Há muito tempo não se sentia bem. Passou o dia na companhia do pai, cantou, bebeu, comeu e riu de suas bobeiras. Naquelas férias resolveu ficar em casa, não tinha nenhum lugar para onde queria visitar, não tinha com quem viajar. E todo esse tempo ocioso também não era de grande ajuda para seu ânimo.
Passou alguns dias com a família, até parecia que seus problemas haviam terminado rápido, assim, como um passe de mágica, não havia nada no mundo que não o alegrasse mais quanto ver todos unidos. Bryan contava aos familiares como estava sendo seu curso de direito na Alemanha e de como conheceu a nova namorada. Uma garota alemã de família humilde. Ele ainda não a levou para apresentar a família, esperava que seu romance se tornasse mais forte e sério a ponto de todos a conhecê-la.
Ao cair da noite, Carter voltou para sua isolada e vazia casa, de paredes frias e ambiente sombrio.
O problema não era a casa. Carter estava mais uma vez diante de seu mundo infeliz, lembrando e pensando no seu passado, e tudo o que havia acontecido com ele desde aquele momento.
Não conseguia pensar em nada que pudesse mudar sua vida desastrada, seu passado destruiu seu futuro, seu sofrimento e arrependimentos o impedia de seguir em frente. Quantas coisas poderia ter feito, nem conseguia imaginar o rumo que ficaria se tivesse feitos outras escolhas.
O telefone tocou insistente por um tempo, até Carter decidir atender. Falou em uma voz vazia e sem vida.
— Alô.
— Oi, querido, como está indo? — perguntou uma voz feminina do outro lado.
— Estou bem. Eu passei no médico como você queria. Acho que me ajudou um pouco, troquei os remédios e conversamos sobre muita coisa. — Seu tom de voz mudou de um vazio para um pouco de vergonha.
— Isso é bom, muito bom mesmo. Você vai conseguir, meu amor. Só queremos que melhore, estamos com você. Sabe disso, não sabe?
— Sim, eu sei. Obrigado.
— Vou deixar você descansar. Me ligue se precisar de alguma coisa.
— Ok. — Sua voz voltou a morrer. — Boa noite.
— Boa noite, querido. — A mulher desligou o telefone colocando no gancho, o rosto abatido de preocupação. Seu filho não era o mesmo há muito tempo, e não conseguia ajudá-lo.
Carter respirou fundo e olhou ao seu redor. A casa estava em completo silêncio, sentou-se no sofá e ligou a TV, trocou alguns canais e parou em um que passava um filme de romance. Não seria sua primeira escolha, mas o desânimo batia tão forte que não sentia vontade de fazer mais nada.
Ele não via muitos resultados nas sessões que estava passando com o psiquiatra, se sentia pressionado e desconfortável com a abordagem do profissional, mas queria melhorar e ser feliz novamente. Estava se esforçando ao máximo, mas parecia que seus esforços se esvaem quando entrava em sua casa e encarava sua realidade.
Começou a pensar como chegou àquele ponto. Lembrou do sorriso de uma criança pequena ao ver os últimos vídeos em família, uma mulher linda e feliz, sua infância foi ótima até sua adolescência, quando o seu mundo estava mudando, quando seu corpo não era mais o mesmo, não sabia mais o que tinha acontecido de diferente. Até seus amigos estavam diferentes com ele, seus pais estavam diferentes, ele estava diferente e o mundo começou a ficar cada vez mais cinza até sobrar apenas o vazio. Não sabe exatamente por que mentiu para Diana, ele não tinha filhos, nunca teve. Era um sonho antigo que agora não existia mais. Talvez ele tenha realmente matado, matado sua vontade de ser pai, de ter família, de viver. Tentou de alguma forma focar nos estudos, mas dificilmente isso o alegrava, seu corpo se movia sozinho como um robô, tudo no modo automático, aquela vida não era dele, não queria que fosse.
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A Perfeita Arte de Ser Mulher
RomanceUma garota criada sob a proteção de seus avós, parte para estudar fora de seu país a fim de garantir um futuro melhor, porém descobre que o mundo tem muitas tentações, estilos e sabores para ser experimentados e sua juventude pronta para ser explora...