Coberta por um estranho torpor, a enfermeira retirava o acesso do braço do garoto, enquanto Pâmela buscava um lençol na cômoda ao lado. A loira caminhou até o corpo sobre a cama, segurando o lençol na frente do umbigo. Com pesar a pequena enfermeira estendeu polegar, indicador e médio até os olhos do garoto, fechando-lhe os olhos, e voltou à cabeça para a médica, meneando-a. A médica estendeu o lençol branco sobre o corpo de Vinícius, deixando que a fiação dos eletrodos se projetasse para fora.
Quando a porta se abriu, a pequena nipônica viu os olhos sérios de Pâmela a encararem e um curto balançar negativo, que movimentou o coque mal preso no topo de sua cabeça. Luna escancarou novamente a boca, mas nenhum som saiu dali. Jorge apertou o abraço, direcionando o olhar a enfermeira que surgiu por trás da médica. Ela inclinou a cabeça apertando os lábios em uma fina linha, produzindo um longo suspiro.
— Eu sinto muito... – disse, Pâmela – Eu tentei tudo que tava ao meu alcance.
Conformando-se, Jorge meneou a cabeça, mesmo com a pulga que lhe mordia atrás da orelha.
— Precisamos achar a mãe dele – disse, Jorge.
— Eu vou tentar entrar em contato com a Mirela – disse, Pâmela, forçando as lágrimas a empoçarem seus olhos –, mas se eu não a achar, prometo que cubro as despesas com... – Interrompeu-se, mordendo o lábio num choro teatral. – Com o enterro. – Esfregou o rosto. – Isso é tudo que posso fazer por ele, agora.
— Tudo bem, Pâmela. Obrigado. – O velho forçou um sorriso.
— Pâmela... – disse, Hilda. – O menino me pediu pra te entregar isso, antes de... – Interrompeu-se, encarando os olhos azuis da médica.
Hilda estava com as três folhas estendidas para a psiquiatra. A médica as pegou em silêncio, correndo os olhos pela letra de Vinícius, antes de dobrá-las duas vezes e a guardar no bolso do jaleco.
— Obrigado, Hilda – disse. – Sei que não é um bom momento, mas preciso tentar encontrar a Mirela... – Suspirou – E dar a notícia. Com licença.
A loira caminhou para a porta de saída e desapareceu sem olhar para trás. Luna ainda estava presa no abraço do velho. Os olhos esbugalhados formavam uma cobertura para os lábios trêmulos que eram banhados pelo sal das lágrimas.
— Luna – disse, Hilda, caminhando para a escrivaninha da recepção. – Ele me pediu para te entregar isso.
Enquanto a enfermeira abria a gaveta da escrivaninha, Luna desvencilhou-se dos braços do homem e, com certa dificuldade, se pôs em pé. A mulher lhe estendeu um caderno já conhecido, olhando-a com pesar. Luna tomou o caderno nas mãos e o abraçou como se aquela fosse sua última chance de dizer adeus. A enfermeira passou as mãos no rosto da menina que já passara sua altura.
— Eu sinto muito, querida... – Deixou mais lágrimas escaparem... – Sinto muito mesmo...
Jorge observou a cena, mas procurou ignorá-la. Pâmela havia ido longe demais e aquele caderno não deveria significar muita coisa, só o caderno de um menino moribundo que por algum motivo, evitara entregá-lo para a médica. Poderia parecer suspeito, mas ele se recusou a continuar com aquilo, não queria mais um assassinato em sua consciência. Pelo menos era isso o que pensava.
— Obrigada, Moça – disse, Luna.
Com olhos ternos, Hilda encarou novamente os olhos da garota.
— De nada, querida. Eu preciso ficar aqui por causa da burocracia médica. – Arrancou três folhas do caderno da recepção. – Você pode jogar isso no lixo da rua, por favor?
— Claro – disse, confusa. – Mas por que na rua?
Luna viu a enfermeira dar de ombros.
— Ele também pediu isso.
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UMA NOVA CHANCE - O Velho Ryan
Mystery / ThrillerChristini não sabia quanto tempo o passado levaria para cobrar sua dívida, até o dia em que acordou acorrentada àquela cadeira. Ryan, um velho amante, à sequestrou, e agora usava todas suas lembranças contra ela, em um desesperador jogo de tortura...