O ÚLTIMO ADEUS

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     A capela mortuária do cemitério municipal Arcanjo São Miguel estava toda adornada com várias espécies de flores, crisântemos, rosas brancas, copo de leite, margaridas, lírios, distribuídas pelo salão dando vida ao lugar que predominava a cor preta das vestimentas das pessoas presentes.

Mason estava impecável num terno preto alugado, pois as únicas roupas pretas que ele tinha eram camisas de banda de rock. Usava óculos escuros para disfarçar os olhos vermelhos e inchados. Apesar da elegância era visível a apatia dele, seus ombros caídos denunciava seu cansaço. Sua mãe, que permanecia ao lado dele o tempo todo, usava um vestido preto longo, e um chapéu de abas grandes.

O estacionamento do cemitério estava lotado, até a rua da frente estava repleta de carros, a turma do bairro tinha fretado um ônibus para levar os moradores para acompanhar o velório. Mason nem imaginava que eles tinham tantos conhecidos assim. O pessoal do bairro estava em peso presente no enterro, desde o Zé da padaria e sua filha, até o Ricardo do quiosque. Tatão, Toninho, Vanessa do salão, César do bar, enfim, todos foram lá para dar o último adeus a Joana.

No dia anterior ao velório ele ligou para várias pessoas avisando o horário do enterro, ligou inclusive para Catarina Ebner, que mesmo sem conhecer Joana fez questão de comparecer, ela estava nos fundos do salão da capela com sua exuberante elegância. Catarina se aproximou de Mason, deu os pêsames a ele e voltou para os fundos da sala. Dr. Carlos e a Dra. Shirley também faziam parte das pessoas que estavam ali para dar condolências ao viúvo acompanhados por Fred e Michele.

Ouvia-se apenas alguns murmúrios, as pessoas falavam baixinho em respeito a família. O silêncio taciturno só era quebrado quando alguns filhos dos conhecidos passavam correndo indiferentes ao que estava acontecendo, mesmo que os pais tentassem controlar a brincadeira das crianças era difícil acalmar os ânimos deles.

Odores das flores, formol e salgadinhos que estavam dispostos em uma grande mesa acompanhada de jarras de suco para ser servido ao pessoal se misturavam dentro do salão. Aquele velório não tinha saído nada barato, mesmo com a ajuda dos amigos que fizeram uma "vaquinha" para arrecadar dinheiro para ajudá-lo, ele teve que vender as pressas seu carro por uma ninharia para arcar com as despesas, não somente do enterro, como também dos exames de David.

O dia estava particularmente sombrio, com nuvens cinzas e uma garoa que umedecia o ar. Não se ouvia os pássaros cantando, muito menos o sol tinha mostrado seu resplendor durante o dia todo, parecia que a natureza estava de luto também.

Joana jazia num caixão de cerejeira. A maquiadora da funerária tinha feito um ótimo trabalho, apesar dos tufos de algodão nas narinas ela estava linda, a expressão da face dela transmitia serenidade, estava tão linda quanto no dia em que tinham se casado no cartório.

Joana não queria saber de casamento religioso, depois que o pai abandonou a família ela nunca mais havia posto os pés em uma igreja. Ela segurava um pequeno buquê de rosas vermelhas quando saiu do táxi e entrou no cartório, a família do casal foram os únicos que presenciaram o casamento no civil. Os padrinhos de Joana tinham sido sua irmã e o Patrick, ex namorado de Janaina. Já os padrinhos de Mason foram sua mãe e o irmão do meio de Joana, Jair Barbosa. A foto que tiraram na saída do cartório estava num porta retrato sempre em cima da mesa de centro da sala da casa deles, ela com um vestido branco com franjas na manga e uma tiara de flores no cabelo encaracolados dela, seus dentes brancos e perfeitos brilhava num sorriso majestoso saindo por detrás de seus lábios finos e sensuais. Ele usava uma gravata cinza sobre uma camisa branca, e um blazer preto, calça jeans e sapatos pretos. Seu sorriso estava resplandecente também, a única diferença é que em vez de dentes perfeitos ele exibia dentes acavalados.

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