Jamile

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Matthews ainda remoía o passado. Sentado no escuro com as fotos espalhadas pela mesa. Como aquelas fotos foram parar em suas mãos. Era um mistério, mas não impossível que tivesse alguém mal intencionado. Era difícil imaginar que alguém fosse querer machucar Jamile depois de todo aquele tempo, ou quem sabe apenas para magoar Diana, o que não seria impossível a julgar por fotos mais recentes. Sua ex não era uma ameaça para os inimigos de Devi, nunca foi.

Raj Devi era um homem poderoso, se levar em consideração apenas o seu poder financeiro, mas o homem não era muito esperto. Isso Matt concluiu quando o conheceu ao trocar algumas conversas. Provocava seus inimigos, sorria para tudo e para todos, mesmo tendo a cabeça a prêmio, nunca seguia as recomendações de segurança. Até parecia que não temia a morte.

Resolveu ligar para a mulher apenas para conferir se tudo estava bem.

A ligação chamou algumas vezes e logo caiu na caixa postal. Pela hora, era óbvio que já estivesse dormindo.

Depositou o aparelho em cima da mesa e continuou a pensar em seu passado. No quanto ele ainda a admirava e suas lembranças continuaram a fluir. Queria ficar bravo com Diana por lhe fazer se lembrar novamente de Jamile, mas sabia que a culpa era toda sua, por não ter sido sincero desde o início, por ter escondido seu antigo relacionamento. Ele sabia que seu passado não poderia ser apagado e deveria superar, mas era difícil demais e não entendia o porquê.

***

E aquele sorriso tão acolhedor, da mulher mais gentil que conheceu em sua vida. Jamile era de uma beleza extraordinária. Cabelos e olhos negros, pele num tom oliva e rosto de boneca. Ela vestia um sari de tecido caro, vermelho e dourado. Um traje tradicional de sua terra natal. Uma longa peça de pano, amarrada na cintura com uma das pontas longas jogadas sobre o ombro.

A aeronave era barulhenta, à medida que a altitude aumentava o som ficava cada vez mais suportável. As costas doíam, o assento era desconfortável, se pegou pensando em como aqueles homens e mulheres aguentavam ficar horas sentados daquele jeito. Jamile começava a apresentar incomodo, olhando ao redor todas as mulheres em seus mundos particulares. E ela cada vez mais agoniada. Suas tentativas de conversar com a soldado, Wood, ao seu lado foram frustradas. A mulher que parecia ser bem mais jovem estava focada em seu walkman, cantarolando quase inaudível as músicas que Jamile não conseguia identificar. Os demais soldados estavam longe o bastante para não ser possível qualquer conversa, a não ser que quisesse incomodar os demais com gritos. O que restava apenas o seu marido, que para sua infelicidade dormia com a cabeça recostada na lateral estofada do assento.

A rota até a Índia foi trocada por diversas vezes, aeronaves possivelmente inimigas os estariam seguindo, portanto, para uma melhor segurança traçavam rotas alternativas, sem ao menos consultar o homem contratante.

— Confio em seu trabalho, capitão. Fique à vontade para fazer o que for possível para manter a mim e minha querida esposa em segurança. — disse o homem antes de partirem.

Em uma hora particular a aeronave começou a balançar de forma estranha. As turbulências são comuns em todo tipo de voo e aeronaves. Elas ocorrem devido à mudança repentina de temperatura, na velocidade ou na pressão do ar.

O problema, é que a aeronave chacoalhava tanto que impossibilitou que seus passageiros continuassem com seus cochilos tranquilos. De início, até parecia apenas uma simples turbulência, mas ela estava durando mais do que o esperado.

A mulher que não tinha nenhum costume agarrou no braço do marido que acordou no susto. A lataria começou a perder altitude de forma drástica e um pânico se instalou. Wessex se soltou do cinto e de forma desajeitada caminhou até a cabine do piloto. Sempre se agarrando e se esgueirando pelas paredes tentando manter seu corpo em equilíbrio. Em alguns momentos sentia o baque de seus ossos bater contra o chão e paredes. A pressão do ar querendo o esmagar, era difícil se manter firme diante daquelas chacoalhadas. O som do dispositivo de alerta da aeronave soou alto quando a porta se abriu. O piloto e copiloto tentava manter a situação sob controle.

A Perfeita Arte de Ser MulherOnde histórias criam vida. Descubra agora