Capítulo 13 - Meridan

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- O colaborador aguarda do lado de fora, senhor.

O funcionário estúpido de Viktor Thiegan bateu na porta da sala do governador para fazer o anúncio. Meridan ainda não tinha se dado ao trabalho de descobrir o nome dele. Agora, ocupava a sala que tinha sido de Thiegan, pelo menos até a chegada de Lorna em Cefurbo. Começou a tomar gosto pela sensação de poder, mas também ansiava sair dos holofotes e continuar seu trabalho discretamente.

- Mande-o entrar. - respondeu.

Um rapaz alto, de cabelos pretos, barba mal cuidada e olhos azuis entrou na sala. Estava mal ajambrado, mas carregava uma expressão orgulhosa no rosto e tinha uma postura de superioridade. Meridan estava mesmo esperando por ele. Quando a porta se fechou e o funcionário saiu da sala, ele perguntou:

- Hiam, não é mesmo? O traidor dos rebeldes. - O rapaz se encolheu um pouco quando a palavra "traidor" foi mencionada, mas não perdeu a pose. - Estou sabendo que seu objetivo foi concluído.

- Sim, senhor. - respondeu ele.

- E que você veio reclamar a sua recompensa, certo?

- Sim, senhor.

- Você por acaso sabe, Hiam, o que aconteceu depois que você colocou nosso plano em execução?

- Não, senhor. Mas acredito que tudo correu bem. Afinal, o esconderijo desmoronou. Todos devem ter sido soterrados. Mortos. Era essa a proposta inicial, senhor.

Meridan levantou-se de sua cadeira, com a mão nos bolsos da calça, e rodeou a grande mesa que um dia pertencera a Viktor Thiegan. Ainda estava repleta de papéis e documentos, canetas e maços de cigarro. Ele recostou-se nela, de modo a ficar exatamente cara a cara com Hiam. Abriu um sorriso cínico.

- E se eu disser que o plano não foi bem executado em sua totalidade?

Hiam pareceu surpreso e finalmente abaixou um pouco a cabeça. Meridan pode ver o pomo de adão do rapaz subir e descer, os olhos piscaram de maneira nervosa. Ele não disse nada.

- Eu recebi um relatório antes de você chegar aqui - prosseguiu Meridan - e consta que, no esconderijo, tínhamos o total de dezessete pessoas. E que, dessas, apenas oito foram mortas no desabamento. O que você tem a me dizer sobre isso?

Hiam finalmente perdeu as estribeiras e emendou uma explicação enorme e desconfortável sobre tudo, gesticulando bastante; o suor surgindo nas têmporas.

- Eu... não sei, senhor. Eu fiz exatamente o que me mandaram, só isso. O senhor sabe, fui capturado por seus guardas e acabei contando de onde vim. Morrer era uma opção, mas preferi colaborar. Fiz o que pude. Conversei com seu chefe de guarda. Eu tinha certeza de que a estrutura do esconderijo era pesada o suficiente para aniquilar todo mundo. Não acho que a culpa tenha sido inteiramente minha se algo deu errado e...

- Pare. - Meridan interrompeu Hiam bruscamente. - Você era o responsável pela missão. Não me importo com o que foi combinado entre você e meu chefe de guarda. Você falhou. Seis pessoas sobreviventes atacaram nosso séquito de guardas causando uma grande comoção. Não mataram nenhum, é óbvio, e foram todos abatidos. Mas isso foi o suficiente para que perdessem de vista outras dessas pessoas, sendo que uma delas, era o seu antigo líder. Lucas Benson, era o nome dele, não é mesmo? Uma figura bastante conhecida na Central. A única pessoa que realmente deveria estar morta, se pararmos para analisar. VOCÊ FALHOU. - tomou cuidado em cuspir as últimas palavras no rosto de Hiam. 

O rapaz se encolheu. Meridan quase podia escutar as batidas desenfreadas do coração dele, as mãos agora tremiam, inclusive, e ele sentiu-se satisfeito. Nada como dominar as emoções de alguém. 

- Você agora, Hiam, é uma peça fora desse grande tabuleiro. 

Meridan moveu-se rapidamente. Tirando as mãos do bolso, avançou para Hiam que, nervoso, foi pego de surpresa. Tentou reagir, mas Meridan foi mais rápido e fincou-lhe no pescoço uma seringa com agulha afiada, e que possuía um líquido transparente dentro. Hiam desabou no chão, os membros congelados em uma dor fria, sem mover sequer um músculo. Meridan riu e pisou na bochecha do corpo inútil caído no piso frio. Viu que ele só conseguia mexer os olhos, e que estavam tomados por lágrimas. Jogou a seringa no chão.

- Eu não vou te matar, garoto, por um motivo. Ainda acredito que você possa lembrar-se de algo interessante que nos ajude a encontrar o tal Lucas Benson. Você vai ficar numa cela, isolado, sem comida e sem água, até nos fornecer alguma coisa importante. Não me venha com historinhas mal contadas ou coisas que já sabemos. Fale sobre dados sólidos. Vou deixar você pensar um pouco até amanhã. Senão, talvez mais uma semana seja suficiente para você colocar os pensamentos em ordem antes de morrer. GUARDAS!

Um grupo de três guardas uniformizados entrou na sala por uma porta lateral. Ergueram o corpo de Hiam e saíram por onde entraram, marchando em passos firmes. Meridan sentou-se novamente, sentia-se irritado, mas também satisfeito por ter conseguido proporcionar um pouco de dor a alguém para alivar seus próprios sentimentos. Apertou uma campainha vermelha em um canto a mesa e, depois de um apito estridente, o funcionário de Thiegan apareceu novamente na porta principal da sala.

- Como estão os preparativos para ir buscar Lorna Thiegan? - perguntou, bruscamente. Fez uma anotação mental a respeito de procurar alguém mais determinado, esperto e forte para cumprir a função desse idiota.

- Está tudo pronto, senhor. A comitiva encontra-se localizada no pátio inferior, no portão esquerdo. Aguardam as suas orientações para darem partida. O chefe de guarda ausentou-se da Central momentaneamente e veio acompanhar tudo, conforme suas orientações. Ele também aguarda lá embaixo. Já recebemos a notificação de Vernon Gobert indicando a melhor acessibilidade para chegar ao local onde ele e a senhorita Lorna Thiegan encontram-se.

- Perfeito. Vá preparar um lugar no carro principal para mim, agora. 

- Desculpe? - o funcionário pareceu confuso. - O senhor também vai? Vai deixar a sede do governo ausente?

- Primeiro, - respondeu Meridan, furioso - nunca mais questione uma ordem minha. Segundo, eu não lhe devo satisfações. Terceiro, vá fazer o que estou mandando. Já!

O homem não respondeu, simplesmente acenou com a cabeça como em um pedido de desculpas e saiu quase correndo da sala. Era só o que faltava! Meridan sentiu-se quase impotente ao ser interrogado por alguém tão insignificante. Mas logo recuperou-se. Afinal, precisava manter-se sempre no controle. 

Isso, pensou, seria fácil. Era só o começo.

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