- O que é que está acontecendo aqui? Ninguém escutou a porcaria do sinal? Eu fiquei esperando por horas! Escutei gritos ao longe, mas não podia deixar de lado o que estava observando para prestar atenção no lado de cá. Inclusive, fiquei apreensivo em voltar e ter acontecido alguma coisa grave!
Ducan estava um pouco alterado quando voltou, ao amanhecer, e Theo não o reprimiu. Com todo o caos durante a noite causado pela partida brusca de Jean e Tannis, ninguém ao menos se lembrou que Ducan tinha saído para explorar. Haviam combinado um sinal: o rapaz levara com ele um apito de metal que emitia um barulho fino, porém discreto o suficiente para não atrair atenções indesejadas. Nenhum membro do grupo ouvira o sinal dado por ele. A culpa recaiu sobre todos. O que haviam feito nas últimas horas senão remoer os acontecimentos recentes e cochilar numa vigília inquieta?
- Cara, foi mal... aconteceram umas coisas por aqui, sim. - Tristan começou a explicar. - Vê? Algumas pessoas foram embora.
Diante da expressão perplexa do amigo ao receber a notícia, Theo interrompeu:
- Nós vamos te explicar, Duc. Porém, se você deu o sinal, é porque viu alguma coisa. Por favor, nos atualize. Isso é mais importante.
- Ok, mas eu quero saber sobre Jean e Tannis depois. Sim, eu já percebi que eles são os faltosos e já posso imaginar o que houve - Ducan suspirou - Vejam bem, eu avistei dois carros do governo passarem logo por aqui. Nós estávamos MUITO perto. Com certeza perdemos o rastro a essa altura. Não consegui avistar por qual trilha eles passaram, mas posso apostar que foi pela principal, que é mais larga e rápida. Eles não usariam a outra a menos que acontecesse algo, mas não percebi nenhuma movimentação diferente por lá. Acho realmente que vale a pena sairmos daqui. Agora.
Theo ponderou um pouco. Já estava sem esperança de que Jean e Tannis retornariam. Na verdade, tinha certeza de que o rapaz não voltaria, e se a irmã se dispora a correr atrás dele apesar dos pesares, provavelmente não voltaria também. Estavam ali há tanto tempo e, aparentemente, perderam uma boa pista dos acontecimentos por puro descuido. Sim, era realmente hora de se mexer.
- Arrumem suas coisas, apaguem o rastro do acampamento. Vamos seguir o caminho que Ducan indicar. Temos de ser cautelosos, porque ainda somos muitos, e podemos chamar a atenção. Está cheio de patrulhas por aqui. Quanto mais adentrarmos pela floresta, mais longe de casa ficaremos, mais perto da Central chegaremos e mais expostos a perigos estaremos. De acordo?
Todos fizeram que sim e começaram o trabalho. Não demorou muito e seguiam em fila indiana. Ducan guiava, Theo vinha atrás, seguido pela curandeira Lena, Sage e Tristan, todos com sacolas e mochilas amarradas às costas. O sol começava a ficar alto, mas não os atingia com muita força porque as árvores ajudavam a escondê-lo. Porém, a fadiga e o calor começavam a incomodar.
Não tardaram a chegar no ponto em que Ducan tinha observado a movimentação. Viram marcas de roda de carro na terra e logo dirigiram-se para o rumo da estrada principal. Caminharam um tanto considerável, sempre à espreita, esgueirando-se pelas árvores para não ficarem muito expostos, até que, em determinado momento, Lena, a curandeira, ficou para trás.
- Garotos... - disse ela - Acho que temos um problema.
Theo voltou, preocupado.
- O que foi, Lena? Não se sente bem? Viu alguma coisa?
- Na verdade, eu não vi. E nem vocês. Ou vão dizer que, examinando o chão, estão vendo alguma marca de rodas? Não, meus garotos. Não estamos prestando atenção no que estamos fazendo e estamos cometendo muitos erros. Claramente, eles não seguiram essa rota. É só olhar para o chão.
Todos entreolharam-se e examinaram a trilha. Ela estava certa. A decepção e cansaço deixou Theo, Ducan, Sage e Tristan totalmente abatidos. Lena tentou soar otimista. Ainda daria tempo de voltar e pegar a segunda estrada. Não seria nada. Tinham que tentar.
Resolveram voltar e fazer uma pausa pequena para comer e beber água. Theo determinou que não seria adequado acampar, pois já estavam atrasados demais e qualquer parada longa faria o desânimo tomar conta do humor de todo mundo. Esconderam-se sob algumas árvores mais baixas e folhudas e, quando começaram a comer, ouviram um trotar de cavalo ao longe.
O coração de Theo disparou. Guardas? Não, não poderia ser, senão escutariam um barulho mais alto; ouviriam mais trotadas. Aquele ali era de um único cavalo mesmo. Ordenou que todos se escondessem em cima das árvores e ficassem em silêncio. O som já estava próximo. Se realmente fosse uma pessoa solitária, poderiam cercá-la e tentar obter informações, ou mesmo recrutá-la. Quem, naqueles dias conturbados, se arriscaria a cavalgar assim, a céu aberto, por aquela região? Certamente não alguém ignorante sobre onde estava se metendo.
Logo, um vulto encapuzado aproximou-se. O cavalo era bonito e bem cuidado, com a pelagem amarronzada e muito brilhante. Theo deduziu que não era um mero camponês. A capa escura cobria o rosto e todo o corpo, e era impossível estipular o tipo físico da pessoa, apesar de não parecer ser alguém muito alto. O condutor do cavalo diminuiu o passo e deu uma olhada ao redor. Provavelmente percebeu que não estava sozinho, ou que ali havia algo para ser observado.
Theo não perdeu tempo e atirou-se em cima do vulto. O cavalo, assustado, escoiceou e relinchou, facilitando o desequilíbrio de seu dono e a mira de Theo. Foi uma queda dolorosa, mas o que surpreendeu o rapaz, na verdade, não foi a dor que sentiu ao cair em cima da pessoa de mal jeito, e sim o fato de que o grito que saiu da boca dela, era de uma mulher.
O grupo, com armas em punho, preparado para qualquer ordem, já encontrava-se ao redor de Theo, que prendia a mulher pelos pulsos no chão. Apesar de estar assustada, com a respiração descontrolada e suor na testa, era bonita, com os olhos claros, a pele clara e os cabelos pretos. Theo apiedou-se e afrouxou a pressão nos pulso dela, mas não o suficiente para que ela tentasse se debater ou se soltar. Viu Lena conter e acalmar o cavalo e finalmente falou:
- Quem é você? Por que está aqui? Obviamente, você não faz ideia de que não deveria andar assim, a esmo, não é? Uma sorte não ter sido pega por algum guarda.
Ela não respondeu; limitou-se a mexer a cabeça e tentar visualizar o que estava acontecendo em volta, tentando estudar o que era possível a respeito dos membros do grupo.
- Quem é você? Qual é o seu nome? - Theo insistiu. O coração dela ainda estava acelerado, ele sentia as batidas próximas ao dele, que também estava repleto de adrenalina. Ela continuou sem responder.
- Podemos ficar assim o dia inteiro até você falar. Tenho certeza de que nunca vou me cansar de olhar para você.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Crônicas da Nova Era - A Busca
FantasyLIVRO 1. Artur levava uma vida tranquila em uma vila sem nome até o desaparecimento de seu pai. Quando pensa em obter respostas para o acontecimento, acaba sendo levado até elas de forma inesperada e descobrindo algo muito maior por trás do que real...