Três meses depois...
Eu estava me arrumando para sair com Roy naquela tarde. Nós estávamos comemorando três meses de namoro e as nossas férias foram simplesmente incríveis. Roy se mostrara muito fofo para comigo. Assumimos o nosso namoro e meus pais que já gostavam dele, não fizeram tanto caso de nosso relacionamento, o que me deixou bastante feliz.
Eu tentava achar uma roupa que me coubesse bem para aquela ocasião. Queria achar algo especial porque queria me sentir bonito para sair com Roy. Tanto eu quanto ele estávamos muito bem assumidos. Como fofocas por parte da vizinhança era algo rápido de se correr, em pouco tempo toda a população do bairro já sabia sobre mim. Às vezes alguns até soltavam piadas para os meus pais por eles serem evangélicos e eu ser gay, o que era o total oposto da religião, sendo como uma rebelião. Meus pais os ignoravam e em outras vezes mandavam eles irem cuidar da vida deles.
Os pais de Roy reagiram melhor do que se esperava. Quando ele me contou que os pais dele não se importaram por ele ser gay, fiquei bastante surpreso e feliz ao mesmo tempo por ele. Aquilo fez ele perceber que havia perdido muito tempo sendo quem não era. Maior parte do motivo pelo qual ele não queria se assumir, era ser a chacota e perder a sua mordomia como um cara popular. Agora nada disso parecia importar para ele e isto o próprio me confessara.
Aquele ano escolar que se aproximava, era um salto na escuridão. Roy e eu sabíamos que sofreríamos por parte de alguns e outros nos dariam maior apoio. A única coisa boa daquilo tudo e que fazia eu querer mais ainda que aquele ano escolar chegasse para o nosso último ano, era que agora, Roy e eu estaríamos juntos durante todo o período letivo sem medo se ser quem éramos.
No nosso último ano, Roy não seria mais o mesmo cara popular de antes, isso era óbvio. Dener assumira o lugar dele na vida de Sarah Parker, que na noite da festa revelara que traía Roy com o seu melhor amigo Dener, pelas suas costas e aquilo só fez ele perceber que não estava perdendo nada significante. Foi o chute final para Roy sair de uma vez por todas da vida daqueles falsários. Na escola sabia que eles poderiam implicar conosco, mas quem ligaria para aquilo? Desde que Roy e eu estivéssemos juntos, o mundo opressor ao nosso derredor era só um detalhe supérfluo para lidar.
Franklin e Lisa estavam tão bem quanto Roy e eu. Já haviam feito sua comemoração de três meses antes mesmo de nós. O relacionamento deles parecia mais forte a cada dia. Os dois unidos, eram como duas engrenagens que se encaixavam perfeitamente. Brigas entre casais eram inevitáveis, mas eles nunca deixavam aquilo abalar o seu relacionamento. Ainda não tiveram nenhuma briga seria nesses três meses que os afastasse por mais de semanas. O mesmo acontecia comigo e Roy. Tudo era uma mar de rosas para todos nós e parecia ficar cada vez melhor.
Roy se dava muito bem com os meus amigos. Frank era uma cara cativante e Lisa era meiga como uma flor de jardim. Ele havia entrado no meu mundo de cabeça depois que deixara o seu mundo. Aquilo só mostrava que pessoas de mundos distintos poderiam ficar juntas desde que o amor se sobresaísse à tudo. Para ficarmos juntos, Roy tivera de abandonar o seu mundo para viver no meu, isso porque o seu mundo era podre demais para se manter. As pessoas que ele deixou para trás não valiam o esterco jogado fora.
Roy fora novamente jantar em minha casa, no entanto, dessa vez fora como meu namorado. Papai e mamãe já conheciam ele, mas tentaram passar segurança para ele e algumas advertências para o nosso namoro. Quase que fizeram uma palestra sobre sexo consciente, antes que eu os cortasse. Foi um tanto constrangedor, mas Roy pareceu não se importar e comentou quando conversamos lá fora que queria ter ouvido o que os meus pais tinham a dizer sobre aquele assunto se eu não os tivesse interceptado.
Mais uma vez na frente do espelho eu me perfumava e tentava diminuir o volume do meu cabelo penteando-o. Cheguei meu visual para ver se eu estava adequado e também perguntei a mamãe e a papai o que achavam. Eles responderam que eu estava bastante estilos o, que era o que eu gostava de ouvir sempre que me vestia bem. Eu vestia uma calça jeans com um rasgão no joelho, uma camisa preta e uma jaqueta alaranjada de couro. Estava me sentindo realmente belo. Esperei por mais algum tempo Roy chegar para me buscar.
