Chegamos sãos e salvos.
Descemos do carro e papai estaciona bem na frente. Tia Jill aparece e grita na porta. Ela está com algum tipo de camisola e um frasco de vidro na mão com um líquido amarelo dentro. Supus que era o óleo da unção que ela ungia cada um que passasse pela casa dela. Mamãe foi a primeira. Ela abriu o frasco e coloco seu dedo sobre a boca do frasco e em seguida virou o de cabeça para baixo, pressionando seu dedo para não sair nada. Voltou à colocá-lo normalmente e então estava com um pouco do óleo na ponta de seu indicador. Ela passou na testa de mamãe e falou algumas palavras que sinceramente não me interessava em nada decorar.
Era a minha vez. Me submeti àquilo ou não teria como entrar na casa santa da tresloucada tia Jill. Assim que eu estava "purificado", entrei e ela fez o mesmo com papai. De todas as casas que eu não queria ficar, a da tia Jill era de todas a pior. Não queria de maneira alguma ter que ficar ali, mas eu tinha e queria morrer por isso. Era capaz de jogar óleo da unção até nas minhas cuecas.
Nos arrumamos para ir ao casamento mais tarde. Seria às três horas da tarde, então tínhamos apenas um pouco tempo para nos arrumarmos e ficarmos totalmente prontos para seguir até onde o casamento seria. Ainda não sabia onde, mas tinha quase certeza de que iria acabar parando numa igreja, o último lugar que jurei ir na face da terra depois de ter finalmente consegui do sair dele, mas parece que aí estava a ironia do destino, tudo indicava que ia ter que descumprir a minha própria regra contra a minha vontade. Que ótimo! O pior de tudo, é que eu não podia fazer nada quanto a isso.
Quando todos ficamos prontos para sair, inclusive a tia Jill, que estava com um vestido rosa florido para ir ao casamento e sem maquiagem alguma no rosto pondo um coque. Não parecia estar muito adequada para ir a um casamento, mas ela estava se achando linda. Não podia opinar no senso de moda dela. Fiquei em silêncio e a reprovei apenas mentalmente. Saímos todos de carro rumo ao casamento, todos bastante jubilantes, eu como se fosse a um enterro de um parente distante.
Pensei que ia ter que entrar numa igreja para contemplar o casamento, mas não foi o caso. Estávamos no jardim da casa dos pais de Amber. Provavelmente o pastor iria castelos ali. Pelo menos aquilo de bom acontecera. Não tive que quebrar o meu voto pessoal a mim mesmo. Respirei aliviado e dei até um leve sorriso no canto da boca enquanto procurávamos um lugar para sentar.
Eu de jeito nenhum queria estar ali sentado esperando a tão ilustre entrada triunfal da noiva que estavam todos tão babosos para vê-la em todo o seu deslumbre. Não me importava nem um pouco. Estava cercado de pessoas extremistas que julgavam serem melhores que todo mundo. Pessoas que não se preocupavam com a salvação de ninguém, apenas em condenar as pessoas ao seu redor, achando-se no direito de tal ato. Olhava para todas conversando e sobre o que elas falavam e como eram secas. Pessoas que se achavam cheias de Deus, mas estavam vazias. Pela primeira vez não senti ódio. Comecei a ter pena, olhando o tamanho da ignorância que carregavam.
Já eram quase quatro horas da tarde e a noiva ainda não havia chegado. O casamento fora marcado às três e até agora nada da noiva. Entendia que era o charme da noiva o atraso, já era uma coisa vista como cultural, porém porque uma noiva se atrasou e quase matou o noivo do coração para gerar um certo suspense, não era obrigatório que outras também fizessem o mesmo. Aquele casamento já não tinha de ser irritantemente maçante, ainda tinha que demorar mais que o normal para fazer perder a paciência.
Mamãe estava ao meu lado conversando com o papai e a cada palavra que eu escutava sair da boca deles, dava uma revirada de olhos. Seus assuntos eram tão secos quanto o de tantos outros que parava para ouvir aqui e ali. Parecia uma daquelas reuniões chatas onde várias pessoas sem cérebro falam asneiras e bebem achando que estão abafando quando tudo o que estão fazendo na verdade é passando uma bela de uma vergonha alheia. Tirando a parte da bebida, o resto era completamente igual.
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O Diabo na minha Janela
RomanceCharlie marca encontro com um completo estranho que havia se correspondido nas últimas semanas, mas ao chegar ao ponto de encontro, descobre que o garoto pelo qual estava sentindo sentimentos intensos, era Roy, o cara mais popular da escola e mais b...