Fuga

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Por vezes, Oscar se sentia contemplado pelo amor de Will. Era como ganhar um tesouro secreto, o qual teria que manter em segredo! -Havia muitos ladrões no mundo. Meditou e deu um sorriso de primavera .
Todo dia acordava às 4h30 da manhã. Às 5h30, ja estava pronto, o ônibus escolar passava às 6h00 da manhã em ponto: tal rotina se repetia de segunda à sexta-feira. A escola ficava a 7 quilômetros de distância do distrito onde morava. Exausto, por dormir tarde e acordar cedo, no entanto valia a pena, pois estava a falar com Will. Aquele sentimento era tão real quanto os ossos dos gados mortos de fome e sede no quintal: aquilo o fazia tremer.A escola de tempo integral era além de ficar longe do longe pai alcoólatra e das piadas de seus irmãos mais velhos. Ali existia paz, embora vez ou outra houvesse piadinhas desagradáveis. A biblioteca era o templo da paz. Sozinho alí com os livros e Miriam, sua melhor amiga e bibliotecária, sua confidente.

Por muitas vezes, queria gritar, dizer a Miriam que descobrira o amor, que precisava de ajuda pra lidar com aquilo que era ruim e bom, que lhe tomava o corpo e corava a face . Não, era segredo, secreto, ninguém entenderia, não queria mais ser censurado.
-Querido, venha aqui um instante.
Chamou Miriam.
- Oi, Tia Miriam!
Disse a seco.
-Tenho notado, Oscar, que você esta tão aéreo, a sorrir,aposto que está apaixonado.
Corou, aquilo que soava de maneira tão maternal de Miriam o fez ter um pavor como se, sem palavra alguma, ela o houvesse revelado por completo. Logo, três minutos depois, respondeu trêmulo.
-Não, Tia Miriam,é porque sou um bobo mesmo.
Ao dizer isso, logo fugiu dali antes da próxima pergunta, por nao saber da próxima resposta. Todos sabem, gritou em silêncio, - E agora?
Não, não, não, sou um bobo e voltou à sala de aula. Como sempre pensava no que Will estaria fazendo naquele exato momento: o que estaria bebendo?Comendo? Se estava só ou com alguém. Aquilo durava até chegar em casa e correr para conversar com ele.
Hoje faz três meses de namoro. Havia feito uma carta para falar por áudio: a carta descrevia seu amor, sua fidelidade, a devoção ao corpo de Will e sua total entrega cega, surda, muda, de braços e pernas amputadas.

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