Não tardou muito para que mamãe chegasse ao meu quarto me chamando dizendo que Roy estava me esperando de carro na frente de casa. Como ele já havia completado dezoito anos, seus pais lhe deram um carro de presente. Corri para encontrá-lo. Antes de sair dei um beijo em mamãe, que ficou na porta me vendo entrar no carro de Roy, acenando e com um sorriso suave carimbado em sua expressão facial.
- Senhora Evans! - cumprimentou Roy a minha mãe com um leve gesto de cabeça um aceno de mão.
- Cuidado com meu filho viu? - gritou ela colocando as duas mãos ao redor da boca para o som sair mais alto.
- Pode deixar!
- Se cuidem! - gritou ela voltando a acenar. - E não façam nada que eu não faria!
- Pode deixar mãe! - gritei do carro, enquanto Roy dava a partida e saía aos poucos do lugar. Em breve o carro saiu por completo e passou a andar para a frente.
Roy dirigiu até o centro da cidade e estacionou num vaga de carros específica. Descemos do carro e ele se certificou de trancar todas as portas. À nossa vista, tinha um carrinho de sorvetes, que logo disse a Roy que iria comprar uma para mim. Ele se ofereceu para pagar e eu não quis, mas ele insistiu tanto que eu acabei aceitando. Ele comprou duas casquinhas para nós. Peguei a minha e comecei a tomar todo o sorvete de creme, meu sabor favorito.
Caminhamos um pouco pela rua tomando os nossos respectivos sorvetes, quando senti Roy pegar a minha mão. O olhei precisamente e ele me direcionou um sorriso que quebrava toda e qualquer barreira dentro de mim. Não resistia aquele sorriso. Ainda tomando o sorvete, caminhamos de mãos dadas pelo resto da rua tranquilamente sem nos importar mais com os olhares tortos que nos lançavam para nós ou mesmo os cochichos e risadinhas que algumas pessoas direcionavam. Não tínhamos mais medo, nem vergonha de nada. Seguíamos livres para demonstrarmos quem nós éramos de verdade doesse a quem doer.
Aquela sensação de estar andando na rua livremente com o meu namorado, de mãos dadas e vivendo um verdadeiro conto de fadas, era uma sensação distante para mim há certo tempo atrás. Agora era tudo real e perfeito para mim. Me sentia livre e satisfeito comigo mesmo sem constrangimento da pessoa que eu era.
De repente um carro azul marinho passa por nós e ouvimos um bando de caras gritar de dentro do carro: "Seus viadinhos de merda". Uma garrafa de cerveja até voou de dentro do carro e explodiu na calçada quando colidiu com o chão, fazendo Roy e eu termos um sobressalto com o acontecimento inesperado. Ouvimos mais algumas risadas enquanto o carro se distanciava de nós.
- Você está bem? - perguntou Roy acariciando meu rosto ao ver que eu tinha ficado bastante assustado com tudo.
- Estou! - respondi baixinho.
Roy beijou a minha testa e me abraçou.
- Sabe de uma coisa Roy? - iniciei minha fala. - As pessoas são muito cruéis ainda com relação aos gays.
- Acho que as pessoas não se importam com o fato de sermos gays, mas com o fato de que somos felizes e não suportam isso! - disse ele um tanto reflexivo.
- Acho que você tem toda razão!
Ele sorriu e me deu um beijo nos lábios no meio da rua, sem se importar com nada. Éramos apenas ele e eu em um mundo só nosso.
- Eu te amo Charlie Evans!
Sorri timidamente com aquela declaração repentina e senti todo o meu rosto aquecer. Eu sabia que estava corado, pelo ardor que sentia naquele momento, mas não me importava com aquilo, tudo o que eu sabia era que o sentimento que eu sentia por ele era tão real quanto eu mesmo.
- Eu também te amo Roy Raymond!
Sorrimos um para o outro e voltamos a andar pelas ruas com as nossas mãos dadas, avante, como se nada mais importasse.
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O Diabo na minha Janela
RomanceCharlie marca encontro com um completo estranho que havia se correspondido nas últimas semanas, mas ao chegar ao ponto de encontro, descobre que o garoto pelo qual estava sentindo sentimentos intensos, era Roy, o cara mais popular da escola e mais b...