III

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A campainha tocou exatamente as quatro da madrugada, Samuel terminava de acomodar os mantimentos na mochila. Com a boca cheia de rosquinha, caminhou até a porta e girou a maçaneta.

— Só falta terminar de guardar a comida.

— Tudo bem.

Ryan entrou na casa e caminhou até a cozinha.

— Você ainda guarda o whisky no mesmo lugar?

— Ryan, são quatro da manhã!

— Em algum lugar do mundo já são seis da tarde, sabia? A gente chama essa tecnologia de fuso horário.

Samuel fechou a porta novamente balançando a cabeça e rindo.

— Você não mudou nada, meu velho.

Ryan virou o tronco dando uma piscadela para o homem, se dirigiu até o armário e abriu as portas, pegou a garrafa de whisky, um copo e caminhou para o sofá.

— Te contei da minha nova criação? – disse, Ryan enquanto servia o whisky no copo

— Não.

— Então... Criei um negócio que você vai adorar.

— Sério? – disse, enquanto pegava outra rosquinha – O que foi?

— Assim que montarmos a barraca eu te mostro.

— Porra, cara. Porque você comenta se não vai falar?

— Porque a expectativa aumenta o prazer.

Ryan deu uma entonação extra no "pra" imitando um velho filme com Jim Carrey que ambos assistiram quando jovens.

— Você é foda, cara. – Riu, enquanto colocava a mochila nas costas – Vamos?

Ryan virou o resto da dose.

— Bóra!

Eles desceram os degraus da entrada. No meio do caminho, Samuel notou o carro estacionado na frente da garagem.

— Belo carro, guri!

Ryan sorriu. Samuel especulou o rosto do amigo.

— Onde conseguiu?

— Digamos que eu conheço um cara, que conhece o primo de alguém – disse, rindo.

— Cara... – Samuel, gargalhou. – Faz muito tempo que eu não rio tanto assim!

Ryan abriu o porta-malas e estendeu a mão para que Samuel lhe entregasse a mochila

— Nos damos esse luxo quando alguém nos inspira confiança, sabe? É tudo uma questão química.

O rosto de Ryan permaneceu rígido. Samuel sentiu os pelos da nuca eriçando, podia parecer loucura, mas tinha algo de errado com o amigo. De certo modo, ele parecia instável.

*****

Christini estava parada embaixo do chuveiro, deixando a água massagear a nuca. Ryan entra no box com um brilho no olhar que só irá adquirir daqui dois anos, ele ainda segura a camisa na mão direita, A mulher sente o temor do perigo. O sorriso desvairado e o peito nu condensando o ar quente do lugar. Ele avança num misto de fúria e ódio, ela o esbofeteia, esperneia, soca-lhe as costelas, mas nada parece surtir efeito. O homem está sedento, o rosto gira e volta ainda mais determinado. Ela é içada pelos braços e pressionada contra o azulejo úmido. Nos olhos do homem ela viu um verde profundo que nunca pertenceu ao louco, diferente do castanho cinzento que ela bem conhecia. Aqueles a sua frente eram seus olhos, braços, cabelos e insanidade. Ela sentiu a verdade entalar na garganta e sufocá-la. O monstro estava deixando de ser o Ryan.

UMA NOVA CHANCE - O Velho RyanOnde histórias criam vida. Descubra agora