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O homem correu até a sala da parceira, segurando um envelope pardo na mão. A satisfação refletida em seus olhos espantou Sanches quando ele entrou pela porta, os passos eram urgentes e o sorriso brilhava.

— Meu Deus! – disse, Mirela – Você voltou com a Amanda?

O homem desfez o sorriso em uma carranca de confusão.

— Quê?... Não! Qu'é isso Mirela? – disse.

— Ah... – Torceu a mandíbula. – Então por que essa cara?

— Eu consegui o mandato!

O homem levantou o envelope ao lado do rosto, retomando o sorriso exagerado.

— Quê? Como?

— Lembrei que o promotor me devia um favor... Eu meio que fotografei ele com a amante sem querer, mas isso é assunto pra outra hora.

— E pode crer que eu vou querer ficar por dentro desse assunto. – Arqueou as sobrancelhas em surpresa.

— Bom... Temos o mandato, agora falta deixar as provas no jeito e terminar o relatório, dessa vez vou precisar da sua ajuda!

— Péra, Júnior. – Levantou uma mão. – A gente não dorme faz horas, e vamos precisar avisar a polícia de Sorocaba pra podermos entrar na jurisdição deles.

O homem pareceu murchar.

— Podemos pelo menos adiantar o relatório e as provas?

— Claro – disse, puxando o celular do bolso, começando a digitar uma mensagem –, deixa só eu avisar meu filho que não vou pra casa hoje. A gente descansa um pouco e depois corre atrás dessa mulher a noite.

— Tá, eu vou ajeitando o que conseguir na minha sala.

O homem saiu pela porta batendo o envelope na lateral da perna, emanando felicidade e energia. Mirela esperou-o sair e franziu o cenho, algo dizia que aquilo não acabaria bem.

*****

Vinícius estava sentado no sofá, encarando os olhos azuis que o examinava.

— Droga – disse a loira –, vou precisar examinar você melhor.

— Mas isso é ruim? – perguntou, Luna.

— Ainda não sei, Luna. – A mulher alinhou a coluna, levando uma mão ao queixo. – Vou te levar para o consultório de um amigo meu.

— Por quê? – questionou, o menino.

— Ele tem o maquinário que eu preciso, vamos precisar de um encefalograma. Mas antes de irmos vou te dar um remédio. Acho que tenho uma caixa no carro, você consegue andar?

— Acho que sim.

— Tudo bem. – A mulher retirou um bloco de receitas do bolso do jaleco e escreveu algo no verso de uma das folhas. – Luna, este é o endereço – disse, estendendo o papel para a menina –, você pega os documentos com o Jorge e nos encontra lá?

— Sim, claro, mas que tipo de remédio você vai dar pra ele?

— Fenitoína. – Levantou o menino pelo braço. – Diminui as convulsões. É só por precaução, não se preocupe. – Ela dirigiu o olhar para o menino. – Vamos para o carro, macaquinho?

O garoto assentiu, observando os olhos nipônicos, preocupados, encarando-o. A médica saiu pela porta e Vinícius continuava olhando para Luna até que desapareceu, deixando-a sozinha na sala. Uma única lágrima escorreu pelo rosto de Luna, abrindo um buraco gigantesco de mau agouro em seu peito.

UMA NOVA CHANCE - O Velho RyanOnde histórias criam vida. Descubra agora