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De joelhos, Christini segurava a cabeça de Samuel. A arma estava atirada no chão ao lado do homem de peso elevado. Desesperada, Christini questionava o que havia acontecido, mas Samuel mal conseguia balbuciar.

— Ryan... – O homem cuspiu.

A mulher contraiu os lábios e se deixou sentar no chão, revelando duas pequenas manchas de terra nos joelhos, apoiou a cabeça do homem sobre a perna e fitou seus olhos. Eles estavam marejados, assustados. Ela notou a frouxidão nos membros do gordo. A palavra "Ryan" combinava com tudo o que via tão perfeitamente, que esta foi a única coisa que Samuel havia dito até então.

Samuel viu o rosto da mulher sobre ele, mas não sabia se a tratava como realidade ou alucinação. A mulher pôs o cabelo atrás da orelha, exatamente do jeito que sempre fez, ele arriscou acreditar.

Ficaram ali durante alguns minutos, até que o homem conseguisse balbuciar mais algumas informações.

— Ele me drogou...

— Fica calmo. – Christini afagou-lhe os cabelos – Consegue me contar mais?

Os olhos do homem fitaram os da mulher, e ela percebeu que os dedos da mão se movimentavam com esforço, num movimento quase espasmático. A boca do homem abriu e fechou duas vezes antes que ele falasse.

— Me trouxe até... – O homem forçou. – Aqui... Drogou... Matou... Jaque...

Embora as frases fossem ditas a esmo, Christini acreditou que havia compreendido algo importante. Seu algoz havia matado a esposa de Samuel, assim como torturou seu marido.

— Ele confessou isso para você?

Os olhos do homem transbordaram em lágrimas, sua boca produziu soluços contidos. Ela afagou novamente os cabelos do homem.

— Shhhhh... Vamos esperar isso passar, e depois a gente vai atrás daquele filho da puta. Agora, tenta descansar.

*****

Ryan estava encostado no balcão do Marduk pub com um caneco de cerveja de lado. Ele observava sua próxima vítima quando uma conhecida garota o abordou.

— Oi, amor, que belo visual, hein!

Ryan sorriu. A probabilidade de encontrá-la naquele exato momento era baixa, mas já que ela estava ali, as coisas se tornaram um bocado fáceis. Ele havia encontrado essa mulher há três anos trás, e desde então vinha mantendo-a próximo.

— Olá, Gabí! – disse, após um breve silêncio.

— Não sabia que você tinha voltado pro país.

— Não voltei, estou só de passagem. À negócios

A mulher sorriu

— Que interessante. Que tipo de negócios? – disse, mordendo o lábio.

Ryan gargalhou. A mulher sorriu fingindo desentendimento.

— Do tipo que não pode ser dito. – Ele se reclinou sobre o balcão. – Mas que pode render um bom dinheiro pra quem ajudar.

— Eu estou de folga hoje, amor – disse, com uma piscadela.

— É uma pena... Tava precisando justamente dos seus serviços...

— É mesmo? E quanto seria "um bom dinheiro"?

Ryan conseguiu sua atenção, ele sorriu de soslaio enquanto tirava uma caneta do bolso interno da jaqueta. Pegou um guardanapo e escreveu a quantia, depois deslizou o papel sobre o balcão até o campo de visão da mulher.

UMA NOVA CHANCE - O Velho RyanOnde histórias criam vida. Descubra agora