O MILAGRE DA VIDA

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     Tatão bloqueava o atacante do time adversário enquanto Mason roubava a bola dando um longo passe para Toninho que concluiu a jogada com um belo gol no ângulo.

As mulheres sentadas à beira do campo torciam freneticamente, inclusive Joana Frienbach com seu barrigão.

Apesar da noite de inverno, a temperatura estava amena, o campinho society de futebol era bem iluminado, o time do bairro, apesar do belo gol de Toninho, perdia de dois a um para o time do bairro vizinho. Michele e Vanessa do salão de beleza estavam ao lado de Joana enquanto torciam pelos maridos. Vanessa era a mais empolgada das três, já que seu esposo tinha marcado o gol para o time da casa. Cristina, filha do seu Zé da padaria era a mais comedida das torcedoras, ela lia um livro despreocupadamente quando levantou os olhos para reparar na algazarra ao lado percebeu algo diferente em Joana, imediatamente ela fechou o livro e se aproximou da amiga grávida.

- Algum problema Joana?

- Eu acho que está chegando a hora! - Joana disse respirando fundo.

Com a proximidade de Cristina, e a pergunta feita por ela, as atenções das mulheres foram desviadas da partida de futebol para Joana.

- Eu acho que a tua bolsa rompeu amiga! - exclamou Vanessa.

Michele quase levou uma bolada na cabeça quando entrou no campo correndo em direção a Fred que estava apitando o jogo, cochichou algo no ouvido do esposo que interrompeu a partida imediatamente, correu para próximo de Mason e transmitiu o recado para o amigo que instintivamente largou a bola que estava segurando, saindo em disparada para a companhia da mulher. Os outros jogadores ficaram sem entender o que estava acontecendo.

Ao se aproximar, Mason observou a mancha amniótica da bolsa fetal escorrendo por entre as pernas da esposa. Por mais que a doutora Shirley de Freitas Rossetti os tivessem preparados psicologicamente para esse momento sublime, na prática era aterrorizante, até mesmo paralisador. Joana segurou o rosto de Mason que estava agachado em frente dela com as duas mãos e o tranquilizou.

- Calma meu amor, vai buscar o carro - falou olhando-o nos olhos. - Pede pro Fred ligar pra doutora Shirley, tá bom? - Ele assentiu como se acordasse do transe. Chamou Fred explicando a situação e saiu em disparada para à casa que ficava na rua da frente para pegar o carro.

- Não esquece de pegar a bolsa do bebê - ela o admoestou enquanto ele corria.

- Tá ok amor - gritou.

Uma cascata de emoções inundou seu ser a caminho de casa, ele vibrava dando urros. Beijava o rosto das pessoas efusivamente, não importava se era homens ou mulheres, sempre bradando: - "Meu filho vai nascer"!!! Muitos se assustavam com a atitude dele, porém a maioria, que já o conhecia, compreendeu que a esposa estava prestes a dar a luz.

Em menos de cinco minutos Mason parou o carro em frente ao portão principal do campo society.

O coaxar dos sapos no córrego ao lado era abafado pelo barulho dos jogadores saindo da sauna diretamente para o bar ao lado, muitos amigos gritavam o nome de Mason, levantando os copos de bebidas, brindando ele, parabenizando-o pelo momento feliz.

Fred já tinha contatado a médica.

Joana pediu que Michele a acompanhasse até a maternidade.

Mason abriu a porta do carro, colocou sua esposa cuidadosamente no banco do carona, embarcou Michele no banco traseiro do veículo e saiu a toda cantando pneu.

- Querido, vai mais devagar, estamos indo pro hospital pra colocar mais uma vida no mundo, e não pra tirar quatro em um acidente. - Joana falou na segunda curva que ele fez abruptamente, cantando os quatros pneus do carro.

LÁGRIMAS de SANGUEOnde histórias criam vida. Descubra agora