pois era final de semana ia acordar tarde e assistir a vários filmes, porém não veria o Roy, o que era bem chato para mim. Me sentia assim, não porque estava com uma seria paixonite aguda, mas porque ele era a única coisa real no meu verdadeiro mundo. Eu não precisava fingir para ele. Ele sabia exatamente como eu era.

Por todo o fim de semana eu iria ver alguns filmes gays pelo meu computador e pensar no quanto ia querer viver aqueles momentos. Um pouco patético, eu sei, mas era a única forma de conter minha ansiedade para o próximo encontro entre mim e Roy.

Aquele era o último fim de semana do Roy livre, pois nos próximos estaria jogando com o time. Na mesma semana dos jogos os treinos passavam a ser mais intensos e rigorosos. Provavelmente não veria Roy pelo resto da semana, exceto nos corredores da escola, mas não poderia me relacionar fisicamente com ele. Não poderia beijá-lo ou abraçá-lo. Aquilo me desesperava.

Minhas esperanças não se extinguiram. Eu ainda esperava que viesse à noite pela janela do meu quarto para me ver. A gente não se veria direito pelo resto da semana e sei que estaria cansado o tempo todo pelos treinos exaustivos, portanto esperava que me visitasse para aproveitar ao máximo seus últimos dias, disponível.

Completamente deprimente. Obviamente eu não tinha nada melhor para fazer. Queria ter, mas não tinha. Não queria ir para o batismo da minha prima Ellen. Minha mãe até tentara me convencer a ir, mas a disse que não queria ir à nada relacionado àquela igreja novamente.

Eu tinha a casa toda para mim. Era naquele momento que eu queria que Roy aparecesse pela minha janela, mas ele não iria ali durante o dia, era certo. Durante o dia ele usava a porta da frente, como fora nos dois dias que ele veio à minha casa.

O Diabo na minha JanelaOnde histórias criam vida. Descubra agora