Capítulo 11 - Artur

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Poeira e pedras. Assim era a situação atual do que há pouco tempo ainda era o esconderijo do R.Q.N.C3. Artur, estirado no chão, ergueu um pouco a cabeça para observar o lugar. Aproveitou para cuspir um pouco de terra e afastar alguns escombros que cairam sobre seu corpo. Aparentemente não tinha quebrado nada.

O céu azul estava obscurecido por um pó negro. Era um pouco difícil de enxergar e Artur teve medo de se levantar. Mas, na situação atual, de que adiantaria ficar ali estirado? Espiou, primeiramente sem falar nada, os arredores. Nada nem ninguém se mexia. Ele ficou nervoso, mas ergueu-se com dificuldade, ficando de pé.

Começou a caminhar. 

- Alguém? - perguntou em voz baixa. - ALGUÉM ESTÁ... VIVO? - dessa vez falou mais alto.

Ouviu um barulho atrás dele e pegou um pedaço de pau do chão e respirou fundo. Ao se virar, percebeu uma quantidade grande de poeira e pedras quebradas se mexendo. Artur ergueu sua arma improvisada, preparado para qualquer coisa. 

- Pensou que ia se livrar de mim assim tão fácil, Art?

Era Makai. Sujo, até seus dentes estavam pretos, mas o sorriso, ah!, esse não saía de seu rosto assim tão fácil. Artur jogou o pedaço de pau no chão e correu para ajudá-lo a se levantar, sorrindo um pouco também, aliviado. Percebeu que Makai ainda carregava, preso à cintura, seu facão, e então sentiu-se também mais seguro. Recomeçaram a andar, procurando as outras pessoas, mas era difícil enxergar, e ninguém respondia aos chamados.

Artur viu, porém, um pedaço de tênis velho não muito longe. 

- Anele! - exclamou.

Ele e Makai correram até o local, tropeçando e escorregando nos montes de pedras. Abaixaram-se, começaram a tirar as pedras de cima dela, e, enfim, encontraram seu corpo. Makai sentiu o pulso da garota, e acenou afirmativamente para Artur. Ela estava bem, tirando o enorme corte cheio de sangue em sua testa. Artur ajudou o amigo a colocar a garota nos ombros. Continuaram caminhando, agora com um pouco mais de dificuldade. 

De repente, Artur sentiu algo agarrar seu tornozelo. O puxão foi forte e ele acabou caindo de joelhos.

- AI! - gritou. Makai parou de caminhar e olhou para ele, alarmado. 

- Façam menos barulho. - disse uma voz conhecida ao pé do seu ouvido. Mas, no pânico, ele não a reconheceu.

Uma mão suja tampou sua boca. Impulsivamente, Artur a mordeu com força, sentindo gosto de sujeira e carvão. Olhou para Makai, que por acaso estava já com a expressão suavizada.

- Merda! - era a voz de Lucas, que estava em um estado tão péssimo quanto os outros, de joelhos ali, segurando a mão mordida. Makai soltou uma risada alta, mas Artur estava cansado dessa vez. Voltou-se para o líder, com raiva. 

- O que você acha que está fazendo? O que, hein? Primeiro, você me arrasta de um lado para o outro só porque sua turma me encontrou. Depois, fica irritado comigo porque eu simplesmente não estou preparado para essa vida. EU NEM QUERIA ESTAR AQUI! EU QUERO A MINHA MÃE! E O MEU PAI! E você é um idiota. Acha que pode mandar em todo mundo e que está certo. Olha só o que aconteceu. Tudo o que você construiu foi destruído! Cadê os outros? Não tem ninguém aqui mais. NINGUÉM. Você foi traído, não vê? Eu sim. Agora, ME DEIXA EM PAZ. 

Sem perceber, o garoto estava chorando. As lágrimas lavavam seu rosto encarvoado, deixando filetes de pele clara à mostra. Lucas continuou ali, ajoelhado, sem emitir sequer um som, ainda com a mão enrolada na camiseta. O sorriso sumira do rosto de Makai. Ele agora segurava Anele nos braços, como um bebê. Ela gemeu, e o som tirou todos daquele torpor. Lucas levantou-se e correu até os dois amigos, chamando pela menina. 

Artur apenas observou a cena por alguns instantes e deu as costas. Aproveitou a distração para caminhar a passos rápidos e silenciosos para bem longe dali.

*

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