Capítulo 20 - Cheiro de enxofre, o diabo vem aí

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Acordei inquieto.

Embora eu soubesse que tinha dormido, não senti como se tivesse. Minha cabeça estava pesada e aquela sono gostoso que damos quando estamos cansados não aconteceu. Minha mente estivera ativa o tempo todo e quanto eu supostamente descansava. Meu corpo podia ter repousado, mas a minha mente não, por isso sentia o cansaço instalado.

Levantei sem que ninguém precisasse ter me chamado e ao ver a hora, não tive pressa. Tinha acordado bem cedo, portanto poderia fazer tudo com bastante calma que funcionaria. Tudo estava quieto em casa e eu tinha certeza que meus pais ainda não haviam se levantado. Fiquei por algum tempo sentado em minha cama com a mente perdida no espaço sideral.

Aquele sonho havia me perturbado bastante, não só ele, como a situação que eu passara na noite anterior que me fazia temer todo o resto. Por mais que eu soubesse que não iria adiantar de nada perder meu sono por um problema que a solução não dependia de mim, eu não conseguia afastar o receio desabrochando-se dentro de mim. Tudo de uma certa forma se juntava para me aterrorizar e me deixar cada vez mais apreensivo. Minha cabeça já não era mais um lugar seguro para mim. Tinha que me distrair dela ou ficaria cada vez mais perturbado.

Tomei um banho bem relaxado e tentei afastar toda a negatividade do meus corpo. Desviei a mente de pensamentos alucinantes e tentei ocupá-la com uma música, remoendo-a até não conseguir haver mais outra coisa em minha mente a não ser "Damons" de Imagine Dragons.

Saí do banho de toalha procurando minha roupa e a vestindo assim que encontrada. Uma calça jeans claro e uma camiseta vermelha com as iniciais "NY" de "New York". Vesti minhas meias brancas e meu par de tênis marrons. Pentei meus cabelos ondulados para ficarem no lugar quando enxugassem e escuto mamãe bater na porta. Eu estava pronto, então apenas saí do quarto e mamãe me fitou perplexa, não acreditando no que via. Ela batera na porta do quarto para que eu acordasse e se depara com seu filho, já pronto para ir à escola antes de qualquer coisa.

Naquele dia, tomo meu café da manhã com bastante calma. De manhã, meus pais não conversavam muito, já mamãe não se sentava à mesa conosco. Papai comia primeiro para se arrumar e sair, já mamãe comia apenas depois que deixava tudo pronto. Mamãe sentava à mesa e papai minutos depois levantava-se e saía para se arrumar para trabalhar.

Eu comia e fitava meus pais sem que eles percebessem me perguntando o que se passava na cabeça deles. Fitava mamãe coando o café, enquanto papai já saboreava as torradas recém saídas da torradeira, sem nada líquido para acompanhar. Mamãe se aproximou trazendo o café e colocando no centro da mesa para que todos pegassem, caso desejassem e também algumas xícaras, sentando-se em seguida.

Não sei à partir de que momento me deixei levar por aquele sentimento, mas melhor do que tentar adivinhar o que meus pais pensavam, era perguntar o que eles pensavam. Por mais que eu já conhecesse a opinião deles e soubesse que eles não achavam, nem sequer desconfiavam sobre mim, eu queria saber mesmo assim sobre algo que eu ainda não sabia de fato. Será que eles colocariam seu filho para fora de casa apenas por ele ser gay?

― Mãe, pai ― chamei-os num tom um tanto inseguro e esperava que eles não tivessem notado isso.

Eles responderam me dando atenção imediatamente.

― O que vocês fariam se descobrissem que tem um filho gay? ― perguntei e logo me arrependi, querendo apagar aquela pergunta da cabeça deles, talvez eles começassem a desconfiar à partir dali mesmo. Rezei em silêncio para que nada acontecesse.

― Por que isso agora filho? ― meu pai cravou os olhos em mim olhando por cima dos óculos dele.

Queria me encolher e sumir dali, mas simplesmente não dava. Agora tinha que formular minha perguntava ou inventar alguma outra coisa para reparar isso.

O Diabo na minha JanelaOnde histórias criam vida. Descubra agora