o breve som do silêncio

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Os olhos escuros sob a máscara negra pararam sobre a figura ferida na cama.

Ela estava completamente submetida, cada poro do seu corpo exalava incerteza, e as orbes azuis expunham seu medo latente.

Os lábios ensaiavam movimentos mínimos, como se quisesse dizer alguma coisa mas, faltava-lhe força ou disposição.

De maneira impassível, Batman se inclinou ao lado do móvel, tirando uma seringa de dentro do cinto de utilidades e uma pequena ampola com um líquido esverdeado.

-Isso vai ajudar a cortar o efeito da droga, não se assuste- disse pegando o braço fino com cuidado, e aplicando a injeção ardida na veia arroxeada que saltava aos olhos pela pele clara.

Charlotte grunhiu sentindo a queimação se espalhar do local da perfuração, até se diluir na abertura do ombro para a clavícula.

O maxilar travou de maneira rude, expondo a dor latente, então sentiu um formigamento espalhar por si, como um milhão de pequenas agulhas espetando sua pele de uma vez, e pouco a pouco, deixou a sensação desconfortável tomar-lhe por inteiro, da cabeça aos pés, lentamente.

Respirando descompassada, moveu com certo esforço a ponta dos dedos, sob o olhar atento do cavaleiro, que puxou a ponta dos lençóis sobre a menina desnuda, a fim de cobrir suas intimidades.

-Vou chamar uma ambulância para você, ficarei aqui até que a levem- disse com a voz rouca pegando um aparelho celular em mãos.

-N-não...- balbuciou tentando levantar um dos braços em sua direção.

O cavaleiro de Gotham city estava ali. Ele poderia ajudá-la, tinha certeza disso, se alguém tinha condições de desbancar seu pai da chefia da máfia, esse alguém era o morcego, e assim ela poderia viver plenamente uma vida simples .

Mas não. Não era o suficiente.

Algo havia se quebrado dentro dela naquela tortura toda. Não sabia se era sua moral, razão, ingenuidade ou bondade, mas não havia espaço para um mundo em que aquilo tudo sairia impune ou somente mal cobrado.

Tinha certeza de que o homem a sua frente não faria nada a mais além de joga-la na cadeia, junto com Maison, e não era isso que ela queria.

Iria destruir célula por célula dos homens malditos de sua vida que a condenaram ao sofrimento. Não somente a ela, mas a ventas de outras tambem. Cada fio de cabelo daquele topete falso na cabeça de seu progenitor iria se ascender em chamas, e o mesmo valia para seu estuprador.

Seria o flagelo, a mão invisível dos condenados sob os pés firmes da injustiça. Não era sobre levar a cabo algum dilema moral e social, era sobre saciar a vontade de vingança e dor.

Poderia mata-los, juntar dinheiro o suficiente para uma vida confortável depois de tudo, e aí sim entregar a polícia e ao cavaleiro das trevas toda história, de como foi refém de coringa e nunca havia aberto a boca por puro medo de retaliação, afinal, ela sabia bem que o palhaço tinha contatos dentro da polícia.

Era isso.

Usaria de seu contato com o mafioso maquiado para garantir o futuro destroçado de seus algozes, e então, choraria em frente aos holofotes e aos cidadãos de bem da comunidade para ser reconhecida como a boa vítima que era.

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