Capítulo 07 - Domingo diabresco

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Eu acordo.

Notei que ainda usava a mesma roupa da noite anterior. Acabei dormindo sem perceber enquanto chorava e fazia de conta que eu estava num vídeo clipe da Lana Del Rey. Eu simplesmente apagara depois disso em cima da minha cama.

Levantei e minha cabeça estava pesada. Eu estava um tanto desnorteado. Olhei no meu celular. Eram dez e meia. Era domingo, mas parecia uma ressaca de segunda para mim. Roy ainda não me enviara nenhuma mensagem desde a noite anterior. Larguei o celular. Prefiri não ficar mais remoendo aquilo. Eu sabia esperar e era o que eu faria, até Roy lembrar que eu existo. Queria ver a dele.

Me dirigi ao banheiro para tomar um banho, já que não tomara na noite passada, capricharia nesse da manhã. Tentei não pensar em mais nada e me deixar lavar tranquilamente pelas águas que se espaziam sobre mim.

A noite passada fora bastante confusa. Fui dado o bolo, terminei uma conversa da pior forma possível com Franklin que só queria ser meu amigo e ainda nem sequer recebera notícias do furão. Estava tudo realmente mal resolvido. O que estaria pensando Franklin de mim? Será que ele esquecera o que eu falei? Esperava que sim, pois tudo que eu não precisava, era alguém no meu pé à fim de descobrir o meu segredo.

Entre pensamentos e expectativas me manti ali durante todo o tempo. Eu até queria fazer algo mais produtivo para livrar minha cabeça de tantos problemas, mas confesso que eu queria ficar ali remoendo meus problemas, criando possibilidades, talvez possíveis soluções, não sei, apenas queria ficar ali e pensar mais.

Meus pais iam à igreja todos os domingos de manhã. Eu geralmente ficava sozinho em casa, desde que abandonara completamente a igreja, então ficava ali sem nada para fazer. Nada de interessante, mas para mim qualquer coisa seria melhor que estar naquela igreja outra vez.

Ir à igreja para mim começou a ser desgastante à partir de um certo tempo. Estar sempre preso a mesma liturgia, tornava aquele sentimento de desgaste bem mais intenso para mim. Era como estar sempre vendo remakes de um mesmo episódio sempre. Mudava uma coisa ou outra, mas no fim era a mesma coisa com algumas adulterações apenas, mas não alterava o rumo final das coisas.

Meus pais eram muito fiéis aquilo. Para eles, aquilo era o mais alto grau da paixão deles. Eles eram tão apegados a isso, que quando larguei a igreja gerou um estardalhaço. Minha mãe principalmente ficou arrasada. Discutimos os motivos para eu não querer mais ir à igreja, sem mencionar o meu segredo, é claro, ou as coisas poderiam ter sido pior do que provavelmente foram. Minha mãe dissera na discussão que preferia morrer ao ver seu filho desviado dos caminhos do Senhor. Ela até chorou dias por esse motivo.

Já faziam mais ou menos uns dois anos que não colocava o pé naquela igreja. Por mais que fora um pouco difícil no começo e meus pais fizessem questão de insistirem de falar em céu e inferno, mas agora minha mãe já fora obrigada a aceitar o fato de eu não querer mais ir àquela igreja pelos motivos que qualifiquei. Por mais que essa idéia ainda a incomodasse, ela aprendera a viver com isso de uma maneira ordinária.

Às vezes ficava imaginando se dissesse a eles em um de nossos jantares que sou gay. Simplesmente levantar e dizer: "Pai, mãe, eu sou gay!". A reação deles talvez fosse igual ou pior a da qual quando me levantei para defender a prima Aidan. Talvez demorassem para processar, mas quando finalmente tivessem digerido àquela informação, fariam um escândalo maior do que de quando declarei que não queria mais ir à igreja. Talvez pensassem que eu era o castigo deles por algo. Talvez como um filho de pais extremamente religiosos, eu fosse realmente a maior decepção, pois eu ia de encontro a tudo que eles criam.

Sempre que desocupada minha cabeça, automaticamente me vinha a lembrança do que Roy fizera comigo na noite anterior. Me perguntava se ele ainda teria ido lá para ver se eu estava ainda, mas não acreditava que ele teria ido realmente. Ele nem sequer me mandara uma mensagem se desculpando ainda. Aquilo estava me magoando gradativamente.

O Diabo na minha JanelaOnde histórias criam vida. Descubra agora