Beleza estrangeira

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Matthews pensou mais de uma vez antes de entrar na sala. Ficou encarando a maçaneta, com seus pensamentos longe perdidos em possíveis situações desagradáveis. O incômodo no peito, as lembranças dolorosas e seus pesadelos não o deixavam em paz. Depois de muito discutir com Karoline sobre as sessões em psicólogos, ele tomou coragem para encarar essa realidade. Matt percebeu finalmente que estava doente e precisava de ajuda, mas por mais que quisesse se curar temia ser chamado de fraco, temia ser alvo de piadas e motivo de zombaria. Pensou em desistir assim que encostou na maçaneta. Alguém abriu a porta antes que ele pudesse ter qualquer outra atitude.

Um rapaz um pouco mais jovem que Matt, de cabelos desgrenhados e olhos vermelhos, saiu da sala sem nem ao menos olhar para o tenente, tampouco bateu continência, mas Matt não se incomodou, pelo estado do rapaz ele deveria estar muito debilitado emocionalmente. Dificilmente se vê jovens soldados chorando ou reclamando de alguma coisa emocional, geralmente quem passava a chorar eram os mais velhos de casa, aqueles que tinha visto tantas, coisas ruins que parecia que o mundo não era mais bom o bastante para se viver.

Matt percebeu que talvez ele estivesse chorando, ou quem sabe apenas cansado. Não era incomum aquele olhar quando se passava horas sem dormir.

O jovem caminhou pelo corredor até desaparecer de vista. Matt fechou os olhos e respirou fundo. Abriu a porta devagar e se posicionou a frente da mesa de Joana.

— Oi, Matt. — falou ela de forma gentil. — Faz tempo que eu não te vejo. Andou me evitando desde aquele dia.

— Eu sei, eu não estava me sentindo bem.

— Está melhor agora? — falou ela pensativa. — E no que eu posso te ajudar?

— Eu quero falar um pouco mais sobre aquele dia, quero que me diga se sou um cretino e mereço uma punição, porque eu as vezes penso que sim.

— Matt, eu não estou aqui para julgar você, somente para lhe ajudar. A não ser que tenha cometido algum crime, se for esse o caso tenho que reportar ao seu superior. — Ela ficou séria olhando para ele e sua reação não mudou desde que colocou os pés em sua sala. — Está pronto?

— Estou.

— Então senta. — falou Joana direcionando o local onde o rapaz poderia se sentar. — Vamos começar, me conte, somente se você estiver sentindo que deve, sobre Beatriz e seus pesadelos.

Matthews se sentou na cadeira mais confortável que tinha, ela era inclinável e ele poderia controlar a melhor posição que lhe fizesse se sentir bem, respirou fundo, fechou novamente os olhos e tornou a dar uma respirada mais profunda. Voltou a abrir os olhos e começou a dizer as palavras que jamais pensou que conseguiria.

— Eu matei a minha namorada. — A mulher não esboçou nenhuma reação, somente balançou a cabeça positivamente devagar.

— Continue.

Ele não sabia ao certo o que estava fazendo, mas só queria que aquela dor desaparecesse independente do que aconteceria depois. Se lembrou de momentos que deixou guardado há muito tempo em seu peito, os momentos felizes que compartilhou com seus amigos e com a mulher que tanto amou.

— Beatriz foi a primeira pessoa por quem eu me apaixonei de verdade. Acho que ainda não deixei de amar. Eu a conheci na escola no primeiro ano do colegial, começamos a namorar meses depois, a convidei para ir ao baile de inverno comigo e lá a pedi em namoro. Ela tinha vindo da Angola, era natural de lá, sua mãe era britânica nascida. Ela era filha de um empreendedor, o pai dela queria expandir os negócios da família pela Europa e estava ali para tornar tudo possível. Alguns meses antes de nos formar, ela morreu...

A Perfeita Arte de Ser MulherOnde histórias criam vida. Descubra agora