Capítulo 06 - O jogo do diabo

3.3K 235 311
                                    

A semana seguinte estava voando com o vento. Já era quarta e eu estava seguindo o pique da semana com a escola e tudo mais. No entanto seria melhor a semana passar rápido mesmo. Quanto mais rápido os dias se fossem, mais rápido eu poderia ficar com Roy novamente.

Agora na escola, estava tudo diferente. Franklin passara a andar comigo e Lisa, porém antes éramos apenas eu e ela. Confesso que estava gostando da nova mudança. Franklin era um cara bem bacana. Eu estava gostando de quem estávamos descobrindo nele.

Apesar da minha ansiedade me atacar às vezes, mas ainda sim estava sendo uma boa semana para mim. Estava tudo bem. Tudo tranquilo e fluente. Me sentia com uma semana comum novamente, mas vista por outros olhos. Os olhos de alguém que estava inteiramente e avassaladoramente apaixonado.

Estar apaixonado era como viver numa montanha russa, pois fazia nosso coração se sentir intenso o tempo todo. Era como sentir seu coração a todo momento palpitante em seu peito. Era uma sensação exultante.

Eu havia me comunicado com Roy por mensagens naqueles últimos dias. Era ótimo ter o número dele. Podia sempre estar mandando algo para ele em tempo real. Conversávamos quase todas as noites. Só não conversávamos quando ele chegava muito cansado do treino e acabava pegando no sono, portanto quando ele não visualizava, entendia que era isso, pois ele já me avisara bem antes sobre esse possível acontecimento.

O que estar apaixonado não fazia! Eu me sentia completamente renovado a cada dia que se passava. Não era mais como antes, quando eu me sentia sempre cansado de tudo, estava constantemente desmotivado e via o mundo como um lugar monótono. Até os jantares com os meus pais se tornaram mais suportáveis. Estava começando a sentir pena deles por serem tão ignaros.

A ignorância era como o suicídio completo da nossa mente. Como já dizia Aristóteles: "a diferença entre um homem sábio e um homem ignorante é a mesma entre um homem vivo e um cadáver. "A ignorância é a escuridão da mente", segundo as palavras de Confúcio. Todas essas comparações me faziam enxergar, além de tudo, que meus pais não eram realmente culpados de serem tão intolerantes assim, afinal não se escolhe o que se aprende, mas se escolhe seguir seu aprendizado ao adquirir novos pontos de vista e o discernimento da verdade.

A realidade da sociedade, não é que existe certos ou errados, mas é que existe pessoas que não enxergam o ponto de vista do próximo. Existe uma justificativa para cada um. Pessoas não nascem más. Elas se corrompem. Muitas vezes se têm ódio de algo sem ao menos saber o porquê, apenas por ter sido ensinado daquela forma, acha que aquilo é concreto e absoluto. Era isso a ignorância.

Sentado ali à mesa na companhia de meus pais, ouvia rasamente eles comentarem sobre algumas ações das pessoas, resolvi finalmente parar de viajar por meus pensamentos e ouvir efetivamente o que tanto comentavam.

Eles falavam da prima Aidan, que se assumira recentemente lésbica e trouxera desgosto eterno para a nossa família altamente tradicional e preservadora. Aquele assunto me interessava eminentemente. Queria conhecer a opinião direta dos meus pais sobre o assunto. Mesmo já sabendo ao certo, tinha no fundo dentro de mim, que eles poderiam ser mas humanos e tentar entender tudo isso, sem condená-la antes mesmo de uma análise.

Como esperado, eles a julgaram antes mesmo de analisar os prós e o contras. Por mais que segundo eles fosse o que a Bíblia disse, que era errado, mas no fim das contas ainda havia uma pessoa ali que deveria estar sofrendo pela opressão da sociedade e que por mais que vivesse de uma forma descomunal para os normativos, mas ainda era um ser humano com sentimentos, uma vida, uma alma.

Continuei escutando tudo o que eles tinham a declarar sobre a Aidan. Éramos primos distantes, eu não a conhecia, mas podia sentir a dor dela em cada relato declarado por meus pais. Eu era capaz de me por no lugar dela e sentir como se fosse a mim. Podia imaginar o sofrimento dela como algo que eu nunca passara ainda. Ainda.

O Diabo na minha JanelaOnde histórias criam vida. Descubra agora