Pâmela encarava o gráfico na tela do computador enquanto o menino dormia no outro cômodo. Ele ficou agitado durante a curta viagem até a cidade vizinha e a médica optou por sedá-lo. A expressão dura da psiquiatra não deixou transparecer nenhuma informação útil para Luna que, preocupada, encarava-a estática, envolvendo o caderno do menino nos braços.
— Como ele tá Pâmela? – Jorge perguntou, encostado no batente da porta.
— Nada bem. – disse, entre dentes – Parece que o cérebro dele sofreu uma sobrecarga.
— Como assim? – Franziu o cenho em confusão.
Com o queixo trêmulo, a menina ainda fixava os olhos na loira, como se o velho ao seu lado não existisse.
— Você entende de elétrica?
O velho meneou a cabeça.
— Pense que você ligou um liquidificador cento e dez volts em uma tomada duzentos e vinte e apertou o botão de ligar. Quando percebeu a burrada, puxou a tomada. O cheiro de queimado é a sobrecarga.
O velho arregalou os olhos, virando a cabeça brevemente para Luna e logo voltando para a loira.
— Você quer dizer... – Olhou novamente para a garota. – Podemos conversar lá fora?
Pela primeira vez, a loira olhou a garota que estava abraçada a um caderno sem linhas e sorriu-lhe, simpática.
— Luna – disse –, você pode ficar um pouquinho com o Vinícius?
— Eu não sou mais criança, Pâmela, você pode me dizer também. – Retrucou ríspida.
A Mulher pousou a mão branca sobre o ombro da jovem asiática. A face exibindo um sorriso simpático exagerado. Luna achou que nunca conseguiria se acostumar com aquilo.
— Agora, acho que vai ser melhor se você ficar um pouquinho com o Víni... Vai fazer bem pra ele.
Relutante, encarando os profundos olhos azuis, a menina assentiu e virou-se em direção ao quarto. Jorge esperou até que a menina sumisse, fechando a porta e caminhou para fora com os braços cruzados à frente do peito, sem dizer nada. Pâmela o seguiu. Quando estavam ao ar livre, ele esperou que a loira começasse.
— Ele vai ter sorte se morrer, Jorge. – disse, vendo o homem desconfortável com a idéia, remexendo os braços – Não quero nem pensar em como ele vai ficar se sobreviver...
— Devemos avisar a mãe dele?
— Por enquanto não, Jorge. – Conferiu a porta. – A Mirela pode estragar muita coisa... Não que eu não confie nela, mas ela é mãe... Vai saber o que isso faz com as pessoas, e eu gastei recursos de mais com esse menino, pra arriscar que ela jogue tudo pro alto agora.
O homem meneou a cabeça, respirando fundo, horrorizado, sem entrar em acordo com a médica. Ele não era pago para aquilo e muito menos um assassino, mas não tinha saída a essa altura do campeonato. A esposa e o filho precisavam daquele dinheiro tanto quanto ele.
— E as despesas, Pâmela? O dono dessa clínica sabe do garoto?
— Não, ele não sabe... – Conferiu novamente a porta. – Acredita que ele é um parente meu... Não se preocupe com as despesas, eu vou custear tudo. Agora que o Ryan tá no Brasil, as coisas ficam mais fáceis.
— Certo – disse, inclinando a cabeça para a porta.
Luna estava em pé, encarando as duas pessoas que conversavam embaixo do sol quente. Ela viu um pavor contido nos olhos de Jorge. Com certeza, aquilo não poderia ser um bom sinal, mas a médica continuava com a mesma expressão empedrada em um sorriso simpático de mais.
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UMA NOVA CHANCE - O Velho Ryan
Детектив / ТриллерChristini não sabia quanto tempo o passado levaria para cobrar sua dívida, até o dia em que acordou acorrentada àquela cadeira. Ryan, um velho amante, à sequestrou, e agora usava todas suas lembranças contra ela, em um desesperador jogo de tortura...