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Luna olhava fixamente para o cume do telhado de uma casinha rústica na rua 17. Havia um jovem de cabelos desgrenhados ali sentado, debruçado sobre um caderno. Luna e Cintia faziam o caminho de volta para casa, os braços de ambas estavam abarrotados de sacolas.

— Acho que você vai gostar do bairro. – disse, a menina a seu lado.

— Olha, também estou achando, Cintia.

Cintia olhou para a prima, sabia que a adaptação não seria fácil. Que ela estava mentindo. O amor que Cintia sentia por Luna era como de uma irmã, e se alguém no mundo poderia entender a real profundidade da palavra desgraça, essa pessoa era Luna. Não bastasse a morte prematura dos pais, agora Luna tinha que lidar com a morte dos avós que a criaram, mudar-se de cidade e viver com a tia excluída da família. Cintia, definitivamente, sabia que a prima não estava bem e até que admirava sua força, mas aquilo não poderia ser saudável.

Afastando os pensamentos, Cintia tentou buscar o foco dos olhos da prima, e avistou uma conhecida figura sobre o telhado. Quando voltou a cabeça para frente, a tempo de ver Luna tropeçando na própria perna, revirou os olhos em desgosto. Cintia sabia muito bem o que aquele olhar significava, e aquilo não a agradou em nada.

— E aquele menino? – Luna, apontava por cima do ombro.

— Se chama Vinicius. – disse, a prima – As vezes ele passa o dia todo sentado naquele telhado.

Luna voltou a fitar o garoto, que mantinha a posição curvada.

— Ele é bem bonitinho.

Cintia a encarou, inconformada. Talvez estivesse errada. Talvez sua prima estivesse bem melhor do que imaginava.

— Luna... Ele é esquizofrênico!

— Sério? – disse, abrindo a boca exageradamente – Me deixe ver melhor.

Ela parou no meio da rua e voltou a fitar o menino, desta vez sem forçar qualquer pudor. Mesmo sem encará-la, Vinicius pareceu notar, parando de mexer a mão sobre o caderno durante um tempo e voltando a rabiscar ainda mais depressa.

— Continua sendo lindo. – disse, recomeçando a andar.

Cintia não resistiu ao riso. Bateu com o ombro no da prima que também ria.

— Você não tem jeito! Não mexa com ele, é sério! – disse, ainda rindo – As vezes ele fica agressivo.

Luna continuou a observar o garoto enquanto se afastava. A posição não mudara nem um pouco, e ela só conseguia imaginar o mal que aquilo devia causar para a coluna. Imersa em sua fantasia adolescente, ela sorriu enquanto ajeitava as sacolas nos punhos.

— Ah, Cintia! Ele é tão fofo! – A menina afinou a voz.

— Ai Luna, você só me arranja pra cabeça! Sério, se você apanhar desse maluco, não quero ver choro depois.

Luna aparentou ter se irritado.

— Eu? Apanhar de macho? Até parece! – Concluiu com uma gargalhada sarcástica. – Mas por falar em macho... Como vai aquele gostosinho do Dimitri?

— Mandei pastar! Machista ridículo de merda!

— Sério? Ele tinha uma bunda tão linda...

— É... Nem me fale...

As primas escutaram o som de folhas sendo rasgadas ao longe. Quando olharam na direção do som, o menino já havia lançado as folhas ao vento. Luna pode ver uma passando por cima de sua cabeça.

— Mas que m... Cintia, ele sempre faz isso?

— Isso o que?

— Desenhar e jogar as folhas fora...

UMA NOVA CHANCE - O Velho RyanOnde histórias criam vida. Descubra agora