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Sem desconfiar da vermelhidão em sua face, Júnior manteve sua melhor expressão de seriedade enquanto caminhava até a sala da parceira. O celular preso firmemente entre os dedos ensopava-se com o nervosismo.

De sua cadeira, Mirela o viu entrar pela porta com as bochechas avermelhadas. Ela sorriu. O ato só fez com que Júnior graduasse sua vermelhidão por testa, nariz e queixo, alargando ainda mais o sorriso da mulher.

— E como foi o papinho com a namoradinha? – disse, inclinando o corpo sobre a mesa.

— Ha! Ha! Ha! – disse, careteando sarcasmo.

A mulher sorriu ao passo que entrelaçava os dedos, usando os papéis como cama para as mãos.

— E o que ela disse?

Soares caminhou até o lado da mulher, atirando o celular sobre a mesa e tomando a garrafa de café para si. O líquido negro escorreu para a caneca serpenteando aroma e vapor até sua face. Com a mão livre voltada para trás do corpo, o homem encostou-se no armário de arquivos.

— Ela disse que já tem o nome da vítima – disse, levando a caneca a boca.

— Ué! – Sanches aprumou as costas. – Como eles conseguiram tão rápido?

— Os documentos tavam no bolso – disse, com um sorriso por trás do vapor.

— Hum! – Meneou a cabeça pensativa. – Então já devem ter conseguido alguns dados a mais.

— Uhum. Ela vai enviar no meu e-mail. – Sorriu. – E você não vai acreditar quem é a vitima.

— Quem?

— Mateus de Oliveira Alcantara...

Incrédula, a mulher levantou a sobrancelhas observando seu parceiro sorrir por trás do vapor de café. Ao longe podia-se ouvir as engrenagens nos confins da mente da mulher.

— Puta merda... – disse, levantando – Olha isso aqui.

A mulher caminhou até o arquivo, empurrando o homem ao chegar, que em protesto guardou silêncio. A mulher puxou com força demasiada a gaveta, que abriu em um deslizar desesperado. Os dedos correram urgentes pelas pastas, abduzindo o escolhido para si. A mulher abriu a pasta sobre a mesa apontando um mapa com a mão.

— Amanhã precisamos pegar a estrada.

O homem encarou o conhecido mapa, sem entender. Haviam quatro locais demarcados. Talvez sono e cansaço o estivessem impedindo de raciocinar, talvez sua miopia investigativa tivesse alcançado mais um grau.

— Não entendi porra nenhuma – disse, por fim.

Decepcionada, a mulher pendeu a cabeça produzindo um longo suspiro impaciente.

— Olhe as coordenadas, Júnior.

— Tô olhando – disse –, só não tô entendendo!

A mulher respirou novamente, levantando a face para o teto. Quando voltou, com um sorriso debochado no rosto, retirou uma caneta vermelha da mesa.

— Olha onde tão às coordenadas – disse, caminhando para um quadro atrás da própria mesa –. A que encontramos é esta aqui. – riscou o mapa esticado no quadro. – A equipe da Amanda, encontrou esse aqui. – riscou outro local. – Sobrou esse. – circulou um ponto entre o estado de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. – E esse. – fez novamente o circulo, batendo as costas da caneta sobre ele.

Soares encarou o todo, o primeiro e o segundo local já eram conhecidos por ele. Suas engrenagens começaram a trabalhar, aumentando a velocidade gradualmente. O terceiro lugar mostrado por Sanches ficava em um ponto de difícil acesso, provavelmente, além do problema de jurisdição, seria quase impossível encontrar um corpo naquela mata. E o último estava bem próximo ao departamento, talvez uma hora de carro.

UMA NOVA CHANCE - O Velho RyanOnde histórias criam vida. Descubra agora